sábado, 31 de outubro de 2015

Paixão é para adolescentes?

Uma vez alguém disse que o rock era para jovens, porque o discurso libertário adolescente não condiz com marmanjos de 30 ou mais.
Faz sentido.
Aos 30 ou mais muita gente já formou família, teve filho, naturalmente fica mais difícil sair por aí levantando bandeiras revolucionárias.
Como na citação, "Aos 20 você é incendiário, aos 40, bombeiro".
Na verdade os impulsos juvenis já se extinguiram, então normal que as bandas de rock fiquem vivendo do passado.
E que fãs do rock continuem ouvindo por saudosismo, ou porque chegaram à meia idade e precisam reviver os anos dourados de suas vidas.
O ponto de discussão aqui é se arroubos de juventude fazem sentido em outras fases de vida.
Porque independente da idade, as pessoas continuam a se apaixonar por pessoas, projetos, idéias, causas.
Mas agora já sabem que a paixão não será eterna e nem levará ao êxtase esperado, coisa que aprenderam com as desilusões da vida.
Pode então a paixão ainda invocar o melhor de nós?
A vontade genuína de mudar e nos transformar?
Ou será que, já escolados pela experiência, começamos a desenhar a queda do castelo de cartas antes de começar a construí-lo?
Pode ser.
É de se supor que a ignorância saudável dos jovens os impulsione ao acerto.
São mais flexíveis aos erros, porque a vida ainda não lhes endureceu a articulações mentais.
E a transposição dos riscos é que fazem qualquer projetos passar a arrebentação, fazendo analogia o surf, um esporte que depende da capacidade de "levar caldo".
Então a capacidade de um quarentão de fazer uma mudança de rota substancial depende de uma couraça psicológica proveniente de uma forte personalidade, tenha ela uma origem atávica ou desenvolvida durante a vida.
Arriscar-se a um novo projeto depois dos 40 exige muita força de propósito, onde a paixão deve alimentar a disciplina redobrada a esss altura da vida.
A paixão deverá mover os apaixonados, neste caso o diletante e seu sonho, em direção a um final feliz.
Para talvez começar tudo de novo, num eterno ciclo de construção e destruição que não é nada senão a metáfora da existência.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Novo modelo de modelo

A vida, e mais precisamente o mercado, se retroalimenta de modismos.
Ainda que um modismo por definição não passe de um passado revisitado e remodelado, sempre tendemos a acreditar que dessa vez a "tendência" traz algo de inovador.
Vintage, hipster, dê o nome que preferir, a "nova onda" é velha como qualquer termo que a tente definir.
O que mais me irrita nesses modismos são os termos criados para referenciar uma nova visão sobre um assunto, que logo caem em desuso para dar lugar ao próximo.
É o caso dos recentes "holístico" e "orgãnico".
Ou o menos recente "visceral".
Você pode formar uma frase inteira com esses termos e não querer dizer nada de especial com ela.
Por exemplo, o "a interpretação do ator foi visceral baseado numa temática com DNA orgânico".
Pronto, a pessoa fica inteligente só de abrir a boca.
Mas o problema não é gente vivendo de abobrinha pseudo-intelectual - reuniões em corporação duram mais por isso.
É perder a capacidade de separar o substancial do oco.
Pior que isso, é adquirir essa capacidade.
Pois somos cada vez mais expostos a conteúdo raso, barato, disfarçado por esse léxico pseudo sofisticado.
Mas não digo que o que vale a pena ser apreendido passe apenas pelo avaliação do crivo da lógico.
Nas artes, por exemplo, há o fator emocional que igualmente permeia a distinção do que enobrece a alma.
Em alguns casos as manifestações artísticas podem se distinguir pela carga emocional que despertam, ainda que não sejam totalmente compreendidas.
O critério do que é bom passa pela peneira bi-partida de razão e emoção.
Obviamente não dá para desconsidar o que os críticos já disseram sobre a obra.
Se ela é considerada uma obra-prima, se já entrou para os anais de qualquer escola artística, isso acaba influenciando nossa avaliacão leiga.
Enfim, não estou defendendo que só devemos considerar o que consagrado, em detrimento de novos conteúdos, sejam quais forem as roupagens de que eles estiverem revestidos.
Apenas que esse avalie sempre os modismos e seus arautos com a sombra da dúvida deixando ver seu conteúdo por baixo do brilhareco da novidade.