segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Novo modelo de modelo

A vida, e mais precisamente o mercado, se retroalimenta de modismos.
Ainda que um modismo por definição não passe de um passado revisitado e remodelado, sempre tendemos a acreditar que dessa vez a "tendência" traz algo de inovador.
Vintage, hipster, dê o nome que preferir, a "nova onda" é velha como qualquer termo que a tente definir.
O que mais me irrita nesses modismos são os termos criados para referenciar uma nova visão sobre um assunto, que logo caem em desuso para dar lugar ao próximo.
É o caso dos recentes "holístico" e "orgãnico".
Ou o menos recente "visceral".
Você pode formar uma frase inteira com esses termos e não querer dizer nada de especial com ela.
Por exemplo, o "a interpretação do ator foi visceral baseado numa temática com DNA orgânico".
Pronto, a pessoa fica inteligente só de abrir a boca.
Mas o problema não é gente vivendo de abobrinha pseudo-intelectual - reuniões em corporação duram mais por isso.
É perder a capacidade de separar o substancial do oco.
Pior que isso, é adquirir essa capacidade.
Pois somos cada vez mais expostos a conteúdo raso, barato, disfarçado por esse léxico pseudo sofisticado.
Mas não digo que o que vale a pena ser apreendido passe apenas pelo avaliação do crivo da lógico.
Nas artes, por exemplo, há o fator emocional que igualmente permeia a distinção do que enobrece a alma.
Em alguns casos as manifestações artísticas podem se distinguir pela carga emocional que despertam, ainda que não sejam totalmente compreendidas.
O critério do que é bom passa pela peneira bi-partida de razão e emoção.
Obviamente não dá para desconsidar o que os críticos já disseram sobre a obra.
Se ela é considerada uma obra-prima, se já entrou para os anais de qualquer escola artística, isso acaba influenciando nossa avaliacão leiga.
Enfim, não estou defendendo que só devemos considerar o que consagrado, em detrimento de novos conteúdos, sejam quais forem as roupagens de que eles estiverem revestidos.
Apenas que esse avalie sempre os modismos e seus arautos com a sombra da dúvida deixando ver seu conteúdo por baixo do brilhareco da novidade.


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