Já reparou que todas as pessoas com, digamos, um pouco mais da meia-idade, se parecem?
Não me refiro ao proliferar de cabelos brancos e rugas, ou aos primeiros dentes falsos alugando seus espaços na boca.
É do temperamento que falo.
Existe um lugar comum entre pessoas de uma certa faixa etária, compreendida entre o final da juventude e o começo da velhice.
Esse lugar é o do desalento pelo fim dos anos dourados e o porvir das dificuldades físicas.
É quando sentimos que o terreno fértil de sonhos de antes se torna relutante em brotar novas idéias.
Tudo passa a ter um gostinho de releitura de vida, de flashback de filme obscuro.
A verdade é que se fica mais exigente, fica mais difícil encontrar algo que faça jus ao surrado termo reinvenção.
Com a idade, algumas características de personalidade como auto-crítica e inflexibilidade, tomam um caminho irreversível de crescimento.
É necessário um esforço de auto-ilusão para se continuar ambicioso.
Além de alcançar uma alta auto-estima, capaz de fazer a pessoa se apaixonar de novo por si mesma, por esse novo ser que é uma soma dos seus novos projetos.
Então, que tipo de personalidade seria capaz de fazer jus à expressão "a vida começa aos 40?".
Seria aquele tipo otimista por natureza, desde que se conhece por gente?
É bem provável, porque se na meia-idade se inicia a decrepitude física, e nessa se inclui a atrofia da confiança, então somente alguém capaz de encontrar dentro de si o elixir da juventude poderia empreender uma mudança drástica de trajetória.
Chamar de crise de meia-idade me parece uma simplificação.
Não se trata apenas do desalento com os seus fracassos, mas também com o enfado com a mecanização da vida.
Você quer se apaixonar por uma projeção em alta definição de si mesmo, encarar sua verdade de peito aberto e sair de cara lavada na tela da vida.
Isso é mais do que lutar pela sobrevivência.
É querer se agarrar desesperadamente à ponta do cipó que o destino faz passar na sua cara, sem saber quantas chances ainda se oferecerão.
Não é uma promessa do sucesso que não se alcançou.
É a possibilidade de um êxito pessoal onde você é o principal membro da comissão julgadora, o único capaz de dar a chancela pela qual se esperou a vida inteira.
Por isso quero escrever e dirigir.
Não é uma homenagem à vida.
É só coerência comigo.
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