Se você ler "zona" não como região e sim como a gíria que se refere a bagunça, verá que zona de conforto a princípio pode ser lida como uma contradição.
Zona versus conforto, desordem versus ordem, e assim por diante.
Mas também pode ter a interpretação inspirada de "bagunça feita de acomodação".
E se você pensar bem, a acomodação gera, sim, uma bagunça mental.
À medida que não damos a atenção devida à nossa, desculpe a expressão gasta, voz interior, a tendência é adiarmos nossas questões fundamentais.
Profissionais, amorosas, familiares e principalmente, os ideais.
Os ideais, aquilo que todo jovem tem na ponta de língua e dentro do coração, mas que os "adultos" deixam cair e se perder no vão do sofá da acomodação.
Lembra quando você jurou seguir seu coração e só abraçar as causas que falavam direto a ele?
Cadê as viagens sonhadas, a morada na praia, a ONG para ajudar crianças e bichos?
Ao que parece, não passaram de projetos juvenis que foram espremidos como espinhas dos rostos corados e que deixaram marcas que nenhuma plástica consegue esconder.
Na tenra idade os ideais se instalam no seu corpo como sementes com promessa de frutos suculentos.
Mas a rotina aos poucos inibe seu florescimento.
E o ideal acaba como um inseto no âmbar, contendo o DNA precioso que se demorar para voltar à vida, pode voltar como um dinossauro inadaptável à nova atmosfera do futuro.
Mas o corpo não se cansa de avisar.
Com todos os tipos de mensagens possíveis.
Eles ecoam nos meandros que inteligam coração e mente.
E você se entorpece de todas as formas para não ouví-los.
Com álcool, drogas, sexo, videogame, comida.
Mas uma vida sem propósito é uma promissória com juros em progressão geométrica.
E a dívida consigo mesmo é sempre a mais pesada, não importa quantos zeros tenha.
Esquecemos que ela tem uma data de vencimento que é o da própria vida.
Portanto, desligue o celular.
Procure o canto mais quieto da casa, um onde o sinal da conexão consigo mesmo pode ser mais forte que o wifi.
Sente-se e se escute.
Esse exercício, se praticado com a devida disciplina e com um pouco de sorte, pode promover uma faxina interna reveladora.
Remove o carpete solto debaixo do qual você varreu décadas - se você tiver mais de 40 - de lixo mental.
Impossibilidades, impotência, frustrações, mágoas, decepções.
Tudo arrastado para fora para no final trazer à tona o seu verdadeiro chão.
E esse chão não precisará de polimento, pois não possui qualquer revestimento.
É um piso de cimento duro e frio, e ao mesmo tempo reconfortante, porque verdadeiro.
É dali que você vai se reerguer.
Mas não pense em zona de conforto.
Pense que a vida é uma zona mesmo.
E que o conforto vem de se habituar às suas oscilações.
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