quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O interior

Sou do interior, nos dois sentidos.
No sentido geográfico, sou de Bauru, interior de São Paulo.
Já nos cinco sentidos do ser humano, sou interiorizado pela introspecção.
Viajar para minha cidade natal me é caro tanto quanto percorrer os meandros da minha mente e do meu coração.
Sei que quando decido fazer a viagem ao interior, ainda que curta e não planejada, é sempre uma oportunidade de trazer de volta uma bagagem nova.
Em Bauru reencontro minhas raízes, o calorão abafado de sempre, que deixa os livros e as memórias emboloradas.
A parte nova da cidade brota da antiga, como se a velha fosse o esterco de uma modernidade daninha que se alastra sem pedir licença.
A gente quer preservar a infância das peladas nas ruas, mas há tempos ela foi driblada e humilhada pelas jogadas de playstation.
Ou a beleza das praças de coreto, que resistem às novas camadas de tinta que não fazem distinção entre roupagem nova e preservação.
É que o novo dita o ritmo da evolução - ou será involução - da espécie, aqui em Bauru ou em Nova Iorque.
Por outro lado, uma viagem ao interior de si mesmo pode ser a mais perigosa das epopéias.
É uma viagem sem destino, solitária, onde não se sabe o que vai encontrar: se os campos verdejantes da esperança ou o abismo dos arrependimentos e frustrações - provavelmente, os dois.
Mas ela se faz necessária, principalmente quando percebemos que pegar um avião por uns 20 dias para o mais paradisíaco dos destinos não irá trazer a renovação que você precisa.
A viagem ao interior pode ser longa, demorar estadias sem fim dentro de si mesmo.
E só sabemos que ela chegou ao fim quando, às vezes sem se dar conta, percebemos que desembarcamos em alguma plataforma nova pela primeira vez, embora você esteja voltando à sua velha e própria vida.
A viagem ao interior exige paciência, curiosidade, capacidade de frustração e, acima de tudo, a grande ambição de viver a sua verdade.

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