Suponha que você tenha entre 35 e 45 anos, seja casado(a) e forme uma família de comercial de margarina.
Que seja bem sucedido e admirado em sua profissão, tenha boa aparência, amigos zelosos, bens e uma vida financeira confortável, e que o caminho que dará prosseguimento ao seu sucesso esteja asfaltado com aquela perfeição de rodovia privatizada.
Isso é o ideal da grande maioria das pessoas que nascem sob a regência do capitalismo, onde o american way of life é a promessa da terra prometida.
Ideal alcançado por pouquíssimas pessoas na teoria e por nenhuma na prática.
Porque esse modelo de vida não passa de mais um produto exposto em prateleira, e que não entrega as benesses prometidas em sua embalagem.
Mas isso só se constata depois de abrir o pacote, experimentar o produto e verificar que seus defeitos não são corrigidos pela assistência técnica, já que são erros de projeto.
Ah, quem mandou acreditar em propaganda enganosa.
Mas não é porque seu modelo de vida adquirido não funciona como o combinado, que você vai dar bandeira de que fez a compra errada.
Afinal você é um ícone de sucesso, e mesmo que muitos já tenham dito que o êxito é resultado da teimosia, ninguém é louco de admitir que falhou tantas vezes.
Porque nunca foi tão imperioso manter as aparências como em tempos de redes sociais.
Um post que entregue seu ser frágil pode suscitar manisfestações de solidariedade, mas pode ser uma estocada doída numa auto-imagem até então irretocável.
Então melhor continuar a desfilar com seu brinquedinho de controle remoto que não obedece direito a seus comandos.
Esse é um brinquedo de que se enjoa rapidamente, mas que se pode substituir por uma versão mais nova na próxima data festiva.
Alguns apregoam que o certo é doar seu brinquedo, não ele inteiro, mas aquelas poucas peças que não te farão diferença, mas que dará um gostinho de quero mais aos felizardos.
Outros radicalmente se desfazem do brinquedo e fazem do sentimento de desapego o brinquedo novo, também exibido para os outros em vitrine.
Não importa.
A maneira como você vai encaixar ou desencaixar as peças da sua vida não o redimem da realidade de que você só aprendeu a montar Lego.
De que agora pode ser tarde para montar outras coisas, coisas que não fazem sentido para seus coleguinhas de diversão e que tampouco você tem certeza de fazerem nexo na sua cabeça.
Esse é o teatro automático da sua vida, de que você talvez não seja capaz de sair de cena.
Merda.
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