Imagens de terremoto não são belas.
Embora eu sempre queira enxergar um viés poético em qualquer aspecto da vida, fica difícil romantizar um fenômeno natural que acaba de vitimar mais de 400 pessoas no Equador, no sábado passado.
E que por reflexo também foi sentido no Japão, bem na região onde o meu irmão vive - graças a Deus ele está bem.
Mas a imagem do terremoto de Messina de 1908 que ilustra este post tem sim a sua beleza trágica.
Lembra a destruição em massa por uma bomba atômica, só que operada pela guerra de Deus com os homens.
Em poucos segundos, tudo o que o homem ergueu por necessidade de abrigo ou de afirmação de seu domínio no planeta, é colocado abaixo inapelavelmente, como uma castelo de cartas.
Mas eu não quero falar de tragédias.
Quero falar de construção.
A construção que sucede os terremotos internos por que passamos periodicamente.
Para alguns eles são imperceptíveis, com poucos graus na sua escala richter pessoal.
Para outros, é avassalador.
Depende da natureza humana.
Alguns passam por uma adolescência que é uma verdadeira tormenta.
Outros, deixam a adolescência passar ao largo deles.
Essas terremotos acontecem mais algumas vezes na vida, como alertas do deslocamento de nossas placas tectônicas.
Surgem no epicentro de nossas almas e sobem às camadas superficiais, com força suficiente ou não para acionar um alerta.
Na adolescência, quando os hormônios estão em livre erupção, os terremotos internos são sentidos, manisfestados e compreendidos.
Há mais espaço e até permissão para que eles aconteçam, arrasem e permitam o erguimento de uma nova pessoa.
Mas em outras fases da vida, ainda que se manifestando com menos vigor, até em função de idades mais avançadas, os terremotos internos são reprimidos, quando não ignorados pelas próprias pessoas que os engendram.
Ainda que com menos intensidade, eles são mais perigosos.
Eles tentam nos tirar de trilhos bem sedimentados, tentam desalinhar os alicerces enraizados de nossas vidas e nos deixar desabrigados de nós mesmos.
Sinal de que a matéria incandescente de nosso inconsciente está pressionando as camadas de cima, tentando derrubar os castelos de equívocos que erguemos.
Mas isso não significa que devemos fazer de seu alerta um motivo para pôr abaixo todas as nossas crenças.
Seria impossível e uma solução improvável.
Alguém disse que depois dos 40 anos somos mais bombeiros do que incendiários.
E é verdade.
O fogo da ingenuidade já foi abafado pela razão.
Já somos gatos escaldados pelo balde de água fria do destino.
Mas o bom observador irá perceber que ainda há focos de incêndio.
E que cabe a cada um alimentar seu fogo interno com a matéria prima que encontrar por aí.
É isso o que eu sinto.
Que eu não quero de deixar de alimentar meu desejo interno indefinidamente.
Se possível, com o combustível mais inflamável que encontrar.
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