Quando tudo está quieto e normal, é sinal de que ele está fazendo falta.
Quando você está fazendo sucesso e sua vida parece não ter onde tirar nem pôr, ele é que resolveu se omitir aguardando o momento em que os mais corajosos o invocarão para chacoalhar o status quo modorrento.
Quando caímos na letargia de sabermos de cor os próximos passos, de fazer da nossa vida uma cartilha decorada de trás pra frente, então é chegada a hora de invocá-lo.
Ele, o assombro.
O assombro que nos faz ver além da matéria, do concreto, do premeditado.
Que nos faz nos guiar por algo que não se define, que não é instinto nem energia, mas que é o único fluxo possível do ser que se deixa levar.
O assombro das palavras sem sequência lógica, que jorram dos dedos e que só tem a direção determinada pela lógica da organização da pauta.
O assombro dos sentimentos que enchem o coração de uma esperança besta por nada, porque não se tem objetivo ou meta, apenas o de deixar sentí-lo.
O assombro da flores que resolvem desabrochar sem preâmbulo, apenas para saudar os raios solares de manhã.
O assombro do encontro sorrateiro com quem não se esperava, nem que seja apenas pela troca furtiva de olhares não premeditados, e que deixam a promessa do que aquele encontro poderia ser.
O assombro do futuro, esse misterioso que não deixa nenhuma pista, exceto por aquelas que criamos dentro de nós mesmos, como uma premeditação do nosso destino.
O assombro que enlouquece por não se explicar e por determinar as coisas sem sentido, conduzindo vidas a um desatino cruel.
O assombro da vida, de estarmos juntos e ao mesmo tempo sós, vagando numa vida láctea imensamente assustadora e silenciosa, clamando por explicações que nossas mentes racionais se viciaram em pedir.
O assombro de perceber que o assombro não é explicável por nenhum sentimento, quanto mais por essas parcas palavras de resignação.
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