sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O homem-bomba de chocolate

Ele era um tipo diferente de terrorista.
Não advogava em causas políticas ou religiosas.
E nunca tinha matado ou intencionado matar alguém.
Apenas se autodenominava um estraga-prazeres, porque era isso que fazia: acabava com dietas.
O homem-bomba de chocolate era um perito em invadir spas, clinicas de endocrinologia ou lipoaspiração, academias, quaisquer desses lugares onde as pessoas vão recuperar ou manter sua auto-estima.
Invadia os locais bem naquele momento em que alguém perdia dois quilos de gordura ou terminava uma sessão de exercícios ensopado de suor.
Sua intenção era espalhar o terror, quebrar promessas de começo de ano, através de doses cavalares de serotonina coladas ao corpo em forma de bombons e barras de chocolate.
Sua simples aparição já provocava vítimas, pois quando pacientes de spa não caíam de boca no chocolate, acabavam afogados na própria saliva, tamanha a tentação do perfume endemoniado do cacau.
Assim como seu equivalente terrorista, todo homem-bomba de chocolate acaba por se suicidar, pois nessas incursões por spas ou clinicas de lipo, não raro recebe uma dentada faminta que acaba por perfurar algum órgão vital, quando não a própria jugular.
Estirado numa poça de sangue com chocolate, ele tem um final mais doce do que poderia imaginar em vida.
Um juízo final com direito a uma sobremesa que é o melhor dos manjares.
É simplesmente chocolate.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O olheiro cego

Alguns nascem pra jogar bola, outros para assistir.
E os que ficam no meio do caminho são os olheiros.
Os melhores olheiros não são os que descobrem os maiores jogadores.
Porque esses são mais óbvios de se reconhecer.
Olheiro de verdade é o que pinça aquela pedra preciosa em estado bruto, que se confunde com a enxurrada de pedregulhos em meio à aridez dos campos de várzea.
Eduardo era dos bons.
Tinha descoberto pencas de talentos que abasteceram tardes de domingo inteiras de futebol espetáculo.
E claro, encheram os bolsos de dirigentes inescrupulosos.
Mas poucos sabiam de sua extensa folha corrida no ramo.
Não lhe davam crédito, ao contrário, caçoavam de quem atribuía a Eduardo a descoberta das jóias.
Porque Eduardo tinha uma característica que a princípio o desqualificaria para a função: era cego.
Não de nascença.
Foi vítima de uma doença degenerativa já depois que exercia sua profissão e claro, deram sua carreira por encerrada.
Mas aconteceu o contrário, porque após a cegueira é que Eduardo decolou.
Até então seu highlight tinha sido a descoberta de um volante que chegou à seleção sub-20, mas que depois foi esquecido num clube de terceira divisão das arábias - o rapaz encerrou a carreira cedo e foi adotado por um sheik como pajem em seu palácio.
Não se sabe se a falta da visão acabou aguçando os outros sentidos, mas o fato é que Eduardo se tornou um olheiro de faro apuradíssimo.
Pela vibração do ar, pelo arfar do jogador ou até por um sexto sentido inexplicável, Eduardo passou a detectar a aura de craque só do candidato passar à sua frente.
Ao lado de um auxiliar de campo - cuja função seria dar uma "visão de jogo", mas que se mostrou inútil ao longo do tempo - Eduardo raramente errava em sua avaliação, em que era categórico sobre a qualidade do jogador.
Perna de pau, esforçado, bom jogador e por fim, craque, raramente ele errava.
Sua análise acabava suscitando dúvidas na concorrência, porque promessas rejeitadas por ele e adotadas pelos adversários acabavam dando em água, e muitas vezes levando os outros olheiros à bancarrota.
Tudo ocorria às mil maravilhas quando em uma consulta de rotina o médico detectou um milagroso sinal de melhora em sua retina, dando esperança a uma recuperação completa de sua visão.
Se o quadro de recuperação avançasse, bastaria uma cirurgia para restabelecer sua vista por completo.
O médico até estranhou que Eduardo não esboçasse ao menos um lampejo de felicidade pela notícia, mas o fato é que a notícia plantou uma dúvida em sua cabeça.
Poderia ele manter seu instinto descobridor de talentos enxergando perfeitamente?
Alguma coisa em seu íntimo dizia o contrário e, apesar do entusiasmo da família com a possibilidade de voltar a encará-lo nos olhos, Eduardo foi reticente.
Afinal, atletas paraolimpicos de sucesso devolveriam suas medalhas olímpicas por uma perna sadia?
Pediu um tempo para pensar.
Claro que a família achou uma insanidade aquela crença de que ele poderia perder seus poderes de midas e no final, Eduardo fez a operacão a contragosto, muito cabreiro em relação ao seu futuro.
O procedimento foi um sucesso e Eduardo se emocionou de verdade ao contemplar um pôr do sol de cinema em seu primeiro teste pós-operatório.
Mas com o tempo sua profecia também se cumpriu, pois de olheiro certeiro ele passou a cometer erros sobre erros em suas indicações à beira do campo.
Talvez por uma auto-sugestão negativa, ele perdeu seu "mojo" profissional.
Não importa.
Dente por dente, olho por sucesso, seu destino se cumpriu.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Gênese de um refugiado

Fugir não era uma questão de sobrevivência.
O hábito nos faz aceitar incômodos que nem percebemos.
Mesmo que aquele corpo não servisse mais, já era sua moradia desde que se conhecia por gente.
Aliás, esse era o problema, ele não se sentia mais gente.
Não no nível de exigência que sempre teve para si.
Ele era ambicioso, almejava alcançar os mais altos degraus de realização.
Ser feliz não vem ao caso.
Se realizar, no seu caso, tinha a ver com experimentar, se arriscar, descobrir.
E era nisso que o invólucro de seu corpo era limitante.
Era mandatório romper as paredes da epiderme e dos quilômetros de vasos e artérias onde cansou de dar voltas.
Para isso, precisava encontrar um meio.
Ou melhor, escolher o meio, já que muitas eram as opções para os que decidiam abandonar seus corpos.
Mas todas eram arriscadas e nenhuma delas prescindia de sorte para não deixar sequelas.
As pessoas aconselham: "se joga".
E ele bem que tentou, inúmeras vezes.
E até pensou ter atravessado a fronteira, navegado o mar morto de sua existência e atingido o outro lado da margem.
Mas, como se o barco estivesse ligado ao cais por um elástico, a cada partida foi trazido lentamente de volta ao ponto de origem.
Aos poucos foi aceitando a frustração de sempre voltar e suas tentativas de fuga se tornaram mecânicas.
Era como se repetisse uma história mentirosa para si, indefinidamente.
Até que um dia um barquinho aportou em sua praia, bem de frente a sua moradia.
Digamos que naufragou ali, depois de dias, meses, quem sabe décadas à deriva.
Seu bote salva-vidas.
No início ele nem o notou, a embarcação parecia tão frágil, difícil de imaginar que fosse salvar alguém.
Mas mesmo sem nada que o prendesse à praia, permaneceu por dias ali, subindo e descendo, suscitando nele uma desconfiança de que fosse mais que um barco.
Por isso, quando colocou seus pés hesitantes a bordo e o bote partiu mar afora, se sentiu imediatamente em comunhão com a embarcação.
Nem esboçou voltar para buscar algumas roupas e víveres.
Não olhou para trás.
Foi.
Quando o fundo do casco se elevou, foi como se seus pés se soltassem de amarras onipresentes que ele nem imaginava existir.
Naquela manhã de águas paradas, o motor de popa de seu coração produziu o próprio impulso de sua alma para longe de seu porto seguro.
E fez um vento imaginário verter júbilo de seu rosto cansado, avistando a terra prometida de sua imaginação.
Enfim, estava a caminho.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Nós, os mascarados

Em matéria de auto-estima o brasileiro muitas vezes se comporta como um bipolar.
Ou sofre de viralatice aguda ou sobe nas tamancas, se achando o tal.
Na real, um comportamento complementa o outro.
A falta de competência coletiva nos leva a exaltar e desqualificar personagens na mesma medida, ou seja, a do exagero.
Como diz aquela frase famosa, precisamos de heróis, e ao primeiro sinal de "fracasso", os destruímos.
Em parte a culpa é da imprensa, que cria o mito em torno dessas pessoas normais que são alçadas ao olimpo de uma hora pra outra.
O que não tem nada de mágico, pois conquistas são produtos de anos e anos de dedicação, que é feita no anonimato, na luta solitária aplaudida apenas pelo próprio reconhecimento.
Mas o verdadeiro carrasco desses super-homens passageiros é mesmo o nosso complexo de vira-latas.
Nosso ego, que sofre de baixa auto-estima crônica, se projeta nos grandes feitos dos atletas e artistas brasileiros e, naquele momento de extase coletivo nacional, enxerga uma possibilidade de cura.
Mais uma oportunidade de exorcizar de vez nossa terceira-imundície.
Que não tarda em se mostrar inútil, pois não há herói midiático que a própria mídia não desmascare.
Enquanto não dessacralizarmos essas figuras, dando o valor adequado a essas conquistas no âmbito de um país com tantas e mais imediatistas carências, estaremos alimentando e fazendo perdurar nosso sentimento de vira-latas.
Antes é preciso priorizar as conquistas coletivas como melhorias em educação, saúde e segurança, que estão há muito tempo na pauta urgente da nação, mas que perdem verbas e espaço a cada tentativa ansiosa do país se mostrar "cool" para o mundo, atropelando suas prioridades.
Foi assim com a Copa e será com as Olimpíadas e outros gastos de "fachada" que douram um país com infra-estrutura e leis defasadas e moralmente em frangalhos.
Ao sair da cerimônia da Bola de Ouro da Fifa e se declarar decepcionado com o terceiro lugar entre os três finalistas, o brasileiro Neymar, ícone do falido futebol brasileiro, foi acusado por um jornalista de estar "mascarado". Tanto pela declaração nada humilde quanto pelo figurino pop-star do craque.
Não concordo com o profissional da imprensa, acho que sua análise está contaminada pelo complexo de vira-latas.
Mas aproveito o fato para conjecturar sobre a auto-imagem do brasileiro à luz da possível soberba de Neymar.
Será que por trás da humildade, afabilidade ou bom mocismo do brasileiro, não escondemos a soberba de um povo que não se curva às evidências do que é preciso fazer para avançar como nação?
Talvez não seja por preguiça que não arregaçamos as mangas para construir uma sociedade melhor e sim por acreditar que o famoso jeitinho sempre triunfe no final.
O que até acontece, porém mais em favor de conquistas individuais do que coletivas.
Como os dribles malandros de Neymar que tanto encantam o mundo e revertem em seu salário milionário.
Mas que não enganam aos pragmáticos entendidos do futebol, mais propensos a reconhecer a eficiência do que as firulas improdutivas, tipicamente brasileiras.

domingo, 10 de janeiro de 2016

A poesia

Poesia, como diria uma professora, é o sentimento que exala da leitura do poema.
Que é algo único para cada pessoa, quando não é simplesmente nulo.
Mas embora venha da literatura, o conceito poético se expandiu, atravessou fronteiras, e hoje se aplica a qualquer manifestação do cotidiano, onde se confunde com o conceito romântico.
Assim um lago parado pode inspirar tanta poesia quanto uma caixa d'água, embora o primeiro tenha mais vocação para tal.
Ao mesmo tempo que a poesia se torna um gênero pré-histórico, sendo pouco lido e exercitado, contraditoriamente a humanidade carece de mais olhar poético.
Nosso olhar está nublado pela aspereza do cotidiano, das buscas pelo poder e conforto material.
De dentro do carro, nosso olhar ultimamente está voltado, pela ordem, para a tela do celular, o pára-brisa, e por último, a vida.
A foto acima ilustra bem isso.
A percepção inocente e desanuviada da criança de dentro do carro consegue enxergar seu par do lado de fora, sem as barreiras do preconceito impostas pelo medo.
E nisso reside a poesia do momento.
A imprevisibilidade de uma interação, que deveria ser natural, a nos pegar, os adultos receosos, de calças curtas.
Nos lembrando que encurtar distâncias, ao contrário do que manda o boxe, pode não ser perigoso, ao contrário, reconfortante.

Retrato de um livro quando jovem

Um blogue nada mais é do que um diário.
Um retrato escrito dos pensamentos e angústias de seu autor.
Dependendo do talento de quem escreve pode se tornar algo digno de publicação, como tantos coletâneas epistolares do passado.
No meu caso é mais uma conversa interna comigo mesmo, que externo na web sem nenhuma pretensão de ser lido.
Ao mesmo tempo, é um treinamento, uma tentativa de aprimoramento da escrita.
Dizem que o candidato a escritor precisa ler e escrever muito.
Não tenho tempo para fazer o dois na quantidade ideal, mas dentro da disponibilidade procuro balancear as proporções.
Livros são fundamentais, tanto para formar nosso estilo de escrita quanto absorver possibilidades narrativas.
Escrever é o exercício se possível diário, que aprimora a ligação neurológica entre a parte criativa do seu cérebro e o trabalho operário das pontas dos dedos.
Eu tenho procurado escrever o máximo que posso, e aos poucos percebo que se torna uma atividade mais mecânica, à medida que as leituras são absorvidas e o treinamento diário, somado.
Todo mundo que um dia se propôs a criar algo no terreno das artes se perguntou do que é feito o verdadeiro artista, além de carne e osso.
Seriam eles gênios, espíritos atormentados, talentos natos?
Ou simples mortais como nós?
Porque é difícil empreender um certo esforço sem saber aonde se pode chegar.
Mas talvez aí resida a resposta.
O artista não mede esforço nenhum, ele faz porque precisa e é o seu natural.
Ele não espera, embora deseje, retribuição pelo seu esforço.
Claro que no mercado de artes plásticas, por exemplo, não existe o conceito de arte sem o invólucro marqueteiro que o lança e o sustenta.
Mas falo da essência artística, a pureza do criador.
Aquele que deixa escorrer no papel ou tela a sua tormenta, independente do resultado artístico ou de reconhecimento.
Arte é canal do inconformismo humano contra o tédio da sociedade que ele criou pra si mesmo.
A sociedade da sobrevivência, da acumulação, da destruição da natureza.
O artista protesta em forma de notas, traços, letras.
Não que ele se professe o arauto da humanidade.
É só uma forma particular de expressão, que pode acender uma centelha em algumas consciências, mas provavelmente está fadada à indiferença.
A bravura dos artistas não deve ser admirada.
Ele não consegue ou não conhece uma alternativa de vida melhor.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A estátua de sal

Nunca gostei de olhar pra trás.
O saudosismo é a âncora da alma e preciso que a minha esteja sempre leve para alçar novos vôos.
Por isso não gosto de reencontros de ex-alunos, ex-colegas de firma, ex-tudo que vivi.
Pelo simples motivo de que cada vez que minhas pálpebras se abrem é como se meus olhos saltassem numa nova dimensão de tempo e espaço onde não cabe o passado.
Os que acreditam em coexistência no tempo dirão que estou equivocado, já que eles acreditam um dia poderem visitar o meu eu passado e futuro também.
Mas até prova dessa teoria, sou totalmente cético ao apego ao que já fui.
Dizem também que a memória nubla o passado e reconstróis aos fatos convenientemente à nossa vontade, ou pelo menos à vontade do nosso inconsciente.
Mais um motivo para deletar de vez o passado, já que nesse caso estaríamos revivendo um passado inventando por nós mesmos.
O que equivale a viver um futuro que ainda não veio.
Sei que a vida é curta e contar com as lembranças do passado é abrandar o pavor do tique-taque incessante que nos condena ao inevitável.
Mas nem por isso prefiro reabrir meu baú cheio de cartas contadas a mim mesmo.
Prefiro o medo do papel em branco do futuro do que esse revirar de ruínas de memória que não me leva a nada.
Não sei se a mulher de sal bíblica representa a propensão humana a olhar para que o foi deixado.
Não conheço a história da mulher de Lot.
Sei que à revelia da ordem de Deus, ela olhou para Sodoma e Gomorra destruídas e foi penalizada.
E mesmo que eu tivesse duas cidades inteiras de pecados povoando meu passado, se possível eu tentaria com todas as forças me absolver desse carga.
Os arrependimentos, principalmente pelo que não fiz, já são um sofrimento recorrente nas minhas noites mal dormidas.
Suficiente dolorido para que eu não procure nem nas minhas melhores lembranças a redenção para um presente insatisfatório ou para um futuro que sempre será incerto.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Vai dar tempo?

Esse começo de ano tem me inspirado a escrever.
Não que eu entre no clima do "tudo vai ser diferente" que nos empurram com champanhe goela abaixo.
Pelo contrário, acho o começo de ano um tanto quanto hilário.
Às promessas sem fim que fazemos a nós mesmos se contrapõe a preguiça natural da ressaca pós reveillon, turbinada pelo calorzão de verão.
Uma contradição, portanto.
É que faz parte do necessário ritual de renovação um certo balanço geral de como anda a vida, e as auto-cobranças são inevitáveis.
Como se todas as promissórias das nossas vidas tivessem vencido em 31 de dezembro e agora os juros estivessem correndo solto a galope.
Mas se você não é pragmático a ponto de colocar deadline pra tudo num caderninho, os prazos dos seus sonhos devem ser como os meus, indefinidos.
O que dá no mesmo que dizer, "se der, eu faço esse ano".
No fundo sabemos que não passa de auto-engano.
No fundo também sabemos que são sonhos, e não projetos.
No terreno dos sonhos tudo é possível e, o mais importante, tudo aconterá num passo de mágica.
A verdade é que tudo dá muito trabalho e bancar a realização é para poucos.
São os empreendedores de si mesmos.
Os que sabem o que querem e não medem esforços pra colocar um tijolinho por dia no castelo de seu sonho.
Pra empreender esse esforço é preciso confiança, vocação, garra, trabalho, decisão e principalmente, capacidade para se frustrar.
E esse conjunto de qualidades não é fácil reunir numa pessoa ou time.
Suponho que não existe prazo para entregar um sonho.
Os sonhos nos são entregues quando eles ficam prontos e eles não avisam os envolvidos.
Você acorda e vê o resultado.
Pode ser a qualquer dia e hora da sua vida.
Tomara que até lá você esteja vivo.


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Liberdade vigiada?

Começo de ano é um bom momento pra falar de liberdade.
Ainda estamos sob o efeito do recesso das festas, que para alguns deve ter sido mais reabilitador do que para mim, que não saltei ondinhas - embora não possa reclamar da boa estadia em um hotel tipo fazenda.
Mas voltando à liberdade, acabo de ver um video do Baumann onde ele fala da grande meta humana que jamais foi alcançada, a de combinar liberdade com segurança.
Pois, segundo Baumann, se há liberdade, não há segurança. E vice-versa.
O video me foi enviado pelo colega Rodrigo, que durante o café pós almoço falava da liberdade dentro do relacionamento amoroso, que se torna uma assunto recorrente em conversa sobre casais.
Liberdade dentro de um relacionamento é algo difícil, quase utópico.
Mas e no restante da vida, existe a tal liberdade?
Em outra frase, "O preço da liberdade é a eterna vigilância", que até poderia ser ilustrada com a foto deste post, o autor sugere que liberdade é possível com vigilância. E vigilância 24 horas por dia.
Ora, se temos que nos vigiar e aos outros, ao mundo ao nosso redor, que raio de liberdade é essa?
Mais fácil é aceitar a premissa de que liberdade e segurança são mutuamente exclusivos até prova em contrário.
Começo de ano carrega a carga emocional perfeita para devaneios como este, sobre assuntos como liberdade.
Há uma expectativa, e toda expectativa é exagerada, sobre nossas aspirações para os próximos meses, e para um coroa como eu, é doce sonhar com uma independência, ao menos financeira, do malfadado "sistema".
Então, se não posso prometer a mim mesmo grandes realizações, ao menos prometo-me os melhores sonhos.
Que as 365 noites sejam embaladas pelos mais ternos sonhos de liberdade.
Amém.