sábado, 16 de janeiro de 2016

Nós, os mascarados

Em matéria de auto-estima o brasileiro muitas vezes se comporta como um bipolar.
Ou sofre de viralatice aguda ou sobe nas tamancas, se achando o tal.
Na real, um comportamento complementa o outro.
A falta de competência coletiva nos leva a exaltar e desqualificar personagens na mesma medida, ou seja, a do exagero.
Como diz aquela frase famosa, precisamos de heróis, e ao primeiro sinal de "fracasso", os destruímos.
Em parte a culpa é da imprensa, que cria o mito em torno dessas pessoas normais que são alçadas ao olimpo de uma hora pra outra.
O que não tem nada de mágico, pois conquistas são produtos de anos e anos de dedicação, que é feita no anonimato, na luta solitária aplaudida apenas pelo próprio reconhecimento.
Mas o verdadeiro carrasco desses super-homens passageiros é mesmo o nosso complexo de vira-latas.
Nosso ego, que sofre de baixa auto-estima crônica, se projeta nos grandes feitos dos atletas e artistas brasileiros e, naquele momento de extase coletivo nacional, enxerga uma possibilidade de cura.
Mais uma oportunidade de exorcizar de vez nossa terceira-imundície.
Que não tarda em se mostrar inútil, pois não há herói midiático que a própria mídia não desmascare.
Enquanto não dessacralizarmos essas figuras, dando o valor adequado a essas conquistas no âmbito de um país com tantas e mais imediatistas carências, estaremos alimentando e fazendo perdurar nosso sentimento de vira-latas.
Antes é preciso priorizar as conquistas coletivas como melhorias em educação, saúde e segurança, que estão há muito tempo na pauta urgente da nação, mas que perdem verbas e espaço a cada tentativa ansiosa do país se mostrar "cool" para o mundo, atropelando suas prioridades.
Foi assim com a Copa e será com as Olimpíadas e outros gastos de "fachada" que douram um país com infra-estrutura e leis defasadas e moralmente em frangalhos.
Ao sair da cerimônia da Bola de Ouro da Fifa e se declarar decepcionado com o terceiro lugar entre os três finalistas, o brasileiro Neymar, ícone do falido futebol brasileiro, foi acusado por um jornalista de estar "mascarado". Tanto pela declaração nada humilde quanto pelo figurino pop-star do craque.
Não concordo com o profissional da imprensa, acho que sua análise está contaminada pelo complexo de vira-latas.
Mas aproveito o fato para conjecturar sobre a auto-imagem do brasileiro à luz da possível soberba de Neymar.
Será que por trás da humildade, afabilidade ou bom mocismo do brasileiro, não escondemos a soberba de um povo que não se curva às evidências do que é preciso fazer para avançar como nação?
Talvez não seja por preguiça que não arregaçamos as mangas para construir uma sociedade melhor e sim por acreditar que o famoso jeitinho sempre triunfe no final.
O que até acontece, porém mais em favor de conquistas individuais do que coletivas.
Como os dribles malandros de Neymar que tanto encantam o mundo e revertem em seu salário milionário.
Mas que não enganam aos pragmáticos entendidos do futebol, mais propensos a reconhecer a eficiência do que as firulas improdutivas, tipicamente brasileiras.

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