Quando em 2006 adquiri um apartamento tipo penthouse, um sonho que acalentava há algum tempo, comecei a idealizar a reforma - descobri tardiamente que reformas em hipótese alguma devem ser idealizadas, já que via de regra demoram pra acabar.
No caso, 90% do meu pensamento estava voltado para o que fazer do terraço, que nesse tipo de apartamento costuma orientar o restante.
Eu sonhava com um jardim, mas não um tropical, um que lembrasse uma região que sempre foi alvo de minha cobiça e admiração: a Provence.
Lógico que não ia dar certo: o estilo provençal é rural, bucólico, combina no máximo com casas de campo e não tinha nada a ver com meu jardim da babilônia.
No auge do meu delírio, cheguei a visitar uma pintora que simulava o interior de castelos medievais e coisas afins.
Foram meses de indecisão, onde cometi atrocidades como pedir projetos especulativos para vários arquitetos, enfim, infernizei a vida de profissionais com um desejo que eu não conseguia tornar tangível.
Claro que fui demovido dessa idéia equivocada de decoração, com paredes artificialmente desgastadas, móveis com pintura de pátina e rusticidades.
Isso pode ter sido a manifestação da vontade de ser cidadão francês - não à toa adorei "Meia-noite em Paris" e na sequência emendei várias leituras que abordavam aquele momento efervescente da Cidade-Luz.
Acabei contratando um famoso paisagista e praticamente exigindo que ele implementasse um projeto da minha cabeça.
Ou seja, o idiota aqui pagou uma fortuna pra não deixar o cara trabalhar!!
Uma coisa meio megalomaníaca: um jardim orientado por um curso sinuoso de água corrente que acompanhava quase toda a borda do terreço, iluminado por lâmpadas em espeto e lanternas.
O que, obviamente, se provou uma insanidade.
Mais tarde, após provocar um vazamento que fez um vizinho irado bater à minha porta, acabei por abortar o projeto sob risco de ter a obra embargada.
Hoje, no lugar do tão sonhado jardim, jaz um grande vazio pontilhado por alguns vasos de improviso, cujas plantas sobrevivem a duras penas ao descaso do dono.
Entremeado a esse arremedo de jardim ficou o sonho inacabado, que um dia espero transpor para o quintal de uma casa térrea.
Infelizmente não tenho o talento de um Van Gogh pra cultivar um campo de lavanda numa tela de alguns cms quadrados, o que seria bem mais fácil.
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