Um garoto de 6 anos conversa com sua mãe no jardim de casa.
- Mãe, verdade que essa borboleta já foi uma larva?
- Verdade, filho, uma larva bem feia.
- Mas como ela conseguiu ficar assim tão bonita? Fez plástica?
- Não, amor, borboletas não fazem plásticas. É a natureza mesmo, um processo chamado metamorfose.
- Meta o quê?
- Metamorfose. A larva entra numa espécie de casinha chamada casulo - que ela mesma faz - e de lá sai transformada, com asas, toda lindinha como essa aí.
- Ah, tipo a cabine do super-homem?
- Mais ou menos, filho. O super-homem só troca de roupa, a borboleta se transforma completamente.
- Então o homem não consegue ganhar asas?
- Nem com Red Bull.
- Hã?
- Nada, esquece. Infelizmente não, Gutinho. Por isso inventamos o avião, a asa delta.
- Então o homem não passa por essa tal metamorfose?
- Passa sim. Mas a metamorfose no homem só muda ele por dentro.
- Hã? As asas do homem nascem por dentro?
- De alguma forma sim, um dia você vai entender.
- Mas eu quero entender agora, mãe. Por favor, me explica.
- A metamorfose no homem acontece de várias formas. Por exemplo, o seu irmão Pedro está ficando com a voz grossa. Ele está passando por uma metamorfose chamada adolescência.
- Mas eu quero saber das asas, mamãe, não da voz.
- Quando o homem ganha asas, meu amor, é só um modo de dizer. Sua irmã Paula foi morar em outra casa, se formou e depois casou. Então ela ganhou asas, ganhou vida própria.
- Sei, então isso é metamorfose?
- Sim, uma mudança grande na vida da gente.
- Então o que aconteceu com o papai também foi metamorfose.
- Pois é. Seu pai encontrou outra mulher e preferiu sair de casa. Foi uma metamorfose pra ele, pra todos nós.
- Ah, então eu não quero passar por metamorfose não. Quero ficar aqui com você para sempre.
- Mas um dia você também vai querer sair de casa.
- Não vou não, mãe. Não vou conseguir largar tudo isso aqui. Você, o Pedro, meu quarto, meus brinquedos.
- Pois é, seu quarto é o seu casulo. Um dia você também vai sair de dentro dele, vai bater suas asas e ir embora daqui.
- Não vou não.
- Vai sim, é a natureza.
- Mas eu vou ficar triste.
- Eu também, mas é a natureza chamando, meu filho. Não tem como dizer não para um chamado da natureza.
- Tirando o Paquito, já não gosto mais da natureza.
- Mas o Paquito também saiu um dia da casa dele e nunca mais voltou.
- Cachorro desnaturado. Pode deixar, mãe, isso não vai acontecer comigo.
E naquele dia Guto dormiu fora de seu casulo, com medo de ser expulso pela natureza.
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