Personagens.
Histórias só existem por eles.
Complexos, esquizofrênicos, doces, passionais, melodramáticos, pacatos, alérgicos, ninfomaníacos, ultradimensionais.
Saio à rua e os encontro aos montes.
Todos interessantes.
De perto são ricos, intrigantes, misteriosos.
Ninguém é normal, já dizia alguém que esqueci.
Um segurança de prédio macambúzio, de noite vai entrelaçar as pernas como um extrovertido professor de cúmbia.
A velhinha caquética e assassina.
O moleque de rua que é um talentoso escultor.
O traficante que lidera romarias em feriados santos.
Todos eles empenhados no astuto trabalho de dissimulação de suas identidades ocultas.
Deixando entrever apenas uma fresta mínima para a imaginação sorrateira.
Que de lá irá extrair o que têm de mais interessante.
Verdade ou ficção, não importa.
A verdade sempre é relativa.
Não existe o "de carne e osso" na dimensão molecular.
Não existe o molecular em outra dimensão.
Não existe o hoje na coexistência atemporal do mundo.
Existe somente o que quisermos ver, sentir, pintar na tela imaginária, cósmica, atômica.
Nosso ponto de vista não é só da vista.
É dos outros sentidos, da memória emocional, da experiência.
A identificação com um personagem vem de um simples gesto, olhar, a sutileza que reverbera em camadas atrofiadas do inconsciente.
Que pedem carona à história para vir à tona.
Ou apenas fazer um bate-e-volta.
Personagem bom é o que nos pega pela mão para um passeio pelas trevas.
Que constrói a ponte para retomar a jornada do ponto onde se abriu um abismo.
Combinar um cinema ou teatro com alguém é mero pretexto.
O encontro verdadeiro é o seu com o personagem.
Desse encontro pode sair mais um caso de amor à vida.
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