quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O defeito do perfeccionismo

Dizem que quando você quer algo bem feito, tem que fazer você mesmo.
Mas isso não se aplica a habilidades que não são as suas.
E muitas vezes não se aplica aos perfeccionistas.
Isto é, aí depende do que você chama de algo "bem feito".
O "bem feito" pode ser o razoavelmente executado, só que dentro do prazo.
Pode ser o meticulosamente realizado, mas sem respeito a deadlines.
Dificilmente se tem as duas coisas, a perfeição do trabalho dentro de um prazo exíguo.
Fazer bem feito exige habilidade, experiência, concentração, sorte, recursos financeiros, condições que dificilmente estarão todas reunidas num único projeto.
Além disso muitas vezes é preciso ter ousadia para arriscar, o que aumenta a probabilidade da empreitada não dar certo, jogando o perfeccionismo por água abaixo.
O perfeito não existe, já diziam nossas avós, mas vá tentar convencer um perfeccionista disso.
Provavelmente ele dirá que isso é apenas uma desculpa para ser desleixado, fazer meia-boquice.
Porque esse é um dos defeitos do perfeccionista: acreditar que só há 8 ou 80, o perfeito ou o serviço porco.
Mas como diriam os budistas, há sempre o caminho do meio.
E esse caminho do meio é amplo, tem várias pistas como uma highway européia.
O satisfatório pode ir de nota 5 a 9, o que, convenhamos, para muitas coisas na vida está mais do que bom.
Mas o perfeccionista não pensa assim.
Para ele, hotel deveria ter até 10 estrelas, aluno deveria buscar a nota 11, a miss, só para se candidatar, teria que medir 60x90x60.
Por isso o perfeccionista sofre.
Patina no terreno da hesitação.
Como tudo necessita de preparação, o tempo é seu maior inimigo.
Em sua lógica, se nada for planejado, ensaiado, exaurido, o resultado só poderá ser pífio.
Mas de longe não depende só disso.
A vida escolhe caminhos aleatórios, toma direções imprevistas, muitas vezes contra a nossa vontade.
Por isso é preciso aceitar as derrotas.
Muitas vezes todos os fatores comungam com o sucesso, mas na última hora ele dá no-show.
O perfeccionista precisa aprender a se perdoar.
Desenvolver capacidade de resignação diante dos revezes.
Até achar uma certa graça e "prazer" em falhar.
Porque os que mais falham, provavelmente estão vivendo melhor, com mais autenticidade e ousadia.
E beliscando um sucesso ou outro, de vez em quando.
É uma relação estatística entre tentativa e acerto, que a vida demonstra melhor que os números.


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