domingo, 24 de julho de 2016

Nas alturas

O capítulo Olimpíadas rende muito assunto.
Por exemplo, não dá para falar de atletismo sem citar Javier Sotomayor.
Hoje aposentado e com 48 anos, o cubano Javier ainda é detentor do recorde mundial do salto em altura, de 2,45 m estabelecido em 1993 (também detém o recorde indoor, de 2, 43 m, de 1989).
Campeão olímpico em Barcelona-92 e prata em Sidney-2000, bi-campeão mundial outdoor e treta indoor, Javier é do tempo em que Cuba fazia escola no atletismo, cuja decadência atual é notória.
Atletas de várias modalidades como futebol, vôlei, basquete, impressionam pela impulsão.
O que dizer então desses super-homens como Sotomayor, que literalmente voam?
Deve ser motivo de orgulho ajeitar a cadeira na sala para acompanhar mais uma Olimpíada onde o seu recorde permanece intocável longos 23 anos depois.
Caso semelhante a esse foi o do nosso saudoso João do Pulo, cujo recorde mundial do salto triplo de 17,89m durou muitos anos. Isso porque João ainda foi vítima de um complô dos juízes na Olimpíada de Moscou, onde teve saltos injusta e corruptamente anulados, um deles, segundo especialistas, possivelmente de mais de 18 m.
É graças a figuras lendárias como Javier e João que , de quatro em quatro anos, as Olimpíadas voltam a nos fascinar com histórias de heróis míticos de carne e osso.
Ou você nunca se pegou dando uma corredinha no quarteirão e marcando o tempo, só para perceber o quanto um Usain Bolt parece de outro planeta?

sexta-feira, 22 de julho de 2016

O corpão do texto

Imagine se você fosse um redator de notícias de fofoca de qualquer site, não importa se da imprensa marrom ou dos grandes portais.
Delegado a uma sub-função do editorial, todo dia você recebe flagras de paparazzo de celebridades na praia com a incumbência de meter um título.
Apesar de não ter muita saída, você até tenta colocar uma chamada criativa ou incluir no texto algum detalhe a mais sobre a artista, algo mais "jornalístico".
Mas o título sempre volta reprovado pela editor, que recebeu uma reclamação do departamento comercial pelo título "pouco impactante".
E o seu editor manda botar "Fulana mostra o corpão em Ipanema".
Não sou jornalista e nunca frequentei a redação de um portal.
Mas deve ser mais ou menos assim que esse tipo de "notícia" entra em pauta lá dentro, como a parte de conteúdo sensacionalista inerente a todo portal, que busca audiência a qualquer preço.
Mesmo na seção de futebol, cujo conteúdo já é popularesco, é comum vermos abordagens do tipo "as mulheres de jogadores mais gostosas" ou "carrões dos craques".
É um tipo de informação atribuída à imprensa marrom, mas que hoje se mistura às chamadas notícias sérias dos portais.
Talvez seja pelo fato de que hoje nenhuma notícia seja séria, tudo se espetacularizou e caiu no mesmo balaio sensacionalista.
Tá faltando texto inteligente nos portais de notícia brasileiros.
Texto que mereça ser exibido num corpão maior do que o da atriz da vez da Globo nas areias do Leblon.

Café da manhã de hotel

Hoje eu queria começar o dia escrevendo algo bem prosaico, assim como sobre o café da manhã.
Mas não um engolido porque estamos atrasados pro trabalho.
Um lentamente degustado como o de hotel.
Toda vez que chego a um hotel de férias, uma das primeiras coisas que quero saber é até que horas vai o café da manhã.
Principalmente em viagens em que não tenho tanta pressa turística, como uma indolente mini-temporada num resort.
Porque café da manhã de hotel é um deleite para qualquer mortal que ganha a vida labutando.
É um "pause" para a correria das jornadas diárias, uma congratulação para nós mesmos.
Aquela fartura de opções impossível de ser provada de uma vez só: frutas da estação, pãezinhos frescos de todos os tipos, queijos que são um acinte ao colesterol alto, bolos e tortas, até comidinhas que estão mais para english do que brazillian breakfast.
Se você vai ficar vários dias no hotel, pode ter calma e provar um pouquinho de cada vez.
Mas quando a hospedagem não é pensão muito menos all inclusive, e vamos sair para cansativas cameladas em busca dos atrativos turísticos de uma cidade, um café da manhã reforçado é mais do que prazer, é obrigação.
Daí nos comportamos como gringos que consideram o breakfast a refeição principal, pois faremos apenas pit-stops ao longo do dia, ávidos pelo pelos cartões postais do local.
O café da manhã de hotel é a refeição romântica para qual você convida você mesmo a se agradar.
E,bom, chega de reflexão para alguns pedaços de pão e bolo.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Um atleta brasileiro incomum

Quando escrevo este post, Thiago Monteiro teve sua partida contra Giles Simon no ATP de Gstaad adiada pela chuva.
Ele vencia por 6/2 4/3 e com três chances de quebra contra o Simon, um tenista que se não é brilhante tecnicamente, é um carne de pescoço e o favorito do torneio.
É uma pena porque Thiago aproveitaria o bom momento no jogo para liquidar a fatura e evitar dar uma chance de recuperação a Simon, porque a partida só recomeça amanhã, sexta-feira.
De qualquer forma, Monteiro, um jogador de 22 anos que ainda joga o quarto ATP de sua carreira, confirma sua enfim ascenção no circuito, prestes a entrar para os 100 primeiros do ranking mundial.
O que a meu ver possibilita a Monteiro esse ainda modesto destaque - venceu dois ex-top ten no começo do ano, Tsonga e Almagro - é que ele emocionalmente não se encaixa no típico atleta brasileiro.
Parece carregar um componente extra de foco e tranquilidade, aliado a muita garra, o que potencializa seu arsenal técnico, que não é exuberante.
Talvez ajude o fato de que ele não carregue o status de melhor jogador brasileiro, que cabe ao inconstante Thomas Bellucci, e por isso não sinta a pressão de ser o sucessor do Guga.
Ainda desconhecido do grande público, Thiago vai se aproveitando de pequenas brechas que os adversários vão abrindo para ele nos prestigiados torneios ATP.
Quem sabe se, como quem não quer nada, ele se firme enfim como o melhor tenista brasileiro antes que o grande público o alce a outro salvador da pátria, o que é sempre perigoso para qualquer atleta ainda "verde".
Porque o tênis, um esporte individual, disputado em sistema eliminatório e cujo circuito obriga os atletas a viajar e ficar longe de casa o tempo todo, é psicologicamente massacrante, principalmente para os garotos e garotas.
Felizmente, Thiago parece usar essa pressão como estímulo para a significante ascenção em 2016.
Que ele despreze os limites e suba o quanto merece.

O terror é aqui

Com a Olimpíada batendo à porta, natural que o assunto violência venha à tona.
Uma sucessão de ataques terroristas pelo mundo nos últimos meses, em diversos países, levanta a suspeita de que enfim um país neutro como o Brasil pode ser palco de mais um ato do terror.
Mas assim como a ameaça da Zika, que tem sido usada como desculpa por vários atletas profissionais para cair fora da Olimpíada, a ameaça terrorista rende mais repercussão lá fora do que aqui dentro.
Por aqui sempre mantivemos uma luzinha de alerta contra vários tipos de ameaça no dia a dia.
O treinamento anti-terror dos militares decerto é diferenciado do que usamos, por exemplo, contra o tráfico de drogas. Mas na prática o terrorista não é menos ameaçador do que o traficante.
Porém, como nós brasileiros nunca queremos ficar para trás - tanto que fizemos de tudo para trazer Copa e Olimpíada para cá - um ataque terrorista enfim nos incluiria nos problemas do primeiro mundo, confirmando nossa ascenção no cenário global.
Ok, é brincadeira de mau gosto, até porque de violência já chega o produto nacional.
Como se não bastasse sair de casa com medo de assaltos, sequestros, balas perdidas, só faltava termos que pensar duas vezes antes de jogar algo nas lixeiras do metrô.
Ou desconfiar de mochilas carregadas por barbudos com cara de árabe.
Rezo para que que na Rio 2016 não aconteça nem fumaça de qualquer ator terrorista.
Melhor a gente ficar com nossos próprios bandidos, que ceifam muito mais vidas do que os de fora, mas com cuja ameaça estamos acostumados e já temos algumas defesas.
Ou não temos?

terça-feira, 19 de julho de 2016

R.I.P. TV?

Meu sobrinho de dez anos não larga o tablet.
Game e youtube, só.
Perguntei a ele se tem visto TV e recebi resposta negativa.
Estará a TV na UTI?
Bom, essa discussão já é velha.
Lá fora, a internet tem roubado verba publicitária e em alguns casos sua fatia do bolo já supera a da TV.
Por aqui já estamos nos acostumando ao serviços multi-telas, onde o mesmo conteúdo da TV é disponilizado em outros aparelhos, principalmente tablets e celulares.
A verdade é que a TV já perdeu seu posto como tela única e quiçá, o de tela principal.
Com o advento da SmarTV há algum tempo, já não se distingue a diferença entre TV e computador, parece tudo a mesma coisa.
E essa é a tendência, a fusão de tudo em todos os lugares, o que gera uma confusão no início, principalmente para coroas como eu.
É fato que algumas tendências pegam e outras não.
Mas a verdade é que o smartphone revolucionou a maneira de nos relacionarmos com uma tela, impulsionado pelo boom das redes sociais.
E quanto mais fácil e barato ficar o acesso à internet pelos smartphones, mais o acesso aos conteúdos pelos celulares ganhará importância.
Afinal, os hábitos se enraízam e se fortalecem na tenra idade.
E o contato com as telinhas se dá cada vez mais cedo na infância, quando as crianças ganham seus primeiros gadgets, tablets, minitablets e celulares.
A TV não perderá seu lugarzinho na sala, disponível quando um ou outro membro da família resolver dar uma zapeada.
Mas aquela cerimônia da família reunida para ver a novela ou o filme no horário nobre está em extinção - até porque a estrutura familiar tradicional também está.
O mundo agora é on demand e cabe numa tela bem pequena.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

A arte de se bancar

Eu sempre admirei pessoas empreendedoras.
Embora nem sempre sejam gente de trato fácil, os empreendedores fascinam porque têm coragem.
A audácia de dizer "não" ao comodismo de depender dos outros, de não entregar seu destino a uma carteira assinada.
Ok, tenho alguns parentes e conhecidos que nasceram para isso, e por só fazerem isso se tornam meio intragáveis.
É que de um modo geral aqueles que bancam sua própria empresa também têm a virtude ou defeito de bancar veementemente sua própria opinião, e às vezes isso soa a chatice.
Mas vendo o conceito empreendedorismo de forma mais ampla, não apenas ao mundo das empresas, podemos enxegar pessoas que possuem esse espírito de independência aplicado a outras áreas da vida.
Há os empreendedores sentimentais, pessoas que bancam sua própria felicidade amorosa.
Existem os empreendedores de aventuras, aqueles que não titubeiam em mudar a rota de suas vidas quando novos ventos sopram para outra direção.
Há os empreendedores de relacionamentos, capazes de atrair e manter pessoas interessantes à sua volta.
Ou seja, para mim o conceito de empreender genericamente falando diz respeito à capacidade de fazer acontecer seja o que for.
E nesse ponto todos nós deveríamos ser empreendedores, porque a vida é algo que se contrói todos os dias, arriscando, acertando, fazendo imensas cagadas, revendo e refazendo tudo de novo.
O empreendedorismo têm que ser a mola-mestra da nossa tomada de atitude em todas as frentes da vida, sob risco de não acontecer nada, de deixar nossa reserva de realização estagnada no campo do potencial.
E convenhamos, a vida é muito curta para não transformar nossos poucos anos em uma extensa folha corrida, que no final nos faça merecer uma placa de prata imaginária de melhor funcionário de nós mesmos.

domingo, 17 de julho de 2016

Os arcos das nossas histórias

Quem estuda narrativa sabe que "arco" é a curva que simboliza a estrutura de uma história.
O arco representa o desenvolvimento da narrativa, com curvas ora ascendentes e descendentes, cujas mudanças acentuadas denotam os pontos de virada, chamados pontos de inflexão.
O símbolo olímpico também é formado por arcos, que representam os cinco continentes.
Mas que também poderiam simbolizar a história de vida de todos os atletas participantes.
Afinal, é o ponto máximo da vida de um esportista, uma oportunidade única para grande parte deles, pois sua maturidade física e emocional raramente duram mais do que um ou dois ciclos olímpicos.
Por isso a Olimpíada, mais do que uma festa de congraçamento de raças - sobre a qual de novo paira uma ameaça terrorista - é a narrativa do drama de milhares de atletas, que vão verter suor, sangue e lágrimas por um momento de glória.
A maioria, claro, estará lá apenas para representar seus países e alcançar, se possível, as melhores marcas de suas vidas.
Uns poucos brigarão por medalhas e irão se candidatar a ícones da Rio 2016, protagonistas de mais um capítulo olímpico.
Mais ou menos midiáticos, esses milhares de heróis irão encarnar os bilhões de humanos que empunham uma caneta, uma enxada, uma vassoura, uma picareta, na labuta diária por um ideal que, guardadas as proporções, é a olimpíada de cada um.
Por isso nas 3 semanas que duram o evento provavelmente não vou desgrudar os olhos das telas que vão cobrí-lo.
Eu adoro um drama e as olimpídas estão recheadas de histórias que vão se desenrolando à medida que se revelam seus heróis, sejam eles super-heróis como Phelps e Bolt, ou os quase anônimos que se arrastam para cruzar uma linha de chegada.
Como um amante de boas narrativas, sou suscetível como poucos ao espírito olímpico e espero ansiosamente pelas primeiros acordes dos hinos no pódio.
Assim como pelos tombos, o choro, os arranhões, as refugadas de cavalo, o sumiço das varas de salto, a quedas dos favoritos, todos os elementos que constroem ótimas histórias baseadas em fatos reais.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

A realidade é outra

Os filmes de ficção científica sempre foram o melhor prenúncio do que viveríamos no futuro.
Alguns deles como Matrix abordaram nossa relação com um universo digital imaginário, algo semelhante ao que se confirma agora, com as experiências de realidade virtual se tornando cada vez mais comuns.
Talvez um dos melhores exemplos de que o limite entre vida real e virtual foi rompido sejam os campeonatos de games.
Em vez de se restringirem a batalhas virtuais dentro de uma sala com computadores, elas foram transpostas a ginásios com torcida organizada e tudo.
Os "atletas" - geeks viciados em computador - recebem tratamentos de astros, onde suas equipes disponibilizam alojamentos, alimentação, preparação física e acompanhamento psicológico. De quebra ainda ganham bons salários.
Claro que os campeonatos não se restringem ao interesse pelo jogo e jogadores, mas também se estendem a manifestações de cultura pop, onde parte da torcida se transfigura nos personagens dos games, os já tradicionais cosplays.
Mas para mim esse fenômeno cultural também é reflexo do distanciamento com experiências reais, de como parte da sociedade está preterindo o contato com pessoas e a natureza em função do gosto pela vida nas telas.
Filosofando um pouco sobre isso, especulo que o mundo fantasioso e alienante dos games, por sua natureza de transferência, seja mais gratificante e menos decepcionante para seus aficcionados, pois os exime dos desafios que a vida nos impõe.
Me parece emblemático que um campeonato de games peça uma platéia, uma arquibancada, o referendo de que se sentar diante de uma tela o dia inteiro é um propósito de vida.
Por anacrônico que eu possa soar, ainda acho o confronto das ruas mais saudável para jovens que queriam se tornar homens e mulheres destemidos.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Zé Vôberto

"Idade não é documento", diria minha avó se falasse português - que Deus a tenha onde quer que esteja.
Mas todo mundo sabe que com a idade muita coisa declina, como preparo físico, memória, reflexo.
No caso do Zé Roberto, 42 anos, tesão é que não é documento.
Já no alto dos seus 39, 40 anos, ele chegou no começo de 2015 a um Palmeiras em reconstrução, em meio a uma batelada de 24 novas contratações.
Àquele altura sabia-se que um título seria um projeto de médio a longo prazo, a depender do time dar liga, se estrututar, enfim, formar a chamada "espinha dorsal".
Mas ele veio mais rápido do que se esperava, com a conquista de uma Copa do Brasil no fim daquele ano, competição que por ser um mata-mata exige menos da regularidade conquistada com o tempo e mais da alma "copeira" que sempre caracterizou o Palmeiras.
Ao erguer o troféu da Copa, Zé Roberto deu uma entrevista onde ele insinuava que aquele seria um bom momento para se aposentar, pois alcançava a meta de um título nacional, conquista inédita em seu recheado currículo.
Mas a possibilidade de jogar uma Libertadores e acrescentar mais uma estrelinha em sua galeria pessoal o seduziu e Zé Roberto adiou o plano de dedicar mais tempo aos filhos, divulgando inclusive um video onde se via o atleta treinando nas férias, numa praia.
Começa 2016 e o Palmeiras cambaleia nas mãos do irregular Marcelo Oliveira, que se mostra um técnico mais sortudo do que estrategista.
Fim de sonho da Libertadores e Zé Roberto poderia ter se arrependido de não ter parado no "auge".
Mas o Palmeiras reage com Cuca e na 14ª rodada ostenta a liderança do campeonato brasileiro, o que deve estar rendendo um brilho extra nos olhos do bom velhinho.
Afinal, no empate em casa ontem contra o Santos, que se pode considerar um bom resultado pelo fraco desempenho do alviverde, o Vovô jogou demais.
Foi um monstro na defesa, desarmando os atacantes com uma virilidade de adolescente.
Parte do ponto conquistado se deveu à eficiência da defesa, que jogou fechadinha, e Zé Roberto teve muito mérito nisso.
O que me leva a crer que o tesão do vovozinho do time continua em alta.
Fato atestado por ele mesmo, quando declarou ter "namorado" sua esposa no último 12 de junho, após atuar por 90 minutos em um domingo de clássico contra o nosso eterno rival.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Decrete o fim

Todos nós sabemos quando chega o fim.
No amor, na profissão, em uma etapa da vida, o fim dá sinais de sua proximidade, ainda que não queiremos admití-lo, ainda que seja difícil a transição.
Mas para suavizar o impacto da mudança, fingimos ignorá-lo ou esperamos até que o fim nos dê a rasteira definitiva, que em geral é dolorida e melancólica.
Então por que não exercermos o direito de antecipar esse fim?
Antes que a monotonia nos embote, antes que o prolongar da enfermidade nos tire o brilho de um recomeço antecipado, ainda com o vigor da alma jovem.
Porque temos mais eus dentro de nós mesmos do que reza a cartilha do homem médio.
Como um círculo, somos dotados de arestas infinitas, inexploradas e potencialmente capazes de circunscrever meio mundo.
Então abracemos a mudança quando elas nos abrir os braços.
E que quando a incerteza nos lançar seu olhar de pavor, que consigamos devolver um sorriso desafiante, com a força revigorada da esperança, da vontade de sobrepujar os degraus iniciais da próxima montanha de desafios.
Porque só passamos de fase, o jogo ainda não acabou.

domingo, 3 de julho de 2016

Relaxamento inevitável

A carreira de um esportista é alimentada por desafios.
Djokovic passou muitos anos bufando no cangote de Federer e Nadal, até conseguir derrotá-los nos maiores torneios e assumir o posto de número 1 do mundo.
Depois de alguns anos nessa posição dominante, a grande conquista que lhe faltava era a do único dos 4 Slams que ele não possuía, Roland Garros.
Já tinha batido na trave 3 vezes e começava a se tornar um pequeno trauma na então irretocável carreira.
Pois quando o sérvio enfim conquistou o troféu dos mosqueteiros, como é conhecida a taça do aberto da França, não é que ele pareceu tirar um caminhão das costas?
A meu ver esse peso aliviado ajuda a explicar sua eliminação precoce em Wimbledon, o Grand Slam subsequente a Roland Garros, cuja conquista o manteria na briga para fechar os 4 maiores torneios do tênis num mesmo ano (faltava conquistar Winbledon e o US Open).
Mas Djokovic não é de ferro e sua cabeça cansou.
Sua maior meta para o ano foi alcançada e seu organismo deve ter pedido arrego.
Mesmo a medalha de ouro olímpica não tem o mesmo apelo do torneio francês.
Não que não a queira, ao contrário, deve chegar ao Rio babando.
Mas em parte, Djokovic já fechou 2016 para balanço.
E se Federer pretende atrapalhá-lo naquela que é seguramente a sua próxima meta - bater o recorde de 17 slams do suíço -, não pode perder essa chance única de levantar mais um caneco em Londres.
É provavelmente sua última chance.

Acarajá?

Quem já arrumou as malas com destino à Bahia sabe que tem que deixar a pressa em casa.
O baiano funciona em fuso horário distinto, exclusivo dele, nada de horário de Brasília e muito menos de São Paulo.
Uma vez fui cair na besteira de apressar uma baiana no preparo de um acarajé e fui desdenhosamente ignorado.
Deve ter levado uns bons 40 minutos até o quitute solicitado ir parar nas minhas famintas mãos e nem estava tão maravilhoso assim. Mas depois de tanta espera, virou o manjar dos orixás.
Ainda no assunto pontualidade, existe uma anedota em que, numa barraquinha na Bahia à beira-mar, um paulista pede um suco de laranja sem açúcar a um garçom. Depois de muita reclamação, ele chega com o suco 1 hora depois e ainda com uma espessa camada de açúcar no fundo do copo. Mas ao esboçar uma reclamação de que havia pedido o suco sem açúcar, o paulista é imediatamente retrucado pelo baiano com um singelo "mexa, não".
Isso tudo é pra dizer que definitivamente o paulista é um povo que não sabe relaxar. E eu sou prova disso, ao escrever este post diretamente do meu quarto nesse resort de Porto Seguro.
Como disse o blogueiro e turista profissional Ricardo Freire, paulista tira férias pra ficar estressado.
Concordo em gênero, número e 35 graus à sombra.

sábado, 2 de julho de 2016

Vista aérea

Quando estiver se sentindo o centro das atenções, mesmo que o centro da sua própria atenção, convém pegar um avião.
Lá de cima, dá para enxergar as coisas em perspectiva.
E perceber que somos minúsculos, formiguinhas digladiando insensatamente com nossas vidinhas, com nossa inexorável imortalidade.
De cima um grande latifundiário é dono de apenas um terreninho.
Um grande empresário é rei de um pequenino conglomerado.
O mais inflado dos egos não ocupa espaço nenhum.
Somos o que somos, pequenas consciências enclausuradas em corpinhos de formigas, achando que carregamos o mundo nas costas.
Por outro lado, ao ver o mundo de cima alguns bons sentimentos podem aflorar.
Podemos ver o quanto o planeta é bonito e precisa ser preservado.
Podemos imaginar o mundo de possibilidades que nos aguarda assim que decidimos que não cabemos mais em nossa vidinha.
Podemos querer abraçar o mundo, mesmo que em suaves prestações.
Porque mesmo na condição de formiguinhas, podemos carregar um grãozinho por vez, até construirmos nosso castelo particular de conquistas.
E não importa o tamanho desse castelo, ele só tem que ser suficientemente grande para quem importa: você.