Numa determinada época da minha vida, me interessei por livros de carreira.
Era uma espécie de auto-ajuda disfarçada, que me ajudava a definir rumos.
Mas um autor que não aconselhava profissionais, mas sim empresas, me chamou a atenção: Peter Drucker.
Em seu auge, Peter Drucker enfileirava sucessos nas listas de best-sellers e embora não me interessasse especificamente por admnistração de empresas, achei que deveria estar falando algo relevante.
De fato, pesquisando agora na internet, descubro que foi considerado "o pai da admnistração moderna, o mais reconhecido pensador sobre os efeitos da globalização na economia e organizações" (wikipedia).
Bom, mas para mim o que dele mais me chamou a atenção foi seu próprio plano de carreira: estudar um assunto profundamente a cada 5 anos, até o dia de sua morte.
Esses assuntos não eram específicos sobre gestão e sim genéricos, como arte oriental.
E Peter Drucker seguiu à risca sua diretriz, se tornando uma espécie de "generalista especialista".
Hoje, pensando na velocidade com que a informação se expande e se distribui pelo mundo, talvez seja impensável que alguém com apenas 5 anos de estudo acumule tudo sobre um assunto.
Mas Peter Drucker deu voz a muitos generalistas como eu, que acredita que a vida é muito longa e ampla para se restringir a um ou dois interesses.
Se um gênio como Leonardo Da Vinci deixou um legado que vai das artes plásticas às mais malucas invenções, em parte é porque não teve um plano de carreira único.
Peter Drucker fez o mesmo vários séculos depois, mesmo que só para se divertir.
quinta-feira, 30 de junho de 2016
O lado difícil de ser americano
Acabo de ler a notícia que inspirou este post, a de que o nadador multi-campeão Michael Phelps assegurou participação nas Olimpíadas do Rio na prova dos 200 borboleta e está na semifinal dos 200 medley.
Aos 31 anos, ele que é o maior vencedor das olimpíadas com 22 medalhas (18 ouros, 2 pratas 2 bronzes), se propôs a disputar mais 3 provas nos seus jogos de despedida, e está quase assegurando duas.
Fiquei imaginando como é ingrato para seus concorrentes, que há 5 seletivas estão ali tentando chegar pelo menos atrás do Phelps e realizar o sonho olimpíco - cada prova classifica no máximo 2 representantes de cada país.
Mas estamos falando do esporte de alto rendimento, somente a ponta do iceberg da tradicional competitividade americana.
Digo tradicional porque desde o berço o americano é incentivado a ser competitivo.
E se não for vencedor, é looser. E dá-lhe bullying.
Parece coisa de filme, mas não é.
É só lembrar que os EUA é o maior eldorado do mundo.
A terra das oportunidades, que atrai o maior número de imigrantes, estudantes, empreendedores, esportistas, enfim, talentos de todas as áreas.
Imagine o que é ser bom nesse país, onde ser o melhor não é mais do que a obrigação.
É preciso lidar com muitas pressão e frustração ainda maior.
Como os atletas de todas as modalidades que disputam as seletivas americanas.
Essas seletivas chegam a ter uma competitividade ainda maior que as olimpíadas, por vezes colocando até 8 atletas de nível equivalente numa mesma prova.
Não é mole, não.
Por isso que eu digo que o verdadeiro país das oportunidades é o Brasil.
Uma terra de cegos onde quem abre uma ótica já é rei.
No caso do Phelps, basta ele ganhar mais um ourinho por aqui e mais nada, pra cair nos braços da festiva torcida brasileira.
Aos 31 anos, ele que é o maior vencedor das olimpíadas com 22 medalhas (18 ouros, 2 pratas 2 bronzes), se propôs a disputar mais 3 provas nos seus jogos de despedida, e está quase assegurando duas.
Fiquei imaginando como é ingrato para seus concorrentes, que há 5 seletivas estão ali tentando chegar pelo menos atrás do Phelps e realizar o sonho olimpíco - cada prova classifica no máximo 2 representantes de cada país.
Mas estamos falando do esporte de alto rendimento, somente a ponta do iceberg da tradicional competitividade americana.
Digo tradicional porque desde o berço o americano é incentivado a ser competitivo.
E se não for vencedor, é looser. E dá-lhe bullying.
Parece coisa de filme, mas não é.
É só lembrar que os EUA é o maior eldorado do mundo.
A terra das oportunidades, que atrai o maior número de imigrantes, estudantes, empreendedores, esportistas, enfim, talentos de todas as áreas.
Imagine o que é ser bom nesse país, onde ser o melhor não é mais do que a obrigação.
É preciso lidar com muitas pressão e frustração ainda maior.
Como os atletas de todas as modalidades que disputam as seletivas americanas.
Essas seletivas chegam a ter uma competitividade ainda maior que as olimpíadas, por vezes colocando até 8 atletas de nível equivalente numa mesma prova.
Não é mole, não.
Por isso que eu digo que o verdadeiro país das oportunidades é o Brasil.
Uma terra de cegos onde quem abre uma ótica já é rei.
No caso do Phelps, basta ele ganhar mais um ourinho por aqui e mais nada, pra cair nos braços da festiva torcida brasileira.
Empreender
Tem gente que é inquieta.
Não nasceu para esperar, depender dos outros, para planos de carreira.
São os empreendedores.
Essa gente que faz duas vezes antes de pensar.
E fracassam, e fracassam de novo, e de novo, até que acertam.
Daí crescem, e se fracassarem de novo, recomeçam.
A vida que não for concebida como uma volta de montanha russa, para essas pessoas não tem a menor graça.
Mas muita gente se equivoca, imaginando pertencer a esse grupo de sangue frio e estômago forte.
Trocam os pés pelas mãos e voltam rapidinho para a rotina pacata que lhe cai melhor.
Porque empreender não é para todo mundo.
É para os que tem gosto por colocar as idéias de pé e, percebendo o erro, não hesitam em derrubá-las.
Porque empreender é jogo arriscado, que não aceita desaforo.
Mas aos que se propõem ao jogo, talvez esteja reservado um lugarzinho bem quentinho ao sol.
Aquele lugar no alto de uma montanha do qual você pode mirar o caminho íngreme que ficou para trás.
E que só a pessoa entende como é que conseguiu subir.
Não nasceu para esperar, depender dos outros, para planos de carreira.
São os empreendedores.
Essa gente que faz duas vezes antes de pensar.
E fracassam, e fracassam de novo, e de novo, até que acertam.
Daí crescem, e se fracassarem de novo, recomeçam.
A vida que não for concebida como uma volta de montanha russa, para essas pessoas não tem a menor graça.
Mas muita gente se equivoca, imaginando pertencer a esse grupo de sangue frio e estômago forte.
Trocam os pés pelas mãos e voltam rapidinho para a rotina pacata que lhe cai melhor.
Porque empreender não é para todo mundo.
É para os que tem gosto por colocar as idéias de pé e, percebendo o erro, não hesitam em derrubá-las.
Porque empreender é jogo arriscado, que não aceita desaforo.
Mas aos que se propõem ao jogo, talvez esteja reservado um lugarzinho bem quentinho ao sol.
Aquele lugar no alto de uma montanha do qual você pode mirar o caminho íngreme que ficou para trás.
E que só a pessoa entende como é que conseguiu subir.
terça-feira, 28 de junho de 2016
A mobília dos sonhos
A arte vale pelos sentimentos que evoca.
O trabalho de Los Carpinteros, por exemplo, é um convite à diversão.
Ainda que às vezes retratando temas sérios, não há como imaginar que conceber essas obras não foi divertido.
Formado por quatro artistas cubanos, esse inusitado grupo se debruça sobre objetos e situações do cotidiano, oferecendo novos significados para eles.
Assim uma cama se transforma numa montanha russa.
Um assento de sofá ganha bocas de fogão.
Um armário se confunde com uma colméia.
Uma granada se abre em gavetas.
Enfim, a criatividade da trupe é de encher os olhos e não pára de nos provocar sensações, que vão da curiosidade ao encantamento.
O título de Los Carpinteros, perfeitamente adequado à sua obra, remete a uma profissão que era comum na antiguidade, mas que hoje anda mais rara e desprestigiada, abaixo dos requisitados marceneiros.
Talvez ao se intitularem assim, com a insígnia da profissão que foi de Jesus Cristo, os cubanos quiseram enfatizar o caráter primitivo e sagrado de sua intenção artística, ainda que com resultados sofisticados.
Los Carpinteros nos diverte enquanto mostram como os objetos à nossa volta acabam impregnados da nossa relação com eles.
O trabalho de Los Carpinteros, por exemplo, é um convite à diversão.
Ainda que às vezes retratando temas sérios, não há como imaginar que conceber essas obras não foi divertido.
Formado por quatro artistas cubanos, esse inusitado grupo se debruça sobre objetos e situações do cotidiano, oferecendo novos significados para eles.
Assim uma cama se transforma numa montanha russa.
Um assento de sofá ganha bocas de fogão.
Um armário se confunde com uma colméia.
Uma granada se abre em gavetas.
Enfim, a criatividade da trupe é de encher os olhos e não pára de nos provocar sensações, que vão da curiosidade ao encantamento.
O título de Los Carpinteros, perfeitamente adequado à sua obra, remete a uma profissão que era comum na antiguidade, mas que hoje anda mais rara e desprestigiada, abaixo dos requisitados marceneiros.
Talvez ao se intitularem assim, com a insígnia da profissão que foi de Jesus Cristo, os cubanos quiseram enfatizar o caráter primitivo e sagrado de sua intenção artística, ainda que com resultados sofisticados.
Los Carpinteros nos diverte enquanto mostram como os objetos à nossa volta acabam impregnados da nossa relação com eles.
Fleuma
Sou fleumático.
Às vezes, por causa do meu jeito dissimulado - que por ser um pouco inexpressivo, meus amigos chamam de "monotonal" - pode parecer que não sinto, que não tenha paixões.
É o contrário, sou um sonhador.
Embora aja muitas vezes com pragmatismo, eu tenho horror a isso.
Prefiro o vôo cego, ainda que muitas vezes não consiga empreendê-lo.
Mas acredito sim na transformação, na evolução.
Que uma mudança para melhor está sempre à espreita e tenho que dar condições para que aconteça.
É que, para pessoas como eu, as mudanças não são decididas com um soco na mesa.
Elas ocorrem por vias tortuosas, se esgueirando entre dúvidas, tentando atravessar a calada da noite para se materializar no dia seguinte.
Aqui também há tombos, mas são discretos, quase inaudíveis.
Para mim funciona assim, de maneira infelizmente mais lenta.
Falta-me a coragem do risco explícito.
É que meu rosto não é do tipo que se dá para bater.
Sou sereno, para a desgraça ou euforia.
Mas isso não quer dizer que o coração não bata forte.
É que eu prefiro sorrir por dentro do que o estardalhaço.
Às vezes, por causa do meu jeito dissimulado - que por ser um pouco inexpressivo, meus amigos chamam de "monotonal" - pode parecer que não sinto, que não tenha paixões.
É o contrário, sou um sonhador.
Embora aja muitas vezes com pragmatismo, eu tenho horror a isso.
Prefiro o vôo cego, ainda que muitas vezes não consiga empreendê-lo.
Mas acredito sim na transformação, na evolução.
Que uma mudança para melhor está sempre à espreita e tenho que dar condições para que aconteça.
É que, para pessoas como eu, as mudanças não são decididas com um soco na mesa.
Elas ocorrem por vias tortuosas, se esgueirando entre dúvidas, tentando atravessar a calada da noite para se materializar no dia seguinte.
Aqui também há tombos, mas são discretos, quase inaudíveis.
Para mim funciona assim, de maneira infelizmente mais lenta.
Falta-me a coragem do risco explícito.
É que meu rosto não é do tipo que se dá para bater.
Sou sereno, para a desgraça ou euforia.
Mas isso não quer dizer que o coração não bata forte.
É que eu prefiro sorrir por dentro do que o estardalhaço.
Já Elvis? Nunca.
De todas as artes, para mim a música não figura entre as mais importantes, incompreensivelmente.
Não que não reconheça seu valor, longe disso.
É que não tenho a paixão, nem ao menos o hábito de escutar música.
Não colecionei vinis, nem CDs, nunca aguardei ansiosamente um show ou lançamento de álbum - isso antes da geração selfie chegar e denegrir o conceito de fã, porque no caso são apenas fãs de si mesmos.
Uma das maiores provas do meu flerte fracassado com a música é que fui conhecer Elvis pela sua faceta de ator - ok, ator dentro do que ele se propunha ser.
Lembro da sua presença na sessão da tarde, Elvis batia cartão em filmes açucarados onde representava a si mesmo, geralmente algum aventureiro sempre com um violão à tiracolo.
Pelos seus papéis despretensiosos, ficava evidente que o filme era apenas mais uma vitrine do Rei do Rock.
Mas na época eu não me dei conta disso.
Não conhecia a dimensão do ídolo, a revolução que representou sua música e estilo para o show bizz.
Tanto que mais tarde, a figura já decadente e melancólica do astro me provocou uma estranheza, como se Elvis não fosse Elvis, pelo menos não o que conheci.
Sua morte por overdose me chocou, como se uma rajada de vento derrubasse inopinadamente o castelo de cartas da minha infância, que tinha no sorriso eterno de Elvis um dos seus pilares.
Quando as pessoas dizem que Elvis não morreu, para mim faz todo sentido, ainda que de outra maneira.
Aquele Elvis de infância, que me fez gostar mais de passar tardes colado na TV do que na vitrola, permanece vivíssimo na memória como a imagem do sol se pondo em mais um fim de tarde da infância.
E o sol, assim como Elvis, morre e renasce dia após dia.
Não que não reconheça seu valor, longe disso.
É que não tenho a paixão, nem ao menos o hábito de escutar música.
Não colecionei vinis, nem CDs, nunca aguardei ansiosamente um show ou lançamento de álbum - isso antes da geração selfie chegar e denegrir o conceito de fã, porque no caso são apenas fãs de si mesmos.
Uma das maiores provas do meu flerte fracassado com a música é que fui conhecer Elvis pela sua faceta de ator - ok, ator dentro do que ele se propunha ser.
Lembro da sua presença na sessão da tarde, Elvis batia cartão em filmes açucarados onde representava a si mesmo, geralmente algum aventureiro sempre com um violão à tiracolo.
Pelos seus papéis despretensiosos, ficava evidente que o filme era apenas mais uma vitrine do Rei do Rock.
Mas na época eu não me dei conta disso.
Não conhecia a dimensão do ídolo, a revolução que representou sua música e estilo para o show bizz.
Tanto que mais tarde, a figura já decadente e melancólica do astro me provocou uma estranheza, como se Elvis não fosse Elvis, pelo menos não o que conheci.
Sua morte por overdose me chocou, como se uma rajada de vento derrubasse inopinadamente o castelo de cartas da minha infância, que tinha no sorriso eterno de Elvis um dos seus pilares.
Quando as pessoas dizem que Elvis não morreu, para mim faz todo sentido, ainda que de outra maneira.
Aquele Elvis de infância, que me fez gostar mais de passar tardes colado na TV do que na vitrola, permanece vivíssimo na memória como a imagem do sol se pondo em mais um fim de tarde da infância.
E o sol, assim como Elvis, morre e renasce dia após dia.
Zé Pequeno, o caralho.
Ser contemporâneo é ter experiências em comum.
Uma das maneiras mais fáceis de entabular uma conversa com alguém da sua geração é lembrar das referências de infância e adolescência.
Vários brinquedos, comidas, seriados de TV, álbuns de figurinha, modinhas, etc marcam gerações inteiras e ficam gravadas na memória afetiva.
É o caso do Dadinho, um docinho irresistível do meu tempo, que descobri ser um sobrevivente no mercado mil vezes mais competitivo de hoje.
Será que o Dadinho conserva o mesmo gostinho de infância que teve para mim no meu tempo?
Parece que sim, pois é incrível que tenha resistido a uma enxurrada de M&Ms da vida que chegaram para desbancar as iguarias nacionais.
Tomara que as crianças de hoje tenham o mesmo apreço pelo Dadinho que eu tive, gravem bem seu sabor e possam um dia se recordar dos bons momentos da infância como eu.
Sou ser mutante e às vezes tenho dificuldade para me apegar a coisas e pessoas de algum passado recente que já foi.
Mas espero ser capaz de me lembrar com carinho de tudo que me trouxe até aqui.
E sentir gratidão por isso.
Uma das maneiras mais fáceis de entabular uma conversa com alguém da sua geração é lembrar das referências de infância e adolescência.
Vários brinquedos, comidas, seriados de TV, álbuns de figurinha, modinhas, etc marcam gerações inteiras e ficam gravadas na memória afetiva.
É o caso do Dadinho, um docinho irresistível do meu tempo, que descobri ser um sobrevivente no mercado mil vezes mais competitivo de hoje.
Será que o Dadinho conserva o mesmo gostinho de infância que teve para mim no meu tempo?
Parece que sim, pois é incrível que tenha resistido a uma enxurrada de M&Ms da vida que chegaram para desbancar as iguarias nacionais.
Tomara que as crianças de hoje tenham o mesmo apreço pelo Dadinho que eu tive, gravem bem seu sabor e possam um dia se recordar dos bons momentos da infância como eu.
Sou ser mutante e às vezes tenho dificuldade para me apegar a coisas e pessoas de algum passado recente que já foi.
Mas espero ser capaz de me lembrar com carinho de tudo que me trouxe até aqui.
E sentir gratidão por isso.
segunda-feira, 27 de junho de 2016
Eles estão por cima
No dia em que a melhor geração do futebol chileno conquista o bi-campeonato da Copa América derrotando Messi e companhia, há que se refletir sobre os vencedores.
Seria uma coincidência que a melhor fase do futebol chileno (a Copa América 2015 foi seu primeiro título da história) coroe o esplendor econômico que o país vive nos últimos 20 anos?
Pois hoje o nosso vizinho é uma exceção na América do Sul, sendo considerado um "país rico", desenvolvido, clube com que a pobre Argentina chegou a flertar e sucumbiu.
É que mesmo com um histórico parecido com seus pares da sulamérica - economia baseada em recursos naturais, governos populistas e instituições frágeis - o Chile mudou o curso de seu destino com uma fórmula simples e eficaz: a liberdade econômica.
Ou seja, quanto menos interferência do governo na economia e na vida das pessoas, mais prosperidade.
Não resta dúvida de que é esse o fator decisivo do seu desenvolvimento, já que ocupa o 7º e o 10º lugares nos dois principais índices de liberdade econômica (Brasil está em 100º e 105º lugares), além da 37ª posição em facilidade de fazer negócios (Brasil apenas no 121º lugar).
Sem saber se a eficiência da confederação chilena de futebol faz juz ao bom futebol apresentado dentro de campo, mas considerando que num país onde se reduz o poder das instituições dirigentes como um todo, tende-se a uma maior eficiência da máquina, arrisco a afirmar que as glórias futebolísticas chilenas é um produto desse novo Chile for export.
Porque se não há nenhum grande craque na seleção chilena, pelo menos há senso de conjunto, um crença de que com organização as coisas podem dar certo.
Até construir uma ilha de excelência dentro do malfadado atraso latino-americano.
Seria uma coincidência que a melhor fase do futebol chileno (a Copa América 2015 foi seu primeiro título da história) coroe o esplendor econômico que o país vive nos últimos 20 anos?
Pois hoje o nosso vizinho é uma exceção na América do Sul, sendo considerado um "país rico", desenvolvido, clube com que a pobre Argentina chegou a flertar e sucumbiu.
É que mesmo com um histórico parecido com seus pares da sulamérica - economia baseada em recursos naturais, governos populistas e instituições frágeis - o Chile mudou o curso de seu destino com uma fórmula simples e eficaz: a liberdade econômica.
Ou seja, quanto menos interferência do governo na economia e na vida das pessoas, mais prosperidade.
Não resta dúvida de que é esse o fator decisivo do seu desenvolvimento, já que ocupa o 7º e o 10º lugares nos dois principais índices de liberdade econômica (Brasil está em 100º e 105º lugares), além da 37ª posição em facilidade de fazer negócios (Brasil apenas no 121º lugar).
Sem saber se a eficiência da confederação chilena de futebol faz juz ao bom futebol apresentado dentro de campo, mas considerando que num país onde se reduz o poder das instituições dirigentes como um todo, tende-se a uma maior eficiência da máquina, arrisco a afirmar que as glórias futebolísticas chilenas é um produto desse novo Chile for export.
Porque se não há nenhum grande craque na seleção chilena, pelo menos há senso de conjunto, um crença de que com organização as coisas podem dar certo.
Até construir uma ilha de excelência dentro do malfadado atraso latino-americano.
sexta-feira, 24 de junho de 2016
Quando não adianta ter rodinha no pé
Se eu pudesse fazer um pedido pro papai do céu, seria um gênio da lâmpada.
O meu primeiro pedido seria um pacote de mais 3 pedidos. E assim pediria indefinidamente.
Mas a vida ensina, e quanto mais cedo se aprende, melhor, que estalar os dedos não faz seu desejo ser atendido na hora.
Que querer só é poder a médio e longo prazo.
Que com rodinha nos pés não necessariamente você chega mais rápido, digo, figurativamente.
Que em geral tudo exige treino, treinar duro e cegamente sem expectativa de resultados.
Que o sucesso é aquilo que acontece instantaneamente depois de trabalhar por anos.
Que "se jogar" no objetivo é só o pontapé na bunda inicial.
Que se o autor do best-seller de pensamento positivo ficasse só pensando positivamente, não teria terminado o livro.
Então arregace as mangas e se prepare para a sua guerra dos 100 anos particular.
Como diria um amigo gaúcho, não tá morto quem peleja.
O meu primeiro pedido seria um pacote de mais 3 pedidos. E assim pediria indefinidamente.
Mas a vida ensina, e quanto mais cedo se aprende, melhor, que estalar os dedos não faz seu desejo ser atendido na hora.
Que querer só é poder a médio e longo prazo.
Que com rodinha nos pés não necessariamente você chega mais rápido, digo, figurativamente.
Que em geral tudo exige treino, treinar duro e cegamente sem expectativa de resultados.
Que o sucesso é aquilo que acontece instantaneamente depois de trabalhar por anos.
Que "se jogar" no objetivo é só o pontapé na bunda inicial.
Que se o autor do best-seller de pensamento positivo ficasse só pensando positivamente, não teria terminado o livro.
Então arregace as mangas e se prepare para a sua guerra dos 100 anos particular.
Como diria um amigo gaúcho, não tá morto quem peleja.
Cavalo
Quando eu era criança atazanei meus pais com teimosias que beiravam a obsessão.
Uma delas foi comprar um cavalo. E detalhe: queria criar no quintal lá de casa, que devia ter no máximo uns 150 metros quadrados.
Eu não sabia de onde vinham minhas obsessões, só sei que era um obsessivo bastante dedicado.
Sobre cavalos, por exemplo, buscava muita informação, e olha que naquela época nem tinha internet.
Eu juntava revistas de criadores, livros, ia a exposições, assistia a programas, via filmes que tinha cavalo como tema.
Ia a leilões e sonhava em levantar o braço do meu pai pra dar um lance e arrematar os cavalos.
Conhecia as principais raças e suas características, as raças brasileiras, quais eram mais utilizadas para o trabalho no campo, galope, adestramento, etc.
Claro que o que sobrou hoje desse manancial de informação é bem pouco.
Lembro das raças: cavalo árabe, quarto de milha, puro sangue inglês, apaloosa, mangalarga, crioulo, bretão e por aí vai.
Eu era fascinado por cavalaria americana, tive forte apache e colecionei aqueles bonequinhos do tema.
De tanto que era apaixonado, eu conseguia transmitir essa paixão para o meu pai, que por pouco não sucumbiu à minha encheção de saco e botou um pangaré para dentro de casa.
Acho que foi esse o episódio que encerrou minha paixão por cavalos.
A próxima seria cachorro. Ou videogame. Ou bicicleta de 10 marchas. Ou virar carnavalesco.
Foi tudo isso aí e mais um pouco, hahaha.
Como é bom ser criança e achar que pode tudo.
Uma delas foi comprar um cavalo. E detalhe: queria criar no quintal lá de casa, que devia ter no máximo uns 150 metros quadrados.
Eu não sabia de onde vinham minhas obsessões, só sei que era um obsessivo bastante dedicado.
Sobre cavalos, por exemplo, buscava muita informação, e olha que naquela época nem tinha internet.
Eu juntava revistas de criadores, livros, ia a exposições, assistia a programas, via filmes que tinha cavalo como tema.
Ia a leilões e sonhava em levantar o braço do meu pai pra dar um lance e arrematar os cavalos.
Conhecia as principais raças e suas características, as raças brasileiras, quais eram mais utilizadas para o trabalho no campo, galope, adestramento, etc.
Claro que o que sobrou hoje desse manancial de informação é bem pouco.
Lembro das raças: cavalo árabe, quarto de milha, puro sangue inglês, apaloosa, mangalarga, crioulo, bretão e por aí vai.
Eu era fascinado por cavalaria americana, tive forte apache e colecionei aqueles bonequinhos do tema.
De tanto que era apaixonado, eu conseguia transmitir essa paixão para o meu pai, que por pouco não sucumbiu à minha encheção de saco e botou um pangaré para dentro de casa.
Acho que foi esse o episódio que encerrou minha paixão por cavalos.
A próxima seria cachorro. Ou videogame. Ou bicicleta de 10 marchas. Ou virar carnavalesco.
Foi tudo isso aí e mais um pouco, hahaha.
Como é bom ser criança e achar que pode tudo.
Uma visão dos tchecos
Não conheço Praga.
Conheço o escritor tcheco Kafka, que dizem que conhecia Hitler, mas isso é outra história.
Meu conhecimento sobre a vida tcheca termina por aqui, até para não me comprometer.
Uma vez, numa viagem que passou por Budapeste, quase fiz uma escala em Bratislava, capital da Eslováquia, que dizem ser mais sóbria por herdar uma arquitetura de estilo comunista.
Aliás, esses movimentos separatistas, como ocorreu com as antigas Tchecolováquia e Iugoslávia e ocorre de vez em sempre na Rússia, confundem a cabeça da gente, deixando o mundo mais compartimentado e mais triste, reflexo de intolerâncias.
Voltando à República Tcheca, quero falar do fotógrafo e pintor Jan Saudek, que admiro à distância.
Suas fotografias são como cruzamentos de suas duas especialidades: retratos como pintados à mão, quase sempre em tom sépia e com atmosfera de sonho.
Lembram pinturas antigas e apesar de se tratar de um universo fantástico, me fazem imaginar uma Praga meio sombria, misteriosa.
Se estou certo ou equivocado, um dia ainda irei checar isso in loco.
Praga, uma destino que por aqui recentemente esteve na modinha, para mim já vale a pena pelos seus artistas.
Uma situação cotidiana, que na visão de Saudek parece um quadro de Vermeer
Clima onírico ou visão do inferno? As duas coisas.
Conheço o escritor tcheco Kafka, que dizem que conhecia Hitler, mas isso é outra história.
Meu conhecimento sobre a vida tcheca termina por aqui, até para não me comprometer.
Uma vez, numa viagem que passou por Budapeste, quase fiz uma escala em Bratislava, capital da Eslováquia, que dizem ser mais sóbria por herdar uma arquitetura de estilo comunista.
Aliás, esses movimentos separatistas, como ocorreu com as antigas Tchecolováquia e Iugoslávia e ocorre de vez em sempre na Rússia, confundem a cabeça da gente, deixando o mundo mais compartimentado e mais triste, reflexo de intolerâncias.
Voltando à República Tcheca, quero falar do fotógrafo e pintor Jan Saudek, que admiro à distância.
Suas fotografias são como cruzamentos de suas duas especialidades: retratos como pintados à mão, quase sempre em tom sépia e com atmosfera de sonho.
Lembram pinturas antigas e apesar de se tratar de um universo fantástico, me fazem imaginar uma Praga meio sombria, misteriosa.
Se estou certo ou equivocado, um dia ainda irei checar isso in loco.
Praga, uma destino que por aqui recentemente esteve na modinha, para mim já vale a pena pelos seus artistas.
Uma situação cotidiana, que na visão de Saudek parece um quadro de Vermeer
Clima onírico ou visão do inferno? As duas coisas.
quinta-feira, 23 de junho de 2016
Falta o olhar romântico
"O beijo", o quadro mais famoso de Gustave Klimt, pintor de quem sou fã, tive o privilégio de ver ao vivo na minha visita ao Palácio Belvedere em Viena.
Na verdade não vi, pois fiquei obcecado em "roubar" uma foto de lembrança infringindo as regras do museu, naquele que era para ser um momento mágico pra mim - sempre fico meio abobado, mistura de fascínio e decepção, quando me deparo com obras de arte que admiro à distância, pelos livros.
Mas de mágico a ocasião não teve nada, visto que perdi a oportunidade de apenas sentir o quadro, e de quebra a foto ficou desfocada.
Não foi uma selfie, mas teve o caráter exibicionista de uma, embora não a tenha postado.
Mais tarde, fazendo uma auto-análise, acho que foi um ato de falta de romantismo.
Isso mesmo, falta de romantismo.
O romantismo que faltou quando permiti que o momento único de contemplar uma obra-prima fosse maculado pelo registro besta de uma foto. Que só serve ao exibicionismo do "check-in" nas redes sociais.
Cadê a admiração ao artista? O encantamento com a obra de arte?
Saindo da esfera artística, verificamos que a tal falta de romantismo é generalizada, fruto da nossa maior devoção ao apelos da vaidade e do mercado de consumo.
Assim vemos o dinheiro se sobrepor ao sentimento nos esportes, em especial no futebol, onde os jogadores não sentem mais o chamado "amor à camisa" já faz tempo.
Nas empresas, em que a qualidade muitas vezes se subordina à guerra de preços.
No amor em si, onde pessoas são expostas como mercadorias em aplicativos de relacionamento.
No ato de gentileza, não apenas de um homem que abre uma porta para sua namorada, mas de humano para humano independente de gênero.
Nos ideais da juventude, onde... bem, não sabemos onde isso está mais.
Porque hoje o que conta é ser esperto, certo mano?
Nada de sentimentalismo, tampouco idealismo.
Pena.
Deveríamos nos curvar à antiga visão romântica, quando fazíamos as coisas com gosto.
Como faz o homem se curvando sobre a mulher amada no quadro de Klimt, formando com ela a unidade que simboliza o segredo do bem viver: a integração de razão e emoção, essas nossas duas metades indissociáveis.
Na verdade não vi, pois fiquei obcecado em "roubar" uma foto de lembrança infringindo as regras do museu, naquele que era para ser um momento mágico pra mim - sempre fico meio abobado, mistura de fascínio e decepção, quando me deparo com obras de arte que admiro à distância, pelos livros.
Mas de mágico a ocasião não teve nada, visto que perdi a oportunidade de apenas sentir o quadro, e de quebra a foto ficou desfocada.
Não foi uma selfie, mas teve o caráter exibicionista de uma, embora não a tenha postado.
Mais tarde, fazendo uma auto-análise, acho que foi um ato de falta de romantismo.
Isso mesmo, falta de romantismo.
O romantismo que faltou quando permiti que o momento único de contemplar uma obra-prima fosse maculado pelo registro besta de uma foto. Que só serve ao exibicionismo do "check-in" nas redes sociais.
Cadê a admiração ao artista? O encantamento com a obra de arte?
Saindo da esfera artística, verificamos que a tal falta de romantismo é generalizada, fruto da nossa maior devoção ao apelos da vaidade e do mercado de consumo.
Assim vemos o dinheiro se sobrepor ao sentimento nos esportes, em especial no futebol, onde os jogadores não sentem mais o chamado "amor à camisa" já faz tempo.
Nas empresas, em que a qualidade muitas vezes se subordina à guerra de preços.
No amor em si, onde pessoas são expostas como mercadorias em aplicativos de relacionamento.
No ato de gentileza, não apenas de um homem que abre uma porta para sua namorada, mas de humano para humano independente de gênero.
Nos ideais da juventude, onde... bem, não sabemos onde isso está mais.
Porque hoje o que conta é ser esperto, certo mano?
Nada de sentimentalismo, tampouco idealismo.
Pena.
Deveríamos nos curvar à antiga visão romântica, quando fazíamos as coisas com gosto.
Como faz o homem se curvando sobre a mulher amada no quadro de Klimt, formando com ela a unidade que simboliza o segredo do bem viver: a integração de razão e emoção, essas nossas duas metades indissociáveis.
Bad boy, pero not too much
Dizem que as mulheres gostam mais dos cafajestes.
De certa forma não dá para negar que alguém que não temos não palma da mão, homem ou mulher, é mais sedutor.
Tão sedutor que o cinema se esmerou em criar personagens marcantes do tipo, que enlouqueceram seus pares no set e principalmente, as platéias.
James Dean, Jean Paul Belmondo, Marlon Brando, foram alguns dos atores que imprimiram veracidade a papéis de homens desajustados, malditos, mas encantadores.
Mas o charme desses bad boys não resistia ao acender da luzes, e todos iam pra casa sabendo que era tudo mentirinha.
Hoje em dia, quando as redes sociais fazem de nós todos personagens do dia-a-dia, ficou mais difícil discernir percepção de realidade.
Há quem faça pose de bad boy sem nunca ter sido.
Há quem passe por santo sendo um autêntico bad boy.
Não importa.
Uma vez que o que conta é a sua imagem, o que se debate também é o que você parece ser e não o que você é.
E o julgamento sobre o que parecemos ser, dentro de um forum tão aberto como é a internet, abriu margem para o radicalismo.
No caso das celebridades, é preciso tomar muito cuidado para que um simples comentário descuidado não vire alvo de polêmica, como a imprensa adora.
Um Neymar, por exemplo, é sempre criticado quando posta imagens dele curtindo as baladas com amigos e mulheres.
Se dentro de campo seu rendimento ou o do time não vai bem, logo se atribui a esse comportamento "irresponsável".
Não porque outros jogadores não farreiem, mas porque Neymar não faz questão de esconder.
Se Neymar é bad boy? Acho que não.
É só um rapaz de origem humilde que está aproveitando a fama e o dinheiro.
Sua imagem de bad boy, se é que ela existe, é um papel que ele desempenha na mídia, até porque isso lhe rende exposição e consequentemente, outros ganhos.
Mas na minha percepcão o bad boy de verdade não se mostra, se insinua.
As pessoas falam dele, apesar de não fazer questão de parecer um.
E nem precisa, todo mundo reconhece.
De certa forma não dá para negar que alguém que não temos não palma da mão, homem ou mulher, é mais sedutor.
Tão sedutor que o cinema se esmerou em criar personagens marcantes do tipo, que enlouqueceram seus pares no set e principalmente, as platéias.
James Dean, Jean Paul Belmondo, Marlon Brando, foram alguns dos atores que imprimiram veracidade a papéis de homens desajustados, malditos, mas encantadores.
Mas o charme desses bad boys não resistia ao acender da luzes, e todos iam pra casa sabendo que era tudo mentirinha.
Hoje em dia, quando as redes sociais fazem de nós todos personagens do dia-a-dia, ficou mais difícil discernir percepção de realidade.
Há quem faça pose de bad boy sem nunca ter sido.
Há quem passe por santo sendo um autêntico bad boy.
Não importa.
Uma vez que o que conta é a sua imagem, o que se debate também é o que você parece ser e não o que você é.
E o julgamento sobre o que parecemos ser, dentro de um forum tão aberto como é a internet, abriu margem para o radicalismo.
No caso das celebridades, é preciso tomar muito cuidado para que um simples comentário descuidado não vire alvo de polêmica, como a imprensa adora.
Um Neymar, por exemplo, é sempre criticado quando posta imagens dele curtindo as baladas com amigos e mulheres.
Se dentro de campo seu rendimento ou o do time não vai bem, logo se atribui a esse comportamento "irresponsável".
Não porque outros jogadores não farreiem, mas porque Neymar não faz questão de esconder.
Se Neymar é bad boy? Acho que não.
É só um rapaz de origem humilde que está aproveitando a fama e o dinheiro.
Sua imagem de bad boy, se é que ela existe, é um papel que ele desempenha na mídia, até porque isso lhe rende exposição e consequentemente, outros ganhos.
Mas na minha percepcão o bad boy de verdade não se mostra, se insinua.
As pessoas falam dele, apesar de não fazer questão de parecer um.
E nem precisa, todo mundo reconhece.
Se joga
Mudança.
Uma palavra que nos atrai e repele ao mesmo tempo.
Nossa tendência é ficar na mesma, daí são mais raras as mudanças que partem de própria iniciativa.
Geralmente somos jogados no vendaval da mudança compulsoriamente, pelo fim de um relacionamento, emprego, morte de alguém próximo, uma oportunidade de trabalhar ou estudar fora e outros eventos decisivos da vida.
O que geralmente acontece é ficar, como na imagem acima, limitado ao seu pequeno aquário.
O mesmo trabalho, as mesmas relações, os mesmos lugares onde nos tornamos habitués.
Dentro desse algoritmo que se torna nossa rotina, como dentro do aquário, o mundo do lado de fora parece amplo e cheio de possibilidades.
Porque a lente do vidro não nos impede de enxergar outras possibilidades, mas limita o nosso nado em outras plagas aquáticas.
Tem uma gíria que expressa muito bem esse movimento de atravessar o limite do conhecido: jogar-se.
"Se joga" assim dito no imperativo soa como comando pra quem está hesitando e precisa de um empurrãozinho, no caso um empurrão de si em si mesmo.
O se jogar se aplica em vária situações, principalmente aquelas em que não sabemos o resultado.
A gente "se joga" quando não há outra alternativa senão "pagar pra ver".
Como me ensinaram anos e anos de terapia, de nada adianta ficar elaborando.
Chega uma hora em que só conheceremos nossos limites se tentarmos.
E quanto antes você souber, melhor, porque só quando o seu limite é conhecido que dá pra fazer alguma coisa com ele.
Senão você corre o risco de não sair do limbo entre o que pode ser e o que poderia ter sido.
Melhor dar o salto que vai te levar para outras águas, sob o risco do seu aquário, que você pode estar dividindo com o que e quem não quer mais, ficar insuportavelmente apertado.
E mesmo correndo o risco de cair no seco, acredite: sempre há uma chance de aparecer uma mãozinha pra te salvar.
Uma palavra que nos atrai e repele ao mesmo tempo.
Nossa tendência é ficar na mesma, daí são mais raras as mudanças que partem de própria iniciativa.
Geralmente somos jogados no vendaval da mudança compulsoriamente, pelo fim de um relacionamento, emprego, morte de alguém próximo, uma oportunidade de trabalhar ou estudar fora e outros eventos decisivos da vida.
O que geralmente acontece é ficar, como na imagem acima, limitado ao seu pequeno aquário.
O mesmo trabalho, as mesmas relações, os mesmos lugares onde nos tornamos habitués.
Dentro desse algoritmo que se torna nossa rotina, como dentro do aquário, o mundo do lado de fora parece amplo e cheio de possibilidades.
Porque a lente do vidro não nos impede de enxergar outras possibilidades, mas limita o nosso nado em outras plagas aquáticas.
Tem uma gíria que expressa muito bem esse movimento de atravessar o limite do conhecido: jogar-se.
"Se joga" assim dito no imperativo soa como comando pra quem está hesitando e precisa de um empurrãozinho, no caso um empurrão de si em si mesmo.
O se jogar se aplica em vária situações, principalmente aquelas em que não sabemos o resultado.
A gente "se joga" quando não há outra alternativa senão "pagar pra ver".
Como me ensinaram anos e anos de terapia, de nada adianta ficar elaborando.
Chega uma hora em que só conheceremos nossos limites se tentarmos.
E quanto antes você souber, melhor, porque só quando o seu limite é conhecido que dá pra fazer alguma coisa com ele.
Senão você corre o risco de não sair do limbo entre o que pode ser e o que poderia ter sido.
Melhor dar o salto que vai te levar para outras águas, sob o risco do seu aquário, que você pode estar dividindo com o que e quem não quer mais, ficar insuportavelmente apertado.
E mesmo correndo o risco de cair no seco, acredite: sempre há uma chance de aparecer uma mãozinha pra te salvar.
quarta-feira, 22 de junho de 2016
O mascote que nos escolheu
A mascote (o substantivo é feminino) de uma olimpíada costuma ser algum animal ou personagem folclórico representativo do país.
Os do Rio são uma mistura de animais e de plantas brasileiros. Os nomes, Vinicius para a mascote olímpica e Tom para mascote paralímpico, são homenagens aos nossos artistas, escolhidos em votação do público.
Tudo muito simpático e democrático se a tradicional desorganização brasileira não entrasse em cena e apresentasse mais duas mascotes ao mundo: os mosquitos aedes aegypt e aedes albopictus, vetores da dengue, zika e chikungunya.
Seria motivo de vergonha, se essa fosse a única mancha de falta de estrutura para um evento desse porte.
O mundo também já sabe que nas provas de iatismo, disputadas na Baía da Guanabara, os atletas serão expostos aos riscos de contaminação pela água poluída.
Na arena da natação, atletas que participaram do evento teste reclamaram do calor.
Foi construído outro velódromo porque o que havia sido feito para o Pan de 2007 estava fora dos padrões olímpicos.
Assim como tinha acontecido na Copa, há indícios de que houve super-faturamento nas obras do Rio.
São tantos problemas que nessa reta final de preparação o comitê organizador pediu um aporte de emergência para o "país não passar vergonha".
Na Copa e agora na Olimpíada, fica patente o nosso despreparo, expondo a falta de estrutura de nossas cidades e explica porque há tanto a se desenvolver no turismo.
Também evidencia que eventos desse porte deveriam ser restritos a países ricos, porque é sabido que o investimento feito, que é maior onde não há tanta estrutura, não dá retorno, muito pelo contrário, deixa elefantes brancos como os estádios da África do Sul e Brasil.
Porque não é preciso ir muito longe para perceber que por aqui há muitas outras prioridades de investimento.
Pode-se alegar que quando nos candidatamos para Copa e Olimpíada, o país passava por um momento econômico histórico, com ascenção da classe baixa e um otimimsmo vislumbrado no horizonte como nunca visto.
Isso explica, mas não justifica nossa euforia megalomaníaca que ignorou, por exemplo, o revés econômico pós-olímpico grego.
Se agora, sob efeito de uma crise decorrente do maior rombo financeiro da história, os investimentos na Copa e na Olimpíada passam ao largo da pauta dos noticiários, isso não ameniza nossa irresponsabilidade.
O Brasil não foi escolhido país-sede duas vezes por ser o emergente da moda.
Mas sim pela ganância de políticos, empresas e comitês organizadores que vêem nesses grandes eventos a oportunidade de lucrar ilicitamente.
A verdade é que somos vítimas de um mal endêmico que não é transmitido por um mosquito, mas pelos genes mal formados de gerações de maus governantes.
Os do Rio são uma mistura de animais e de plantas brasileiros. Os nomes, Vinicius para a mascote olímpica e Tom para mascote paralímpico, são homenagens aos nossos artistas, escolhidos em votação do público.
Tudo muito simpático e democrático se a tradicional desorganização brasileira não entrasse em cena e apresentasse mais duas mascotes ao mundo: os mosquitos aedes aegypt e aedes albopictus, vetores da dengue, zika e chikungunya.
Seria motivo de vergonha, se essa fosse a única mancha de falta de estrutura para um evento desse porte.
O mundo também já sabe que nas provas de iatismo, disputadas na Baía da Guanabara, os atletas serão expostos aos riscos de contaminação pela água poluída.
Na arena da natação, atletas que participaram do evento teste reclamaram do calor.
Foi construído outro velódromo porque o que havia sido feito para o Pan de 2007 estava fora dos padrões olímpicos.
Assim como tinha acontecido na Copa, há indícios de que houve super-faturamento nas obras do Rio.
São tantos problemas que nessa reta final de preparação o comitê organizador pediu um aporte de emergência para o "país não passar vergonha".
Na Copa e agora na Olimpíada, fica patente o nosso despreparo, expondo a falta de estrutura de nossas cidades e explica porque há tanto a se desenvolver no turismo.
Também evidencia que eventos desse porte deveriam ser restritos a países ricos, porque é sabido que o investimento feito, que é maior onde não há tanta estrutura, não dá retorno, muito pelo contrário, deixa elefantes brancos como os estádios da África do Sul e Brasil.
Porque não é preciso ir muito longe para perceber que por aqui há muitas outras prioridades de investimento.
Pode-se alegar que quando nos candidatamos para Copa e Olimpíada, o país passava por um momento econômico histórico, com ascenção da classe baixa e um otimimsmo vislumbrado no horizonte como nunca visto.
Isso explica, mas não justifica nossa euforia megalomaníaca que ignorou, por exemplo, o revés econômico pós-olímpico grego.
Se agora, sob efeito de uma crise decorrente do maior rombo financeiro da história, os investimentos na Copa e na Olimpíada passam ao largo da pauta dos noticiários, isso não ameniza nossa irresponsabilidade.
O Brasil não foi escolhido país-sede duas vezes por ser o emergente da moda.
Mas sim pela ganância de políticos, empresas e comitês organizadores que vêem nesses grandes eventos a oportunidade de lucrar ilicitamente.
A verdade é que somos vítimas de um mal endêmico que não é transmitido por um mosquito, mas pelos genes mal formados de gerações de maus governantes.
terça-feira, 21 de junho de 2016
O ringue da rivalidade
Uma das coisas que mais me encantam como turista é a história local.
Não que eu morra de amores por um guia - prefiro o de papel ao de carne e osso - mas para mim o turismo não seria o mesmo sem os condimentos dos fatos históricos por trás do sítio visitado.
Mesmo em cidades como Roma, onde o currículo escolar pressupõe um conhecimento básico, a gente sempre se surpreende com alguma curiosidade pitoresca aprendida in loco.
No caso refiro-me à Piazza Navona, considerada um dos maiores ícones do barroco italiano.
A Navona, que antes abrigou o antigo estádio de Domiciano, foi palco de um embate entre uma das maiores rivalidades à época de sua construção, entre Bernini e Borromini.
Não se trata aqui de gladiadores, mas de renomados arquitetos que rivalizavam a preferência do papa na tarefa de adornar Roma com suas obras barrocas.
Pois corre à boca pequena - a local, não aquela que leva a Roma - que a Navona literalmente concretizou a antipatia mútua entre o bem relacionado Bernini e tímido Borromini.
Ao primeiro coube o privilégio de erigir a belíssima Fonte dos Quatros Rios (Fontana dei Quattro Fiumi), que fica no centro da praça e monopoliza as atenções.
Ao segundo, a igreja de Santa Agnese in Agone, bem em frente à fonte.
Segundo a lenda, Bernini não perdeu a chance de tirar uma casquinha de seu colega, construindo na fonte uma "gracinha" alusiva à igreja do rival.
Especula-se que a posição curvada de uma das estátuas em relação à igreja, com a mão à frente do rosto como se protegendo dela (vide as fotos abaixo), é uma insinuação de Bernini de que a igreja pudesse cair e atingí-la, sugerindo a pouca confiabilidade do trabalho de Borromini.
Eu sempre achei que o turismo é fascinante porque é quase impossível não se encantar com qualquer lugar novo minimamente interessante.
Mas se ao impacto da novidade do lugar se soma histórias pitorescas assim, daí viajar se torna irresistível.
Fonte dos Quatro Rios em frente à igreja de Santa Agnese in Agone
Detalhe da estátua se protegendo de uma "possível queda" da igreja. Ou, quem sabe, de sua feiúra arquitetônica.
Não que eu morra de amores por um guia - prefiro o de papel ao de carne e osso - mas para mim o turismo não seria o mesmo sem os condimentos dos fatos históricos por trás do sítio visitado.
Mesmo em cidades como Roma, onde o currículo escolar pressupõe um conhecimento básico, a gente sempre se surpreende com alguma curiosidade pitoresca aprendida in loco.
No caso refiro-me à Piazza Navona, considerada um dos maiores ícones do barroco italiano.
A Navona, que antes abrigou o antigo estádio de Domiciano, foi palco de um embate entre uma das maiores rivalidades à época de sua construção, entre Bernini e Borromini.
Não se trata aqui de gladiadores, mas de renomados arquitetos que rivalizavam a preferência do papa na tarefa de adornar Roma com suas obras barrocas.
Pois corre à boca pequena - a local, não aquela que leva a Roma - que a Navona literalmente concretizou a antipatia mútua entre o bem relacionado Bernini e tímido Borromini.
Ao primeiro coube o privilégio de erigir a belíssima Fonte dos Quatros Rios (Fontana dei Quattro Fiumi), que fica no centro da praça e monopoliza as atenções.
Ao segundo, a igreja de Santa Agnese in Agone, bem em frente à fonte.
Segundo a lenda, Bernini não perdeu a chance de tirar uma casquinha de seu colega, construindo na fonte uma "gracinha" alusiva à igreja do rival.
Especula-se que a posição curvada de uma das estátuas em relação à igreja, com a mão à frente do rosto como se protegendo dela (vide as fotos abaixo), é uma insinuação de Bernini de que a igreja pudesse cair e atingí-la, sugerindo a pouca confiabilidade do trabalho de Borromini.
Eu sempre achei que o turismo é fascinante porque é quase impossível não se encantar com qualquer lugar novo minimamente interessante.
Mas se ao impacto da novidade do lugar se soma histórias pitorescas assim, daí viajar se torna irresistível.
Fonte dos Quatro Rios em frente à igreja de Santa Agnese in Agone
Detalhe da estátua se protegendo de uma "possível queda" da igreja. Ou, quem sabe, de sua feiúra arquitetônica.
A jornada da mídia
Lebron James protagonizou nos últimos dias uma daquelas histórias que a mídia adora, uma chamada "jornada do herói" pronta para consumo.
Campeão da NBA pelos Cleveland Cavaliers, foi o responsável pelo fim de um jejum de 52 anos sem títulos da cidade sede, incluindo aí os times de basquete, futebol americano e beisebol. Foi o responsável, segundo alguns, pelo fim da "maldição" de Cleveland.
Isso superando a equipe sensação da NBA, o Golden State Warriors, que tinha sido o algoz dos Cavaliers na última temporada, tirando-lhe o doce da boca nos playoffs finais.
Para entender melhor o feito de James, é preciso considerar que ele começou sua carreira nos Cavaliers, mas "teve" que sair - episódio que lhe rendeu o epíteto de traidor - para se tornar bi-campeão no Miami Heat.
Daí, como todo bom filho, Lebron achou que era hora de voltar ao Cavaliers e se lançar ao desafio de trazer um inédito título para casa. E o fez com louvor, sendo considerado o jogador mais valioso dos 7 jogos finais, virando um placar adverso de 3 a 1.
Foi um feito e tanto, mas à parte o mérito de Lebron, que realmente jogou muito, claro que a mídia em geral se aproveitou para cercar a conquista de contornos dramáticos e épicos.
Primeiro que Lebron saiu e voltou para Cleveland porque quis, sempre assinando gordos contratos.
Ele também não ganhou o campeonato sozinho, mas estava cercado de excelentes jogadores.
Nas vitórias dos jogos 5 e 6, que decretaram o empate em 3 a 3, os Cavaliers chegaram ao final com um certa folga no placar.
De fato, Lebron foi decisivo nos momentos finais do desempate, onde num contra-ataque dá um salto espetacular e executa um toco mágico para impedir uma cesta dos Warriors, que poderia ser fatal àquela altura.
Mas isso é dos gênios como Michael Jordan e Pelé.
Por isso me irrita que a mídia use Lebron James como exemplo de superação, obstinação, blá-blá-blá para pessoas comuns.
O cara é um gênio do esporte, como é Kelly Slater, Michael Jordan, Michael Phelps.
Tá certo que atleta de alto nível precisa de foco para vencer, porque a disputa é equilibrada lá em cima.
Mas só chegam lá os muito talentosos e não me venham dizer que não.
O muito esforçado pode compor time, se destacar em um ou outro jogo, mas os decisivos serão sempre os mais talentosos.
Isso toda equipe, do esporte e da vida, sabe.
E paga fortunas por eles.
Campeão da NBA pelos Cleveland Cavaliers, foi o responsável pelo fim de um jejum de 52 anos sem títulos da cidade sede, incluindo aí os times de basquete, futebol americano e beisebol. Foi o responsável, segundo alguns, pelo fim da "maldição" de Cleveland.
Isso superando a equipe sensação da NBA, o Golden State Warriors, que tinha sido o algoz dos Cavaliers na última temporada, tirando-lhe o doce da boca nos playoffs finais.
Para entender melhor o feito de James, é preciso considerar que ele começou sua carreira nos Cavaliers, mas "teve" que sair - episódio que lhe rendeu o epíteto de traidor - para se tornar bi-campeão no Miami Heat.
Daí, como todo bom filho, Lebron achou que era hora de voltar ao Cavaliers e se lançar ao desafio de trazer um inédito título para casa. E o fez com louvor, sendo considerado o jogador mais valioso dos 7 jogos finais, virando um placar adverso de 3 a 1.
Foi um feito e tanto, mas à parte o mérito de Lebron, que realmente jogou muito, claro que a mídia em geral se aproveitou para cercar a conquista de contornos dramáticos e épicos.
Primeiro que Lebron saiu e voltou para Cleveland porque quis, sempre assinando gordos contratos.
Ele também não ganhou o campeonato sozinho, mas estava cercado de excelentes jogadores.
Nas vitórias dos jogos 5 e 6, que decretaram o empate em 3 a 3, os Cavaliers chegaram ao final com um certa folga no placar.
De fato, Lebron foi decisivo nos momentos finais do desempate, onde num contra-ataque dá um salto espetacular e executa um toco mágico para impedir uma cesta dos Warriors, que poderia ser fatal àquela altura.
Mas isso é dos gênios como Michael Jordan e Pelé.
Por isso me irrita que a mídia use Lebron James como exemplo de superação, obstinação, blá-blá-blá para pessoas comuns.
O cara é um gênio do esporte, como é Kelly Slater, Michael Jordan, Michael Phelps.
Tá certo que atleta de alto nível precisa de foco para vencer, porque a disputa é equilibrada lá em cima.
Mas só chegam lá os muito talentosos e não me venham dizer que não.
O muito esforçado pode compor time, se destacar em um ou outro jogo, mas os decisivos serão sempre os mais talentosos.
Isso toda equipe, do esporte e da vida, sabe.
E paga fortunas por eles.
segunda-feira, 20 de junho de 2016
Bonequinho de luxo
Acabei de ler "A sangue frio" e na sequência assisti a "Capote", filme que tem Philip Seymour Hoffman no papel-título.
Tanto no livro quanto no filme o meu principal interesse era conhecer a controversa figura de Truman Capote, escritor que com essa obra se auto-intitulou o criador do romance de não-fição.
Dizem que na verdade ele não foi criador do gênero, mas um aperfeiçoador.
Capote era um personagem de si mesmo, um escritor-jornalista da prestigiada revista New Yorker que frequentava as altas rodas nova-iorquinas e procurava seduzir a todos que os rodeavam.
Ao ler uma notícia sobre o assassinato dos Clutter, uma família de fazendeiros de um pacato lugarejo do Kansas, viu a oportunidade de escrever uma matéria para a revista, que seria editada em livro e se tornaria sua obra-prima.
O que Capote viu como oportunidade não era o relato do crime em si, mas o impacto deste numa pequena comunidade, onde os laços de amizade e confiança jamais seriam os mesmos.
O que mais me chamou a atenção na construção dessa história foi a relação de Capote com os personagens, principalmente com um dos assassinos, Perry Smith, relatada no filme.
Capote acompanhou de perto o processo judicial que levou os criminosos à forca, cuja sentença foi postergada em inúmeras apelações, que alegavam insanidade dos condenados.
Em certo momento começamos a duvidar se o envolvimento do escritor com seus próprios personagens não interfere no desenrolar dos acontecimentos, e se isso não alterou o que supostamente era pra ser um romance de não ficção.
Capote começa a sofrer com a morosidade do processo, não se sabe se pela relação que tem com Smith - de quem há suspeitas de que tenha virado amante - ou se pela demora em finalizar seu livro, que depende do desenlace do processo.
Daí vem a acusação ao escritor: a de que mesmo percebendo a insanidade dos criminosos, nada fez para pelo menos endossar a defesa dos advogados de apelação.
Essa omissão é questionável, já que na época a avaliação da capacidade do réu de responder por seus atos dependia da jurisdição local e no Kansas isso estava longe de ter respaldo científico.
"Torcendo" ou não pela morte capital dos condenados, o fato é que esta foi fundamental para a dramaticidade do livro, o que contribuiu para eternizar o autor de "Bonequinha de luxo".
Às vezes não há limites para a ambição de um artista, mas nesse caso a discussão da ética passava pelo assassinato covarde de uma bem quista família do interior dos EUA em 1959.
Colocando os devidos pesos na balança, Capote foi absolvido por nos entregar um dos maiores romances americanos da história.
Tanto no livro quanto no filme o meu principal interesse era conhecer a controversa figura de Truman Capote, escritor que com essa obra se auto-intitulou o criador do romance de não-fição.
Dizem que na verdade ele não foi criador do gênero, mas um aperfeiçoador.
Capote era um personagem de si mesmo, um escritor-jornalista da prestigiada revista New Yorker que frequentava as altas rodas nova-iorquinas e procurava seduzir a todos que os rodeavam.
Ao ler uma notícia sobre o assassinato dos Clutter, uma família de fazendeiros de um pacato lugarejo do Kansas, viu a oportunidade de escrever uma matéria para a revista, que seria editada em livro e se tornaria sua obra-prima.
O que Capote viu como oportunidade não era o relato do crime em si, mas o impacto deste numa pequena comunidade, onde os laços de amizade e confiança jamais seriam os mesmos.
O que mais me chamou a atenção na construção dessa história foi a relação de Capote com os personagens, principalmente com um dos assassinos, Perry Smith, relatada no filme.
Capote acompanhou de perto o processo judicial que levou os criminosos à forca, cuja sentença foi postergada em inúmeras apelações, que alegavam insanidade dos condenados.
Em certo momento começamos a duvidar se o envolvimento do escritor com seus próprios personagens não interfere no desenrolar dos acontecimentos, e se isso não alterou o que supostamente era pra ser um romance de não ficção.
Capote começa a sofrer com a morosidade do processo, não se sabe se pela relação que tem com Smith - de quem há suspeitas de que tenha virado amante - ou se pela demora em finalizar seu livro, que depende do desenlace do processo.
Daí vem a acusação ao escritor: a de que mesmo percebendo a insanidade dos criminosos, nada fez para pelo menos endossar a defesa dos advogados de apelação.
Essa omissão é questionável, já que na época a avaliação da capacidade do réu de responder por seus atos dependia da jurisdição local e no Kansas isso estava longe de ter respaldo científico.
"Torcendo" ou não pela morte capital dos condenados, o fato é que esta foi fundamental para a dramaticidade do livro, o que contribuiu para eternizar o autor de "Bonequinha de luxo".
Às vezes não há limites para a ambição de um artista, mas nesse caso a discussão da ética passava pelo assassinato covarde de uma bem quista família do interior dos EUA em 1959.
Colocando os devidos pesos na balança, Capote foi absolvido por nos entregar um dos maiores romances americanos da história.
Quadro a quadro
O que fazer quando você tem uma idéia blockbuster sem ter o orçamento correspondente?
Faça uma graphic novel.
A graphic novel, literalmente um romance gráfico, é uma evolução da tradicional história em quadrinhos.
Mais sofisticada e ambiciosa, já é considerada arte por muitos, permitindo o casamento bem sucedido entre ilustradores e escritores que enfileiram sucessos editoriais.
Minha experiência com HQs é ainda incipiente, mas do que li consigo vislumbrar infinitas possibilidades para uma narrativa.
O projeto de uma HQ é parecido com a confecção de livro, com a diferença do talento de um grande ilustrador.
O mercado, embora seja de nicho, é fiel e teoricamente consome com mais do o de livros, pois uma HQ leva poucas horas para ser lida.
A linguagem, que se utiliza inclusive de tomadas de câmera de cinema, aceita todo tipo de história. Até por questões técnicas, é mais difícil transpor o universo da HQ para o cinema do que o contrário.
As HQS podem não ter o alcance do cinema e da TV e nem o prestígio da literatura.
Mas como meio de expressão tem um potencial imenso para revelar novos talentos da narrativa, escrevendo ou desenhando.
Dispensa orçamentos robustos, dor de cabeça de produção, ego de atores e diretores.
E quando nas mãos de um leitor, soa tão grandiosa quanto o mais ruidoso dos blockbusters.
Com a vantagem de que o efeito sonoro é só um splash com uma onomatopéia.
Faça uma graphic novel.
A graphic novel, literalmente um romance gráfico, é uma evolução da tradicional história em quadrinhos.
Mais sofisticada e ambiciosa, já é considerada arte por muitos, permitindo o casamento bem sucedido entre ilustradores e escritores que enfileiram sucessos editoriais.
Minha experiência com HQs é ainda incipiente, mas do que li consigo vislumbrar infinitas possibilidades para uma narrativa.
O projeto de uma HQ é parecido com a confecção de livro, com a diferença do talento de um grande ilustrador.
O mercado, embora seja de nicho, é fiel e teoricamente consome com mais do o de livros, pois uma HQ leva poucas horas para ser lida.
A linguagem, que se utiliza inclusive de tomadas de câmera de cinema, aceita todo tipo de história. Até por questões técnicas, é mais difícil transpor o universo da HQ para o cinema do que o contrário.
As HQS podem não ter o alcance do cinema e da TV e nem o prestígio da literatura.
Mas como meio de expressão tem um potencial imenso para revelar novos talentos da narrativa, escrevendo ou desenhando.
Dispensa orçamentos robustos, dor de cabeça de produção, ego de atores e diretores.
E quando nas mãos de um leitor, soa tão grandiosa quanto o mais ruidoso dos blockbusters.
Com a vantagem de que o efeito sonoro é só um splash com uma onomatopéia.
O pretinho não básico
Em qualquer atividade criativa, fazer o óbvio quase sempre resulta no melhor.
Lembro de uma idéia simples que uma agência de propaganda teve, onde foi criado um canal via skype entre os velhinhos de um asilo americano e os alunos de uma escola de inglês, propiciando que uns preenchessem sua solidão enquanto outros aprimorassem o idioma. Simples e efetivo.
Na verdade qualquer um que encare o papel ou a tela em branco se depara com a dificuldade de encontrar essa idéia poderosa, ao mesmo tempo que se encanta quando ela de repente resolve dar o ar de sua graça, límpida, preciosa.
Em geral, como bem disse um famoso publicitário, uma grande idéia é como uma pepita de ouro, você pode até dar a sorte de achar uma na superfície, mas em geral vai ter que cavar muito para encontrar.
O que faz sentido, porque em quase todos os ramos da criatividade, as linguagens estão há tempos esgotadas, e o que se faz é reinventar dentro do que já existe.
Isso é fácil de perceber, porque tudo que é dito novo guarda um ranço de já visto, percorrido, de releitura.
O que não invalida a "nova" idéia, às vezes até notabiliza o autor como alguém que transita pela linguagem e dela extrai novos pontos de vista.
Por isso, se você é um criativo, nunca se intimide diante de uma sinuca de bico.
Não menospreze as pequenas chances de glória.
Vislumbre as oportunidades escondidas atrás das moitas do óbvio.
Porque mesmo o preto, que no quesito cor de roupa é a solução tida como segura e convencional, pode se converter no não usual.
O pretinho só é básico até o subvertermos.
Lembro de uma idéia simples que uma agência de propaganda teve, onde foi criado um canal via skype entre os velhinhos de um asilo americano e os alunos de uma escola de inglês, propiciando que uns preenchessem sua solidão enquanto outros aprimorassem o idioma. Simples e efetivo.
Na verdade qualquer um que encare o papel ou a tela em branco se depara com a dificuldade de encontrar essa idéia poderosa, ao mesmo tempo que se encanta quando ela de repente resolve dar o ar de sua graça, límpida, preciosa.
Em geral, como bem disse um famoso publicitário, uma grande idéia é como uma pepita de ouro, você pode até dar a sorte de achar uma na superfície, mas em geral vai ter que cavar muito para encontrar.
O que faz sentido, porque em quase todos os ramos da criatividade, as linguagens estão há tempos esgotadas, e o que se faz é reinventar dentro do que já existe.
Isso é fácil de perceber, porque tudo que é dito novo guarda um ranço de já visto, percorrido, de releitura.
O que não invalida a "nova" idéia, às vezes até notabiliza o autor como alguém que transita pela linguagem e dela extrai novos pontos de vista.
Por isso, se você é um criativo, nunca se intimide diante de uma sinuca de bico.
Não menospreze as pequenas chances de glória.
Vislumbre as oportunidades escondidas atrás das moitas do óbvio.
Porque mesmo o preto, que no quesito cor de roupa é a solução tida como segura e convencional, pode se converter no não usual.
O pretinho só é básico até o subvertermos.
O difícil fim
Não existe isso de que o difícil é começar.
Há coisas que são difíceis de iniciar, continuar e terminar.
Se for falar de final, me vem exemplos claros de como essa etapa é complicada.
Um texto, por exemplo, exige um fim.
Se o autor tiver expectativas muito elevadas sobre si mesmo, esse final será quase sempre parido com dificuldades.
Outro exemplo, no tênis dizem que a dificuldade da partida é finalizá-la.
Quando o tenista depende de seu serviço para comemorar a vitória, passa um turbilhão de coisas pela sua cabeça, o que dificulta manter o saque e chegar ao seu intento.
Um exemplo clássico é um relacionamento, indiscutivelmente pesaroso de se pôr um final.
É que o final quase sempre está associado a um novo começo, um lugar desconhecido e por isso temerário.
Finalizar significa encararmos o medo do vazio, do fracasso e mesmo do sucesso, que cria um incômodo interno, por mais que agradável.
Talvez o que ajude é acreditar que cada final seja apenas um trampolim de etapa pelo qual nossa vida precisa passar.
Até o último final que é a morte - ainda mais que tanta gente acredite que não seja o último.
Então, ainda que doa, não faz tanto sentido adiar finais que podem inaugurar novas etapas em nossas vidas.
Se a dificuldade vier na hora de botar um ponto final ali, lembre-se da frase que, ainda que manjada, ajuda nessas horas de indecisão: "Se não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim".
Mas eu também acredito que o fim seja fazer, independente de se chegar ao final desejado ou não.
Há coisas que são difíceis de iniciar, continuar e terminar.
Se for falar de final, me vem exemplos claros de como essa etapa é complicada.
Um texto, por exemplo, exige um fim.
Se o autor tiver expectativas muito elevadas sobre si mesmo, esse final será quase sempre parido com dificuldades.
Outro exemplo, no tênis dizem que a dificuldade da partida é finalizá-la.
Quando o tenista depende de seu serviço para comemorar a vitória, passa um turbilhão de coisas pela sua cabeça, o que dificulta manter o saque e chegar ao seu intento.
Um exemplo clássico é um relacionamento, indiscutivelmente pesaroso de se pôr um final.
É que o final quase sempre está associado a um novo começo, um lugar desconhecido e por isso temerário.
Finalizar significa encararmos o medo do vazio, do fracasso e mesmo do sucesso, que cria um incômodo interno, por mais que agradável.
Talvez o que ajude é acreditar que cada final seja apenas um trampolim de etapa pelo qual nossa vida precisa passar.
Até o último final que é a morte - ainda mais que tanta gente acredite que não seja o último.
Então, ainda que doa, não faz tanto sentido adiar finais que podem inaugurar novas etapas em nossas vidas.
Se a dificuldade vier na hora de botar um ponto final ali, lembre-se da frase que, ainda que manjada, ajuda nessas horas de indecisão: "Se não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim".
Mas eu também acredito que o fim seja fazer, independente de se chegar ao final desejado ou não.
domingo, 19 de junho de 2016
Segunda-feira
Lembro do cair da tarde de domingo na minha infância, onde a volta à rotina na segunda-feira era anunciada pela sinfonia melancólica do musiquinha do Fantástico.
Para quem ainda era criança e vivia na fantasia do prazer eterno, ser interrompido pelo prenúncio da semana era quase uma tragédia.
Hoje vejo como criança é mimada.
Além de estudar apenas meio período, eu tinha de 3 a 4 meses de férias anuais, o que seria um luxo até para um funcionário público marajá.
Brincar era prioridade do dia - jogava bola todas as tardes - e o resto entrava apenas para preencher agenda.
Mas depois que a gente cresce e vira "trabalhador", tudo se inverte.
Percebemos o quanto éramos felizes na nossa ignorância de criança.
O trabalho passa a absorver quase todo o nosso tempo e as horas vagas quase sempre são preenchidas com obrigacões sociais, principalmente com a família.
O pouco de tempo pra você mesmo, muitas vezes acaba ocupado com investimento na própria carreira, como num esporte para desestressar ou num curso de reciclagem.
Dizem que nossa aversão à segunda-feira é amenizada e até anulada quando encontramos nossa vocação e o trabalho passa a ser confundir com prazer.
Ok, mas voltando aos primórdios da vida, não lembro de ter que confundir nada com nada para ser feliz.
Brincar não era meu trabalho, até porque não tinha horário, chefe nem tarefas com prazo.
O que mais se aproximava disso era a lição de casa.
Brincar, embora pudesse ter hierarquia, pagava a todos com prazer igualmente.
Muitas vezes, quem recebia menos "trabalho" na brincadeira era quem reclamava.
Brincar era tão importante que se sobrepunha a coisas menos importantes, como comer.
Por isso não misturemos as coisas.
A gente pode sim encontrar um trabalho pra fazer com muito prazer.
Mas até aí há uma distância entre trabalhar e brincar, pelo menos o brincar da nosso infância.
Brincar era algo sagrado, que a gente não queria que fosse interrompido por nada, muito menos por uma segunda-feira.
Tão importante que às brincadeiras era destinado pelo menos meio dia, todo dia.
E quando tirávamos férias, era para brincar ainda mais, então não podia ser trabalho, mesmo.
Para quem ainda era criança e vivia na fantasia do prazer eterno, ser interrompido pelo prenúncio da semana era quase uma tragédia.
Hoje vejo como criança é mimada.
Além de estudar apenas meio período, eu tinha de 3 a 4 meses de férias anuais, o que seria um luxo até para um funcionário público marajá.
Brincar era prioridade do dia - jogava bola todas as tardes - e o resto entrava apenas para preencher agenda.
Mas depois que a gente cresce e vira "trabalhador", tudo se inverte.
Percebemos o quanto éramos felizes na nossa ignorância de criança.
O trabalho passa a absorver quase todo o nosso tempo e as horas vagas quase sempre são preenchidas com obrigacões sociais, principalmente com a família.
O pouco de tempo pra você mesmo, muitas vezes acaba ocupado com investimento na própria carreira, como num esporte para desestressar ou num curso de reciclagem.
Dizem que nossa aversão à segunda-feira é amenizada e até anulada quando encontramos nossa vocação e o trabalho passa a ser confundir com prazer.
Ok, mas voltando aos primórdios da vida, não lembro de ter que confundir nada com nada para ser feliz.
Brincar não era meu trabalho, até porque não tinha horário, chefe nem tarefas com prazo.
O que mais se aproximava disso era a lição de casa.
Brincar, embora pudesse ter hierarquia, pagava a todos com prazer igualmente.
Muitas vezes, quem recebia menos "trabalho" na brincadeira era quem reclamava.
Brincar era tão importante que se sobrepunha a coisas menos importantes, como comer.
Por isso não misturemos as coisas.
A gente pode sim encontrar um trabalho pra fazer com muito prazer.
Mas até aí há uma distância entre trabalhar e brincar, pelo menos o brincar da nosso infância.
Brincar era algo sagrado, que a gente não queria que fosse interrompido por nada, muito menos por uma segunda-feira.
Tão importante que às brincadeiras era destinado pelo menos meio dia, todo dia.
E quando tirávamos férias, era para brincar ainda mais, então não podia ser trabalho, mesmo.
A Berlim em todos nós
Berlim foi pra mim uma surpresa agradável.
Era uma cidade bem recomendada, tanto por amigos como por matérias de revistas, que elogiavam sua contemporaneidade e efervescência, decorrentes de uma reconstrução pós-guerra.
Foi exatamente isso que encontrei, uma capital européia diferente por não possuir um centro histórico "engolido" pela cidade nova, mas um divisão de conotação política entre leste e oeste.
Que também pode ser interpretada como entre passado e futuro, romantismo e pragmatismo.
A lembrança nazista permeia toda a cidade, em memoriais e museus que não deixam nos esquecer de nada, como se o passado negro fosse uma conta que não fecha para os alemães.
Em meio à contemplação da cidade, que ao sombrio memorial nazista contrapõe mostras de boa receptividade, imaginei se Berlim não seria uma boa metáfora do ser humano.
O muro não está mais lá, só alguns trechos explorados pelo turismo, mas isso até ajuda a analogia.
Assim como Berlim, não temos em nós uma demarcação clara de territórios.
O bem e o mal não estão claramente delimitados.
Nossa racionalidade e irracionalidade convivem e dividem nossos corações e mentes.
A vontade de passar por cima do passado é tão forte quando a de preservâ-lo - até para não esquecer o que nos trouxe aqui, como Berlim.
Pensando por esse viés, consigo entender porque fiquei tão encantado por Berlim, apesar de ser uma cidade tão sui generis entre as capitais européias.
É que, para mim, à parte seus museus interessantes, seus charmosos e descolados antigos bairros comunistas e suas baladas eletrônicas de vanguarda, Berlim conquista por sua anarquia.
Uma anarquia não premeditada que encontra correspondência com nosso íntimo, onde valores e opiniões antagônicos por vezes se fundem, nos tornando um caldo interessante de influências como é a capital alemã.
Era uma cidade bem recomendada, tanto por amigos como por matérias de revistas, que elogiavam sua contemporaneidade e efervescência, decorrentes de uma reconstrução pós-guerra.
Foi exatamente isso que encontrei, uma capital européia diferente por não possuir um centro histórico "engolido" pela cidade nova, mas um divisão de conotação política entre leste e oeste.
Que também pode ser interpretada como entre passado e futuro, romantismo e pragmatismo.
A lembrança nazista permeia toda a cidade, em memoriais e museus que não deixam nos esquecer de nada, como se o passado negro fosse uma conta que não fecha para os alemães.
Em meio à contemplação da cidade, que ao sombrio memorial nazista contrapõe mostras de boa receptividade, imaginei se Berlim não seria uma boa metáfora do ser humano.
O muro não está mais lá, só alguns trechos explorados pelo turismo, mas isso até ajuda a analogia.
Assim como Berlim, não temos em nós uma demarcação clara de territórios.
O bem e o mal não estão claramente delimitados.
Nossa racionalidade e irracionalidade convivem e dividem nossos corações e mentes.
A vontade de passar por cima do passado é tão forte quando a de preservâ-lo - até para não esquecer o que nos trouxe aqui, como Berlim.
Pensando por esse viés, consigo entender porque fiquei tão encantado por Berlim, apesar de ser uma cidade tão sui generis entre as capitais européias.
É que, para mim, à parte seus museus interessantes, seus charmosos e descolados antigos bairros comunistas e suas baladas eletrônicas de vanguarda, Berlim conquista por sua anarquia.
Uma anarquia não premeditada que encontra correspondência com nosso íntimo, onde valores e opiniões antagônicos por vezes se fundem, nos tornando um caldo interessante de influências como é a capital alemã.
It's up to you
É um paradoxo, mas às vezes precisamos de um tempinho pra perceber como o tempo se esvai rapidamente.
E nada como uma limpeza nos seus emails, que são datados, para perceber nossa efemeridade.
Eu fiz isso hoje.
E percebi mais uma vez pasmo, que já estou há 3,4,5 anos de eventos que parecem mesmo que aconteceram ontem.
Isso me faz despertar para o melhor uso do tempo que me resta e, mais importante, na definição de prioridades.
Porque se existe um benefício do tempo, é o auto-conhecimento e com ele, a possibilidade de escolher como você quer viver, até porque a responsabilidade sobre isso é totalmente nossa.
Depois dos 20 anos de idade não dá mais pra culpar papai e mamãe.
O que nos acontece ou, pior, não nos acontece, é 90% fruto da nossa intenção ou a ausência dela - vamos reservar uns 10% ao acaso, sorte e como você quiser chamar isso.
Mas falando em prioridades, como é possível estabelecê-las?
Nem sempre é fácil, principalmente em se falando de prioridades pessoais, que às vezes carregam uma pecha egoísta.
É o caso quando uma prioridade exige uma mudança que muitas vezes está condicionada a compromissos que assumimos com outras pessoas.
Por exemplo, mudar de cidade por motivo profissional pode depender de priorizarmos a família ou a carreira.
Mas quanto podemos ceder ou sacrificar pelos outros em detrimento dos nossos planos?
De novo, depende da sua prioridade.
Se ela for a família, nem sempre dá pra fazer loucuras, a não ser que a sua esposa ou marido banque a mudança.
Mas o que muitas vezes acontece e deveríamos nos analisar para evitar, é nos esconder atrás de desculpas.
Normal usar a família como impeditivo para tentar realizar seus sonhos, e em muitos casos você faz isso quando não quer realmente se arriscar ou tem medo.
Mas e se o seu sonho for genuíno?
Mesmo que seja difícil perceber isso, não é motivo para não empreender a mudança.
Porque pode acontecer da gente não saber a importância dessa mudança até que a façamos e comecemos a sentir os primeiros benefícios dela.
Uma escolha exclui a outra e às vezes não sentimos o quanto ficar na situação atual nos incomoda, limita, agride nossa alma.
Recomeçar é sempre difícil e exige esforço e fé redobrada.
E mesmo que não tenhamos pela frente o mesmo tempo de quando éramos jovens, a qualidade do tempo que nos resta é primoridial.
Então, banque-se.
Só você tem o direito e o dever de se cobrar lá na frente.
E nada como uma limpeza nos seus emails, que são datados, para perceber nossa efemeridade.
Eu fiz isso hoje.
E percebi mais uma vez pasmo, que já estou há 3,4,5 anos de eventos que parecem mesmo que aconteceram ontem.
Isso me faz despertar para o melhor uso do tempo que me resta e, mais importante, na definição de prioridades.
Porque se existe um benefício do tempo, é o auto-conhecimento e com ele, a possibilidade de escolher como você quer viver, até porque a responsabilidade sobre isso é totalmente nossa.
Depois dos 20 anos de idade não dá mais pra culpar papai e mamãe.
O que nos acontece ou, pior, não nos acontece, é 90% fruto da nossa intenção ou a ausência dela - vamos reservar uns 10% ao acaso, sorte e como você quiser chamar isso.
Mas falando em prioridades, como é possível estabelecê-las?
Nem sempre é fácil, principalmente em se falando de prioridades pessoais, que às vezes carregam uma pecha egoísta.
É o caso quando uma prioridade exige uma mudança que muitas vezes está condicionada a compromissos que assumimos com outras pessoas.
Por exemplo, mudar de cidade por motivo profissional pode depender de priorizarmos a família ou a carreira.
Mas quanto podemos ceder ou sacrificar pelos outros em detrimento dos nossos planos?
De novo, depende da sua prioridade.
Se ela for a família, nem sempre dá pra fazer loucuras, a não ser que a sua esposa ou marido banque a mudança.
Mas o que muitas vezes acontece e deveríamos nos analisar para evitar, é nos esconder atrás de desculpas.
Normal usar a família como impeditivo para tentar realizar seus sonhos, e em muitos casos você faz isso quando não quer realmente se arriscar ou tem medo.
Mas e se o seu sonho for genuíno?
Mesmo que seja difícil perceber isso, não é motivo para não empreender a mudança.
Porque pode acontecer da gente não saber a importância dessa mudança até que a façamos e comecemos a sentir os primeiros benefícios dela.
Uma escolha exclui a outra e às vezes não sentimos o quanto ficar na situação atual nos incomoda, limita, agride nossa alma.
Recomeçar é sempre difícil e exige esforço e fé redobrada.
E mesmo que não tenhamos pela frente o mesmo tempo de quando éramos jovens, a qualidade do tempo que nos resta é primoridial.
Então, banque-se.
Só você tem o direito e o dever de se cobrar lá na frente.
sexta-feira, 17 de junho de 2016
A rainha da sucata
Entendo pouco de arte.
Sou mais um admirador de estética do que alguém capacitado para julgar valor artístico, ainda que este seja um conceito relativo.
O que sei é que não gosto de arte "esquisita" como o tubarão do Damien Hirst.
Me apego a um critério pessoal, que tem que responder a perguntas como "É difícil de fazer, tem técnica?", "Tem criatividade?", "Encanta?".
Por isso considero a escultora americana Carl Lane uma grande artista.
Alguns poderiam classificar seu trabalho como um artesanato sofisticado.
Mas bota sofisticado nisso, não é mesmo?
O que ela consegue fazer com ferro velho, seja um tambor, uma carrinho de mão ou carcaças de carro é de uma beleza estonteante, coisa de maluco.
Se sua obra será reconhecida e eternizada, é difícil dizer.
Não é um trabalho com potencial inovador, algo que oxigene as artes.
É simplesmente belo.
Mas prefiro o belo ao feio transgressor.
Sou mais um admirador de estética do que alguém capacitado para julgar valor artístico, ainda que este seja um conceito relativo.
O que sei é que não gosto de arte "esquisita" como o tubarão do Damien Hirst.
Me apego a um critério pessoal, que tem que responder a perguntas como "É difícil de fazer, tem técnica?", "Tem criatividade?", "Encanta?".
Por isso considero a escultora americana Carl Lane uma grande artista.
Alguns poderiam classificar seu trabalho como um artesanato sofisticado.
Mas bota sofisticado nisso, não é mesmo?
O que ela consegue fazer com ferro velho, seja um tambor, uma carrinho de mão ou carcaças de carro é de uma beleza estonteante, coisa de maluco.
Se sua obra será reconhecida e eternizada, é difícil dizer.
Não é um trabalho com potencial inovador, algo que oxigene as artes.
É simplesmente belo.
Mas prefiro o belo ao feio transgressor.
O ícone definitivo
Carisma é uma coisa inexplicável.
Coisa que por diferentes motivos se vê num Romário, num Lula (pelo menos, tinha), num Clinton, numa Gisele Bundchen, num Federer, o que não é consequência de fama e sucesso, mas antes causa destes.
Vou falar de Federer, cuja carreira acompanho há algum tempo.
Surgiu num hiato de talentos, quando a geração de Agassi e Sampras estava se aposentando, e sucessores como Hewitt, Safin, Guga, Roddick e Ferreiro, por falta de talento, cabeça ou físico, não davam mostras de poder se sustentar no topo.
Assim Federer foi acumulando conquistas e consolidando uma era, que só seria ofuscada pelo surgimento de Nadal, sua grande pedra no sapato.
Mas à parte ser um grande campeão, o que explica o magnetismo que Federer exerce sobre o público, sendo o preferido da maioria dos fãs de tênis?
É um pacote de virtudes que fazem dele o ícone perfeito de um esporte que ainda é de elite.
Começando pelo seu talento natural.
Federer faz parecer fácil jogar tênis, executando com perfeição um arsenal completo de golpes com uma ou outra deficiência.
Isso aliado ao seu espírito vencedor, o fez campeão de tudo, sendo até hoje o maior vencedor de grand slams, um marca que conta muito para aferir o melhor jogador.
Ele também se esmera em elegância, no jeito de se vestir e de se portar dentro de fora das quadras, outro item que conta pontos para o refinado ambiente do tênis.
Essa elegância, que inclui um casamento sólido e 4 filhos - sua esposa é uma ex-tenista que não chegar a ser uma beldade e não faz o tipo maria-raquete, o que ajuda - o capacitou para ser de longe o melhor embaixador para marcas de prestígio como Rolex, Moet & Chandon, Mercedes, Lindt, etc.
Consta que seu bom-mocismo e gentileza são naturais, atestado por um jornalista brasileiro, que estava hospedado no mesmo hotel de um Federer ainda adolescente e viu sua mulher receber uma gentileza do futuro campeão, que não só segurou um elevador quando solicitado por ela, como saiu de dentro para deixá-la entrar primeiro. Coisa de cavalheiro.
Ok, até em função de seu talento e um pouco de soberba, Federer tem uns defeitos que irritam seus fãs.
Por exemplo, devido a um estilo de jogo puramente intuitivo, ele é pouco aplicado taticamente, nunca joga em função do adversário e acaba perdendo jogos e campeonatos por puro orgulho.
Mas quem é fã do tênis clássico, plástico e competitivo de Federer com certeza sentirá uma ressaca quando ele se aposentar.
Um dia que está cada vez mais próximo, à medida que vemos seu tênis se tornando insuficiente para fazer frente a Djokovic e à geração com fome de bola que está subindo agora, onde se destacam Thiem, Kirgyos, Zverev e Coric.
Já dá pra imaginar Federer e Nadal se encontrando pelos quatro cantos do mundo e relembrando os bons tempos de sua rivalidade, coisa de que, com o domínio absoluto de um Djokovic brilhante mas insosso, conseguimos sentir uma nostalgia antecipada.
Coisa que por diferentes motivos se vê num Romário, num Lula (pelo menos, tinha), num Clinton, numa Gisele Bundchen, num Federer, o que não é consequência de fama e sucesso, mas antes causa destes.
Vou falar de Federer, cuja carreira acompanho há algum tempo.
Surgiu num hiato de talentos, quando a geração de Agassi e Sampras estava se aposentando, e sucessores como Hewitt, Safin, Guga, Roddick e Ferreiro, por falta de talento, cabeça ou físico, não davam mostras de poder se sustentar no topo.
Assim Federer foi acumulando conquistas e consolidando uma era, que só seria ofuscada pelo surgimento de Nadal, sua grande pedra no sapato.
Mas à parte ser um grande campeão, o que explica o magnetismo que Federer exerce sobre o público, sendo o preferido da maioria dos fãs de tênis?
É um pacote de virtudes que fazem dele o ícone perfeito de um esporte que ainda é de elite.
Começando pelo seu talento natural.
Federer faz parecer fácil jogar tênis, executando com perfeição um arsenal completo de golpes com uma ou outra deficiência.
Isso aliado ao seu espírito vencedor, o fez campeão de tudo, sendo até hoje o maior vencedor de grand slams, um marca que conta muito para aferir o melhor jogador.
Ele também se esmera em elegância, no jeito de se vestir e de se portar dentro de fora das quadras, outro item que conta pontos para o refinado ambiente do tênis.
Essa elegância, que inclui um casamento sólido e 4 filhos - sua esposa é uma ex-tenista que não chegar a ser uma beldade e não faz o tipo maria-raquete, o que ajuda - o capacitou para ser de longe o melhor embaixador para marcas de prestígio como Rolex, Moet & Chandon, Mercedes, Lindt, etc.
Consta que seu bom-mocismo e gentileza são naturais, atestado por um jornalista brasileiro, que estava hospedado no mesmo hotel de um Federer ainda adolescente e viu sua mulher receber uma gentileza do futuro campeão, que não só segurou um elevador quando solicitado por ela, como saiu de dentro para deixá-la entrar primeiro. Coisa de cavalheiro.
Ok, até em função de seu talento e um pouco de soberba, Federer tem uns defeitos que irritam seus fãs.
Por exemplo, devido a um estilo de jogo puramente intuitivo, ele é pouco aplicado taticamente, nunca joga em função do adversário e acaba perdendo jogos e campeonatos por puro orgulho.
Mas quem é fã do tênis clássico, plástico e competitivo de Federer com certeza sentirá uma ressaca quando ele se aposentar.
Um dia que está cada vez mais próximo, à medida que vemos seu tênis se tornando insuficiente para fazer frente a Djokovic e à geração com fome de bola que está subindo agora, onde se destacam Thiem, Kirgyos, Zverev e Coric.
Já dá pra imaginar Federer e Nadal se encontrando pelos quatro cantos do mundo e relembrando os bons tempos de sua rivalidade, coisa de que, com o domínio absoluto de um Djokovic brilhante mas insosso, conseguimos sentir uma nostalgia antecipada.
quarta-feira, 15 de junho de 2016
Sobre Florian Aupetit
Uma atmosfera que pode ser de sonho, contemplação, ternura, apocalipse.
Mas sempre de muita beleza.
Esse é o universo retratado pelo francês Florian Aupetit, um ilustrador talentoso.
Admiro artistas plásticos por vários motivos.
Fico encantado pela pinceladas vigorosas de um Van Gogh.
Sou atraído pela melancolia de um Edward Hopper.
E não consigo entender como o estilo caótico do Pollock consegue ser tão harmonioso.
Assim como o bom gosto do trabalho do Florian Aupetit me fisgou de imediato.
Às vezes ele pode ser terno como uma fábula.
Outras sombrio como uma tragédia.
Imagens que de tão contemplativas nos hipnotizam e nos transportam para dentro da cena, como deve ser a arte.
Me fazem lembrar um grande paisagista que admiro, o alemão Caspar David Friedrich, como se Aupetit fosse uma versão "wallpaper" dele.
A arte me faz querer enxergar a vida como ela dever ser vista: pelo seu aspecto mais belo, mesmo que subjacente à aparente crueza, feiúra, insipidez.
É isso que são os quadros, janelas de sonho que rasgam a monotonia da parede e funcionam como rota de fuga do tédio.
Pintores, escultores, músicos, escritores, cineastas, arquitetos, designers, dramaturgos, chefs de cozinha.
A humanidade assim é chamada por causa deles.
Mas sempre de muita beleza.
Esse é o universo retratado pelo francês Florian Aupetit, um ilustrador talentoso.
Admiro artistas plásticos por vários motivos.
Fico encantado pela pinceladas vigorosas de um Van Gogh.
Sou atraído pela melancolia de um Edward Hopper.
E não consigo entender como o estilo caótico do Pollock consegue ser tão harmonioso.
Assim como o bom gosto do trabalho do Florian Aupetit me fisgou de imediato.
Às vezes ele pode ser terno como uma fábula.
Outras sombrio como uma tragédia.
Imagens que de tão contemplativas nos hipnotizam e nos transportam para dentro da cena, como deve ser a arte.
Me fazem lembrar um grande paisagista que admiro, o alemão Caspar David Friedrich, como se Aupetit fosse uma versão "wallpaper" dele.
A arte me faz querer enxergar a vida como ela dever ser vista: pelo seu aspecto mais belo, mesmo que subjacente à aparente crueza, feiúra, insipidez.
É isso que são os quadros, janelas de sonho que rasgam a monotonia da parede e funcionam como rota de fuga do tédio.
Pintores, escultores, músicos, escritores, cineastas, arquitetos, designers, dramaturgos, chefs de cozinha.
A humanidade assim é chamada por causa deles.
Sobre "O quarto de Jack" (spoiler)
Se o critério para ganhar o Oscar fosse originalidade, o prêmio seria de "O quarto de Jack" (Room).
Aqui existe uma grande idéia: uma mãe sequestrada cria todo um mundo imaginário para o filho que nasceu no cativeiro e não conhece nada além do que acontece entre quatro paredes.
Quatro paredes mesmo, porque o pequeno e claustrofóbico quarto só tem acesso à luz natural por um tipo de clarabóia no teto.
Tirando as "visitas" do sequestrador à cama da mulher, mãe e filho só tem um ao outro e as fantasias que ela inventa pra ele.
Tudo se encaminha para crermos que a história vai ficar restrita às tentativas de fuga da dupla, como num típico thriller.
Mas quando a fuga acontece, só estamos no meio do filme.
A trama se desenvolve para valer quando é abordada a readaptação da família e da mãe, que foi sequestrada há 7 anos com a idade de 17, à nova situação.
Percebemos o estranhamento da volta ao seu quarto intocado de adolescente, agora como mãe de um filho ilegítimo.
Enfim, nos damos conta do estrago que o sequestro fez na vida da garota e naquela família.
Uma idéia original e bem contada, aditivada pela química entre Brie Larson (Oscar de melhor atriz) e Jack Tremblay. Com "coadjuvância" não menos brilhante de Joan Allen e William H. Macy.
Para mim, o Oscar moral de melhor filme.
Aqui existe uma grande idéia: uma mãe sequestrada cria todo um mundo imaginário para o filho que nasceu no cativeiro e não conhece nada além do que acontece entre quatro paredes.
Quatro paredes mesmo, porque o pequeno e claustrofóbico quarto só tem acesso à luz natural por um tipo de clarabóia no teto.
Tirando as "visitas" do sequestrador à cama da mulher, mãe e filho só tem um ao outro e as fantasias que ela inventa pra ele.
Tudo se encaminha para crermos que a história vai ficar restrita às tentativas de fuga da dupla, como num típico thriller.
Mas quando a fuga acontece, só estamos no meio do filme.
A trama se desenvolve para valer quando é abordada a readaptação da família e da mãe, que foi sequestrada há 7 anos com a idade de 17, à nova situação.
Percebemos o estranhamento da volta ao seu quarto intocado de adolescente, agora como mãe de um filho ilegítimo.
Enfim, nos damos conta do estrago que o sequestro fez na vida da garota e naquela família.
Uma idéia original e bem contada, aditivada pela química entre Brie Larson (Oscar de melhor atriz) e Jack Tremblay. Com "coadjuvância" não menos brilhante de Joan Allen e William H. Macy.
Para mim, o Oscar moral de melhor filme.
Tirar da gaveta
Hoje me entreguei à homérica tarefa de limpar uma gaveta de documentos.
Checar a importância de cada papel e descartar o inútil, lembram o que é isso?
Leva horas, graças àquele medinho de precisar daquele pedaço de papel que tencionamos jogar - isso raramente acontece.
No meio da papelada, encontro toda sorte de inutilidade, que dá até raiva de não ter me livrado logo que veio parar na minha vida: botões de reposição de peças de roupa, moedas nacionais e estrangeiras, chaves que você nem sabe mais o que abrem, celulares velhos, carregadores, fones de ouvido, cartões de todos os tipos, inclusive os de visita, cheques de contas que você nem tem mais, recibos, certificados de garantia, ufa.
Tudo isso faz entender que é a gente que complica o viver, inventando todo tipo de garantias quando na realidade não há nenhuma.
É isso, viver não tem garantias.
Talvez esse hábito de guardar o "importante" acabe incutindo em nós a necessidade de que todos os nossos passos precisam ser medidos, planejados, documentados.
Pode ser que fiquemos inconscientemente menos propensos ao risco, ao novo, aos saltos sem rede.
Quem sabe até a necessidade de limpar a gaveta tenha a ver com isso: a vontade de vencer o marasmo, vasculhando nosso passado e percebendo o quanto as garantias de nada valem.
Afinal, que percentual daquela papelada você precisou de fato consultar depois? 1%, se muito.
Eu sei, o "vai que" e o "seguro morreu de velho" insistem em manter nosso pézinho lá atrás sempre que ousamos querer dar um passo maior que a perna.
Mas não é disso que são feitos os sonhos?
Mais do que de passos, de largos saltos triplos?
Sim, projetos são isso.
Devaneios rascunhados, idealizados, feitos para ser grandiosos.
Nada a ver com a chatice dos contratos, notas, relatórios, etc.
Por isso não basta tirar o projeto da gaveta.
Também é preciso desocupá-la de todas as nossas crenças negativas, que impedem os sonhos de ganhar asas.
Jogar fora tudo de que não precisamos mais.
E assim, acomodar o novo.
Checar a importância de cada papel e descartar o inútil, lembram o que é isso?
Leva horas, graças àquele medinho de precisar daquele pedaço de papel que tencionamos jogar - isso raramente acontece.
No meio da papelada, encontro toda sorte de inutilidade, que dá até raiva de não ter me livrado logo que veio parar na minha vida: botões de reposição de peças de roupa, moedas nacionais e estrangeiras, chaves que você nem sabe mais o que abrem, celulares velhos, carregadores, fones de ouvido, cartões de todos os tipos, inclusive os de visita, cheques de contas que você nem tem mais, recibos, certificados de garantia, ufa.
Tudo isso faz entender que é a gente que complica o viver, inventando todo tipo de garantias quando na realidade não há nenhuma.
É isso, viver não tem garantias.
Talvez esse hábito de guardar o "importante" acabe incutindo em nós a necessidade de que todos os nossos passos precisam ser medidos, planejados, documentados.
Pode ser que fiquemos inconscientemente menos propensos ao risco, ao novo, aos saltos sem rede.
Quem sabe até a necessidade de limpar a gaveta tenha a ver com isso: a vontade de vencer o marasmo, vasculhando nosso passado e percebendo o quanto as garantias de nada valem.
Afinal, que percentual daquela papelada você precisou de fato consultar depois? 1%, se muito.
Eu sei, o "vai que" e o "seguro morreu de velho" insistem em manter nosso pézinho lá atrás sempre que ousamos querer dar um passo maior que a perna.
Mas não é disso que são feitos os sonhos?
Mais do que de passos, de largos saltos triplos?
Sim, projetos são isso.
Devaneios rascunhados, idealizados, feitos para ser grandiosos.
Nada a ver com a chatice dos contratos, notas, relatórios, etc.
Por isso não basta tirar o projeto da gaveta.
Também é preciso desocupá-la de todas as nossas crenças negativas, que impedem os sonhos de ganhar asas.
Jogar fora tudo de que não precisamos mais.
E assim, acomodar o novo.
terça-feira, 14 de junho de 2016
A ressaca que não passa
Hoje é o dia da segunda queda de Dunga na seleção brasileira, após a desclassificação na Copa América.
O substituto, Tite, maior arauto do futebol moderno dentro do Brasil, está prestes a ser anunciado como substituto.
Estamos a 2 anos do fatídico 7x1, o nosso 11 de setembro futebolístico que capou nosso até então maior orgulho nacional, o de sermos a terra prometida do esporte bretão.
Agora, por que demoramos tanto tempo para acordar?
Ora, como se fácil se refazer de uma surra dessas.
Durante anos nos arrogamos ser inquestionavelmente os melhores, os abençoados pelos deuses do esporte mais popular e mais amado do planeta.
Mesmo dolorosas derrotas eram atribuídas à falta de sorte, a um errinho bobo na preparação, a fatalidades desculpáveis que não chegavam a arranhar nossa posição de primazia.
No fundo no fundo nunca éramos derrotados.
No máximo caímos de pé ou fomos campeões morais.
Dentro do amadorismo festivo que caraterizou a gestão do nosso futebol, o culpado era sempre a falta de talentos ou de comando, mas nunca o esgotamento de um modelo.
Agora, sem uma geração de craques para disfarçar nossa falência, enfim acordamos da letargia para reconhecer que ficamos para trás.
O futebol evoluiu e carregou com ele os que cedo se aperceberam e se adaptaram.
Há tempos que ele é um esporte muito mais físico, coletivo e principalmente, organizado.
Dizer que seu sucesso depende de vários fatores, principalmente fora do campo, é insistir em algo que está evidente há muito tempo.
Essa quebra de paradigma e troca de guarda acontece o tempo todo, em todos os aspectos da vida.
Às vezes não queremos aceitar que nosso jeito de pensar não é mais imperioso em uma determinada atividade, que não somos mais o exemplo a ser respeitado e seguido.
As mudanças são mais facilmente aceitas em atividades onde elas são a essência, como a área de tecnologia.
Mas são de assimilação mais lenta num terreno onde a solução se fiou sempre na improvisação, na figura do herói capaz de na dificuldade sacar da cartola um gol mágico e salvador.
Por isso custamos a acreditar que a casa caiu.
Insistimos nos remédios do paternalismo e da linha dura, representados por técnicos de repertório tacanho como Felipão e Dunga.
Não que o Tite irá resolver tudo sozinho.
Ele é apenas a peça principal de uma engrenagem que precisa ser inteiramente recomposta.
Como a gente às vezes necessita refazer toda a rota para chegar a um destino desconhecido.
De preferência sem ter que levar um 7 a 1 pra recomeçar.
O substituto, Tite, maior arauto do futebol moderno dentro do Brasil, está prestes a ser anunciado como substituto.
Estamos a 2 anos do fatídico 7x1, o nosso 11 de setembro futebolístico que capou nosso até então maior orgulho nacional, o de sermos a terra prometida do esporte bretão.
Agora, por que demoramos tanto tempo para acordar?
Ora, como se fácil se refazer de uma surra dessas.
Durante anos nos arrogamos ser inquestionavelmente os melhores, os abençoados pelos deuses do esporte mais popular e mais amado do planeta.
Mesmo dolorosas derrotas eram atribuídas à falta de sorte, a um errinho bobo na preparação, a fatalidades desculpáveis que não chegavam a arranhar nossa posição de primazia.
No fundo no fundo nunca éramos derrotados.
No máximo caímos de pé ou fomos campeões morais.
Dentro do amadorismo festivo que caraterizou a gestão do nosso futebol, o culpado era sempre a falta de talentos ou de comando, mas nunca o esgotamento de um modelo.
Agora, sem uma geração de craques para disfarçar nossa falência, enfim acordamos da letargia para reconhecer que ficamos para trás.
O futebol evoluiu e carregou com ele os que cedo se aperceberam e se adaptaram.
Há tempos que ele é um esporte muito mais físico, coletivo e principalmente, organizado.
Dizer que seu sucesso depende de vários fatores, principalmente fora do campo, é insistir em algo que está evidente há muito tempo.
Essa quebra de paradigma e troca de guarda acontece o tempo todo, em todos os aspectos da vida.
Às vezes não queremos aceitar que nosso jeito de pensar não é mais imperioso em uma determinada atividade, que não somos mais o exemplo a ser respeitado e seguido.
As mudanças são mais facilmente aceitas em atividades onde elas são a essência, como a área de tecnologia.
Mas são de assimilação mais lenta num terreno onde a solução se fiou sempre na improvisação, na figura do herói capaz de na dificuldade sacar da cartola um gol mágico e salvador.
Por isso custamos a acreditar que a casa caiu.
Insistimos nos remédios do paternalismo e da linha dura, representados por técnicos de repertório tacanho como Felipão e Dunga.
Não que o Tite irá resolver tudo sozinho.
Ele é apenas a peça principal de uma engrenagem que precisa ser inteiramente recomposta.
Como a gente às vezes necessita refazer toda a rota para chegar a um destino desconhecido.
De preferência sem ter que levar um 7 a 1 pra recomeçar.
Sobre "O cavalo de Turim"
Os filmes ditos de arte são assim chamados porque deles podemos esperar um outro tipo de experiência: a contemplação.
Não que não existam filmes que se sobressaiam pela narrativa e que sejam também igualmente belos.
Mas existe um tipo de filme onde o que interessa é a experiência estética e como ela aguça nossos sentidos.
É isso que senti ao assistir "O cavalo de Turim", do cineasta húngaro Béla Tarr.
Existe sim uma narrativa, aliás uma cronologia bem demarcada por passagens de dias.
É a história do cotidiano duro de um homem e sua filha, que vivem numa casinha isolada de uma inóspita e árida região do interior, que não é de Turim como o título do filme poderia sugerir.
O que na verdade recrudesce a sensação de isolamento é o vento frio incessante durante todo o filme, que incomoda os protagonistas e uiva o tempo todo na tela, como uma metáfora do fim dos tempos.
Não se vê nenhuma plantação ou criação de gado.
O sustento vem de pequenos negócios que o pai trata em suas viagens de carroça puxado por um cavalo que também é personagem do filme.
De repente, aquela realidade que já é precária, começa a degringolar, tirando os personagens da sua "zona de desconforto".
O que era o fim do mundo tolerável agora não será mais. Ou será?
Bem, respostas ao final do filme.
Que vale, como sugeri no começo, pela beleza da fotografia.
Não que não existam filmes que se sobressaiam pela narrativa e que sejam também igualmente belos.
Mas existe um tipo de filme onde o que interessa é a experiência estética e como ela aguça nossos sentidos.
É isso que senti ao assistir "O cavalo de Turim", do cineasta húngaro Béla Tarr.
Existe sim uma narrativa, aliás uma cronologia bem demarcada por passagens de dias.
É a história do cotidiano duro de um homem e sua filha, que vivem numa casinha isolada de uma inóspita e árida região do interior, que não é de Turim como o título do filme poderia sugerir.
O que na verdade recrudesce a sensação de isolamento é o vento frio incessante durante todo o filme, que incomoda os protagonistas e uiva o tempo todo na tela, como uma metáfora do fim dos tempos.
Não se vê nenhuma plantação ou criação de gado.
O sustento vem de pequenos negócios que o pai trata em suas viagens de carroça puxado por um cavalo que também é personagem do filme.
De repente, aquela realidade que já é precária, começa a degringolar, tirando os personagens da sua "zona de desconforto".
O que era o fim do mundo tolerável agora não será mais. Ou será?
Bem, respostas ao final do filme.
Que vale, como sugeri no começo, pela beleza da fotografia.
Anote o número
Dizem que o número de protocolo é instrumento importante em defesa do consumidor.
Fiquei imaginando se esse trâmite burocrático atravessasse a esfera comercial e viesse a burocratizar as relações de confiança entre as pessoas.
Como uma esposa ou namorada a protocolar uma reclamação numa D.R. - coisa que elas já o fazem, em seu HD interno de memória infinita.
Ou um jogador de pelada protocolando um penalti não marcado.
Ou um vizinho emitindo um documento reclamando da música alta depois do horário do psiu.
Na verdade o protocolo é necessário num país como o Brasil, onde muitas vezes se passa por cima do direito do consumidor, o que nos deixa sempre com um pé atrás na relação com as empresas.
Mas nunca lhe pareceu que essa formalidade também é uma tentativa dessas empresas de se passaren por íntegras, quando a lisura deveria ser a prática comum?
Todo aquele discurso de que o departamento jurídico vai analisar e tomar as providências cabíveis, blá, blá, blá parece reafirmar o que do lado de cá desconfiamos, que estamos sendo iludidos por uma falsa cordialidade de quem na verdade quer nos foder.
Por isso, nas relações comerciais como nas reclamações da vida, não deveríamos ter que protocolar nada.
As contendas deveriam ser arbitratadas pelo bom senso, mas não é o que acontece.
Prevalece a lei do mais forte, a de quem pode mais, a de quem grita mais, e por aí vai.
O resto é mera formalidade.
Fiquei imaginando se esse trâmite burocrático atravessasse a esfera comercial e viesse a burocratizar as relações de confiança entre as pessoas.
Como uma esposa ou namorada a protocolar uma reclamação numa D.R. - coisa que elas já o fazem, em seu HD interno de memória infinita.
Ou um jogador de pelada protocolando um penalti não marcado.
Ou um vizinho emitindo um documento reclamando da música alta depois do horário do psiu.
Na verdade o protocolo é necessário num país como o Brasil, onde muitas vezes se passa por cima do direito do consumidor, o que nos deixa sempre com um pé atrás na relação com as empresas.
Mas nunca lhe pareceu que essa formalidade também é uma tentativa dessas empresas de se passaren por íntegras, quando a lisura deveria ser a prática comum?
Todo aquele discurso de que o departamento jurídico vai analisar e tomar as providências cabíveis, blá, blá, blá parece reafirmar o que do lado de cá desconfiamos, que estamos sendo iludidos por uma falsa cordialidade de quem na verdade quer nos foder.
Por isso, nas relações comerciais como nas reclamações da vida, não deveríamos ter que protocolar nada.
As contendas deveriam ser arbitratadas pelo bom senso, mas não é o que acontece.
Prevalece a lei do mais forte, a de quem pode mais, a de quem grita mais, e por aí vai.
O resto é mera formalidade.
segunda-feira, 13 de junho de 2016
Saia à direita, por favor
Um belo dia amanhece assim, mais um grande belo dia.
Mas você nem repara.
Acorda de cara amarrotada, meio de ressaca, reclamando de dorzinhas nas juntas.
Demora pra se levantar, pra vestir sua roupa, então fica só com tempo pra engolir o café e sair.
Bota a moto na trilha que se perde no horizonte, um cenário de cinema.
Mas mal começa a jornada do dia e já começa a reclamar dos solavancos dos buracos, na engrenagem que faz um ruído chato e quando percebe, já está pensando banheira quente que irá te acolher na próxima estalagem.
Se eu entendesse de moto e de trilha, isso poderia ser um relato de um motoqueiro cansado.
Mas estou falando de outra coisa.
Me refiro a cansaço, esgotamento, de projetos de vida.
Lembra quando você ficou tão feliz de enfim encontrar uma trilha especial, que lhe prometia levar aos jardins de delícias que papai noel prometeu pra você?
Ok, com o tempo você percebeu que se manter na trilha era menos prazeroso e mais trabalhoso, às vezes além da conta.
Mas tudo bem, você estava ali em cima da sua moto, achando o máximo em bancar o herói da sua jornada particular, e nem se importava que no fundo ninguém estivesse dando a mínima.
Foram meses, às vezes anos para aprender a dominar o ofício, entremeados por algumas glórias, alguns troféus por bom desempenho no percurso.
Até que você nem percebe, mas não está mais acelerando a máquina por prazer.
Começa a olhar não para cima, mas para baixo, e o medo de cair fica maior que o de fazer uma curva linda.
Repara demais nas outras motos que surgem no retrovisor, como se isso de outros te ultrapassarem não fora sempre normal, mas agora em vez de encarar como motivação você fica incomodado.
Tem alguma coisa errada, então você pára a moto.
Escuta o ruído do vento, que joga os seus cabelos pra lá e pra cá e, pelo jeito, não indica direção alguma.
Admita, você não é mais o mesmo.
O brilho dos seus olhos parece agora enevoado pelo poeira do ar.
Sua moto é um corpo estranho para você, e você para ela.
E agora, o que fazer?
Dar meia-volta?
Correr feito louco até que um acidente ou um motor fundido o faça parar?
Melhor deixar a motor ali e pedir uma carona.
Pra aonde for.
Mas você nem repara.
Acorda de cara amarrotada, meio de ressaca, reclamando de dorzinhas nas juntas.
Demora pra se levantar, pra vestir sua roupa, então fica só com tempo pra engolir o café e sair.
Bota a moto na trilha que se perde no horizonte, um cenário de cinema.
Mas mal começa a jornada do dia e já começa a reclamar dos solavancos dos buracos, na engrenagem que faz um ruído chato e quando percebe, já está pensando banheira quente que irá te acolher na próxima estalagem.
Se eu entendesse de moto e de trilha, isso poderia ser um relato de um motoqueiro cansado.
Mas estou falando de outra coisa.
Me refiro a cansaço, esgotamento, de projetos de vida.
Lembra quando você ficou tão feliz de enfim encontrar uma trilha especial, que lhe prometia levar aos jardins de delícias que papai noel prometeu pra você?
Ok, com o tempo você percebeu que se manter na trilha era menos prazeroso e mais trabalhoso, às vezes além da conta.
Mas tudo bem, você estava ali em cima da sua moto, achando o máximo em bancar o herói da sua jornada particular, e nem se importava que no fundo ninguém estivesse dando a mínima.
Foram meses, às vezes anos para aprender a dominar o ofício, entremeados por algumas glórias, alguns troféus por bom desempenho no percurso.
Até que você nem percebe, mas não está mais acelerando a máquina por prazer.
Começa a olhar não para cima, mas para baixo, e o medo de cair fica maior que o de fazer uma curva linda.
Repara demais nas outras motos que surgem no retrovisor, como se isso de outros te ultrapassarem não fora sempre normal, mas agora em vez de encarar como motivação você fica incomodado.
Tem alguma coisa errada, então você pára a moto.
Escuta o ruído do vento, que joga os seus cabelos pra lá e pra cá e, pelo jeito, não indica direção alguma.
Admita, você não é mais o mesmo.
O brilho dos seus olhos parece agora enevoado pelo poeira do ar.
Sua moto é um corpo estranho para você, e você para ela.
E agora, o que fazer?
Dar meia-volta?
Correr feito louco até que um acidente ou um motor fundido o faça parar?
Melhor deixar a motor ali e pedir uma carona.
Pra aonde for.
Li-lo porque qui-lo.
À parte tudo que dizem sobre um bom livro, sobre ser uma ótima companhia para a reflexão, dar ensinamentos para a vida, ajudar a pensar, um ótimo benefício de ler é conseguir escrever melhor.
Não que lendo você vá se tornar um Joyce ou um Mann, mas com certeza vai superar em muito aquele escritor que você foi quando fez a prova de redação do vestibular.
Ok, você pode pensar que se expressar melhor é o curso natural da vida depois de ser exposto a tanta revista, jornal, internet e reuniões de board.
Mas não.
Escrever bem exige prática, inclusive de muita leitura.
A verdade é que o cérebro, como todo músculo, precisa exercitar a conexão entre o pensamento e os dedos que digitam numa página em branco.
Daí a força da leitura, que se não é o exercício de escrever em si, funciona como um simulacro dele, só que, dependendo dos autores que você escolhe, em alto nível.
Então o seu cérebro vai procurar mimetizar aquelas milhares de páginas que você acha que não gravou, mas que estão em algum corredor da biblioteca que é o seu cérebro.
Provavelmente você não chegará a reproduzir as construções complexas dos grandes autores, mas de alguma maneira os dedos vão seguir uma lógica aprendida com esses gênios.
O prazer da escrita irá aumentar à medida que você conseguir fazer do seu texto um espelho cada vez mais próximo dos seus pensamentos.
Se ainda suceder que você consiga acrescentar elementos estilísticos, e fazer disso uma marca registrada, tanto melhor, é esse o objetivo do escritor, encontrar sua própria voz.
Tudo bem se o seu texto ainda não estiver à altura das suas aspirações.
Talvez você não tenha encontrado a sua voz.
Talvez ainda não consigue estruturar devidamente os pensamentos.
Só não desista de escrever.
E de ler.
Todos os dias.
Não que lendo você vá se tornar um Joyce ou um Mann, mas com certeza vai superar em muito aquele escritor que você foi quando fez a prova de redação do vestibular.
Ok, você pode pensar que se expressar melhor é o curso natural da vida depois de ser exposto a tanta revista, jornal, internet e reuniões de board.
Mas não.
Escrever bem exige prática, inclusive de muita leitura.
A verdade é que o cérebro, como todo músculo, precisa exercitar a conexão entre o pensamento e os dedos que digitam numa página em branco.
Daí a força da leitura, que se não é o exercício de escrever em si, funciona como um simulacro dele, só que, dependendo dos autores que você escolhe, em alto nível.
Então o seu cérebro vai procurar mimetizar aquelas milhares de páginas que você acha que não gravou, mas que estão em algum corredor da biblioteca que é o seu cérebro.
Provavelmente você não chegará a reproduzir as construções complexas dos grandes autores, mas de alguma maneira os dedos vão seguir uma lógica aprendida com esses gênios.
O prazer da escrita irá aumentar à medida que você conseguir fazer do seu texto um espelho cada vez mais próximo dos seus pensamentos.
Se ainda suceder que você consiga acrescentar elementos estilísticos, e fazer disso uma marca registrada, tanto melhor, é esse o objetivo do escritor, encontrar sua própria voz.
Tudo bem se o seu texto ainda não estiver à altura das suas aspirações.
Talvez você não tenha encontrado a sua voz.
Talvez ainda não consigue estruturar devidamente os pensamentos.
Só não desista de escrever.
E de ler.
Todos os dias.
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