"O beijo", o quadro mais famoso de Gustave Klimt, pintor de quem sou fã, tive o privilégio de ver ao vivo na minha visita ao Palácio Belvedere em Viena.
Na verdade não vi, pois fiquei obcecado em "roubar" uma foto de lembrança infringindo as regras do museu, naquele que era para ser um momento mágico pra mim - sempre fico meio abobado, mistura de fascínio e decepção, quando me deparo com obras de arte que admiro à distância, pelos livros.
Mas de mágico a ocasião não teve nada, visto que perdi a oportunidade de apenas sentir o quadro, e de quebra a foto ficou desfocada.
Não foi uma selfie, mas teve o caráter exibicionista de uma, embora não a tenha postado.
Mais tarde, fazendo uma auto-análise, acho que foi um ato de falta de romantismo.
Isso mesmo, falta de romantismo.
O romantismo que faltou quando permiti que o momento único de contemplar uma obra-prima fosse maculado pelo registro besta de uma foto. Que só serve ao exibicionismo do "check-in" nas redes sociais.
Cadê a admiração ao artista? O encantamento com a obra de arte?
Saindo da esfera artística, verificamos que a tal falta de romantismo é generalizada, fruto da nossa maior devoção ao apelos da vaidade e do mercado de consumo.
Assim vemos o dinheiro se sobrepor ao sentimento nos esportes, em especial no futebol, onde os jogadores não sentem mais o chamado "amor à camisa" já faz tempo.
Nas empresas, em que a qualidade muitas vezes se subordina à guerra de preços.
No amor em si, onde pessoas são expostas como mercadorias em aplicativos de relacionamento.
No ato de gentileza, não apenas de um homem que abre uma porta para sua namorada, mas de humano para humano independente de gênero.
Nos ideais da juventude, onde... bem, não sabemos onde isso está mais.
Porque hoje o que conta é ser esperto, certo mano?
Nada de sentimentalismo, tampouco idealismo.
Pena.
Deveríamos nos curvar à antiga visão romântica, quando fazíamos as coisas com gosto.
Como faz o homem se curvando sobre a mulher amada no quadro de Klimt, formando com ela a unidade que simboliza o segredo do bem viver: a integração de razão e emoção, essas nossas duas metades indissociáveis.
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