segunda-feira, 6 de junho de 2016

Paixões

Ontem meu amigo estava contestando o amor que tenho pelo meu time, dizendo que paixão por futebol não passa de sublimação de recalcado.
Bom, eu não pertenço a uma torcida organizada e nem saio quebrando tudo e todos por aí - e veja bem, acredito que uma boa parte dos integrantes dessas facções não faça isso.
O que suscitou essa discussão era o fato de eu ter ido a um jogo de futebol em vez de a um bar encontrar esse amigo e mais outros para "galinhar".
Concordo que "galinhar" seja prioridade para um solteiro como eu, ainda mais nesse friozinho onde a orelha fica me sussurrando pedindo um cobertor.
Mas isso não quer dizer que eu tenha que exercer sempre essa prioridade.
Também não devemos confundir as paixões.
Uma coisa é a paixão amorosa, algo que realmente mexe com a gente, muda vidas e destinos, e por isso é cantado em verso e prosa em tudo que é ritmo que você imaginar.
Ninguém duvida que a paixão amorosa tem uma força avassaladora sobre nós e que é a grande busca de bilhões de corações solitários espalhados pelo mundo.
Mas o que eu estava tentando dizer ao meu amigo é que outros interesses podem sim ser considerados paixões.
No caso do futebol, seu encantamento me pegou muito menino e me mantém refém até os dias de hoje.
Imagine que desde cedo meu pai me levava para ver jogos no estádio toda quarta e domingo.
Me atraía com pipoca, sorvete e amendoim até eu ficar definitivamente hipnotizado pela entrada do time da cidade no gramado verde reluzente sob fortes holofotes.
Meu pai foi diretor desse time e nesse tempo eu acompanhei de perto os bastidores do futebol profissional, que se comparado ao que é hoje, era bem amador.
Eu já jogava futebol o dia inteiro com o pessoal da vizinhança, inclusive em campos de várzea que perto de casa tinha pelo menos dois.
Some-se a isso toda a atmosfera que respirava por acompanhar meu pai nas concentrações, vestiários, jogos de dentro de campo, enfrentando grandes equipes do país, e você poderá entender como é minha relação com o futebol.
No fundo minha paixão pelo futebol também é meu amor pelo meu pai.
Por isso considero que numa vida tão vasta e diversificada cabem sim trocentas paixões, que assim como as amorosas, podem durar pouquíssimo ou para sempre.
Tem a paixão pela profissão, pelas artes, viagens, hobbies, animais de estimação, o que você imaginar.
Eu já quis ser padeiro, dançarino, surfista, guitarrista, batuqueiro, ator, desenhista, fotógrafo, tive uma infinidade de intereses que às vezes viraram pó em questão de semanas.
Se foram paixões? Às vezes só um interesse mesmo, mas sempre um flerte com a paixão.
É isso que a paixão é, um flerte com a vida.
Com a capacidade infinita da vida nos encantar de repente, virando uma esquina.
Estar vivo é sair andando por aí com o coração aberto pela possibilidade do próximo encantamento.
Por alguém especial ou qualquer coisa que nos faça sentir mais vivos.

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