terça-feira, 21 de junho de 2016

O ringue da rivalidade

Uma das coisas que mais me encantam como turista é a história local.
Não que eu morra de amores por um guia - prefiro o de papel ao de carne e osso - mas para mim o turismo não seria o mesmo sem os condimentos dos fatos históricos por trás do sítio visitado.
Mesmo em cidades como Roma, onde o currículo escolar pressupõe um conhecimento básico, a gente sempre se surpreende com alguma curiosidade pitoresca aprendida in loco.
No caso refiro-me à Piazza Navona, considerada um dos maiores ícones do barroco italiano.
A Navona, que antes abrigou o antigo estádio de Domiciano, foi palco de um embate entre uma das maiores rivalidades à época de sua construção, entre Bernini e Borromini.
Não se trata aqui de gladiadores, mas de renomados arquitetos que rivalizavam a preferência do papa na tarefa de adornar Roma com suas obras barrocas.
Pois corre à boca pequena - a local, não aquela que leva a Roma - que a Navona literalmente concretizou a antipatia mútua entre o bem relacionado Bernini e tímido Borromini.
Ao primeiro coube o privilégio de erigir a belíssima Fonte dos Quatros Rios (Fontana dei Quattro Fiumi), que fica no centro da praça e monopoliza as atenções.
Ao segundo, a igreja de Santa Agnese in Agone, bem em frente à fonte.
Segundo a lenda, Bernini não perdeu a chance de tirar uma casquinha de seu colega, construindo na fonte uma "gracinha" alusiva à igreja do rival.
Especula-se que a posição curvada de uma das estátuas em relação à igreja, com a mão à frente do rosto como se protegendo dela (vide as fotos abaixo), é uma insinuação de Bernini de que a igreja pudesse cair e atingí-la, sugerindo a pouca confiabilidade do trabalho de Borromini.
Eu sempre achei que o turismo é fascinante porque é quase impossível não se encantar com qualquer lugar novo minimamente interessante.
Mas se ao impacto da novidade do lugar se soma histórias pitorescas assim, daí viajar se torna irresistível.
Fonte dos Quatro Rios em frente à igreja de Santa Agnese in Agone
Detalhe da estátua se protegendo de uma "possível queda" da igreja. Ou, quem sabe, de sua feiúra arquitetônica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário