Berlim foi pra mim uma surpresa agradável.
Era uma cidade bem recomendada, tanto por amigos como por matérias de revistas, que elogiavam sua contemporaneidade e efervescência, decorrentes de uma reconstrução pós-guerra.
Foi exatamente isso que encontrei, uma capital européia diferente por não possuir um centro histórico "engolido" pela cidade nova, mas um divisão de conotação política entre leste e oeste.
Que também pode ser interpretada como entre passado e futuro, romantismo e pragmatismo.
A lembrança nazista permeia toda a cidade, em memoriais e museus que não deixam nos esquecer de nada, como se o passado negro fosse uma conta que não fecha para os alemães.
Em meio à contemplação da cidade, que ao sombrio memorial nazista contrapõe mostras de boa receptividade, imaginei se Berlim não seria uma boa metáfora do ser humano.
O muro não está mais lá, só alguns trechos explorados pelo turismo, mas isso até ajuda a analogia.
Assim como Berlim, não temos em nós uma demarcação clara de territórios.
O bem e o mal não estão claramente delimitados.
Nossa racionalidade e irracionalidade convivem e dividem nossos corações e mentes.
A vontade de passar por cima do passado é tão forte quando a de preservâ-lo - até para não esquecer o que nos trouxe aqui, como Berlim.
Pensando por esse viés, consigo entender porque fiquei tão encantado por Berlim, apesar de ser uma cidade tão sui generis entre as capitais européias.
É que, para mim, à parte seus museus interessantes, seus charmosos e descolados antigos bairros comunistas e suas baladas eletrônicas de vanguarda, Berlim conquista por sua anarquia.
Uma anarquia não premeditada que encontra correspondência com nosso íntimo, onde valores e opiniões antagônicos por vezes se fundem, nos tornando um caldo interessante de influências como é a capital alemã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário