Dizem que a oportunidade só tem cabelo na frente.
Mas como era farta a cabeleira dessa oportunidade que tantas vezes deixei passar por mim num vagão de metrô.
Chamava-se Vivian.
Ou pelo menos é o nome que eu ouvi sob a gravação da mulher anunciando a próxima estação.
Meu parco conhecimento do objeto de minha devoção deve-se a uma timidez crônica, que é agravada por fatores como multidão e a pressão do tempo.
Esses dois elementos combinados faziam como que eu sempre travasse na tentativa de abordar Vivian, entre a estação que eu subia e a que ele descia do trem.
Já no embarque era sempre aquele sufoco, pois eu tinha que estar sempre no mesmo horário, estrategicamente postado na plataforma da estação num lugar de onde eu pudesse identificar o vagão dela. E na sequência, sair em desabalada carreira para embarcar em seu carro.
Nas vezes em que isso deu certo, eu procurava me aproximar de Vivian pé ante pé, pedindo licença a mal humorados e amanhecidos passageiros, só estacando ao adentrar seu indubitável campo de visão.
Ela também era tímida como eu, e isso elevava em muito minha dificuldade de aproximação.
Eu sempre ensaiava a próxima frase sedutora durante quase todo o percurso do trem, porque invariavelmente ela ficava engasgada e só conseguia ser "cuspida" para fora momentos antes do desembarque da garota.
Era um galanteio a prestações que não evoluía, sempre recomeçado, como seu vivesse meu dia da marmota particular.
Levou semanas para estabelecer contato visual.
Meses para arrancar um sorriso.
Outras léguas para dizer um singelo bom dia.
Quando enfim ela me disse seu nome, Vivian, eu fiquei tão enternecido pelo soar daquele nome mágico, que não percebi que a garota já tinha saltado.
Qual não foi meu desespero quando nos dias seguintes não testemunhei mais o esgueirar de seu corpo no labirinto de passageiros, até ocupar o espaço que sempre lhe parecia reservado.
Muito tempo se passou quando, ocasionalmente tomando a linha vermelha, avistei novamente a minha Vivian.
Corri para entrar no seu vagão, mas de tão lotado não consegui me aproximar a tempo, e só percebi que ela havia saltado depois que o trem já partira.
Voltei para lá no mesmo horário mais algumas vezes, para descobrir se sua aparição fora acaso ou rotina.
Qual não foi minha felicidade ao avistá-la, sem ainda conseguir me apresentar.
Como soubesse que a aproximação seria processo demorado, pedi demissão de meu emprego e arrumei outro que me colocou novamente na rota de minha amada.
Nem me pergunte quantas viagens eu levei para anotar seu número de telefone inteiro.
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