segunda-feira, 13 de junho de 2016

Saia à direita, por favor

Um belo dia amanhece assim, mais um grande belo dia.
Mas você nem repara.
Acorda de cara amarrotada, meio de ressaca, reclamando de dorzinhas nas juntas.
Demora pra se levantar, pra vestir sua roupa, então fica só com tempo pra engolir o café e sair.
Bota a moto na trilha que se perde no horizonte, um cenário de cinema.
Mas mal começa a jornada do dia e já começa a reclamar dos solavancos dos buracos, na engrenagem que faz um ruído chato e quando percebe, já está pensando banheira quente que irá te acolher na próxima estalagem.
Se eu entendesse de moto e de trilha, isso poderia ser um relato de um motoqueiro cansado.
Mas estou falando de outra coisa.
Me refiro a cansaço, esgotamento, de projetos de vida.
Lembra quando você ficou tão feliz de enfim encontrar uma trilha especial, que lhe prometia levar aos jardins de delícias que papai noel prometeu pra você?
Ok, com o tempo você percebeu que se manter na trilha era menos prazeroso e mais trabalhoso, às vezes além da conta.
Mas tudo bem, você estava ali em cima da sua moto, achando o máximo em bancar o herói da sua jornada particular, e nem se importava que no fundo ninguém estivesse dando a mínima.
Foram meses, às vezes anos para aprender a dominar o ofício, entremeados por algumas glórias, alguns troféus por bom desempenho no percurso.
Até que você nem percebe, mas não está mais acelerando a máquina por prazer.
Começa a olhar não para cima, mas para baixo, e o medo de cair fica maior que o de fazer uma curva linda.
Repara demais nas outras motos que surgem no retrovisor, como se isso de outros te ultrapassarem não fora sempre normal, mas agora em vez de encarar como motivação você fica incomodado.
Tem alguma coisa errada, então você pára a moto.
Escuta o ruído do vento, que joga os seus cabelos pra lá e pra cá e, pelo jeito, não indica direção alguma.
Admita, você não é mais o mesmo.
O brilho dos seus olhos parece agora enevoado pelo poeira do ar.
Sua moto é um corpo estranho para você, e você para ela.
E agora, o que fazer?
Dar meia-volta?
Correr feito louco até que um acidente ou um motor fundido o faça parar?
Melhor deixar a motor ali e pedir uma carona.
Pra aonde for.

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