terça-feira, 7 de junho de 2016

20.000 léguas sobreoceânicas

Nada melhor para o cérebro e o coração do que perder referências numa viagem.
No afã de vencer um dia após o outro, com a única perspectiva de um fim de semana pela frente, às vezes nos pegamos enredados pela vida.
De repente estacamos.
Perdemos referências, nos pegamos com a bússola interna desregulada.
Pra que mesmo a correria?
Concordo que nesse momento de crise econômica, seja pela sobrevivência.
Mas e a sobrevivência da alma, dos sonhos, dos ideais?
Ah, a geração de hoje não tem mais ideologias, correm atrás da próxima promessa de satisfação imediata.
Pode até ser, mas dou um desconto pela juventude.
Todo mundo chega à idade do balanço, que pode acontecer aos 30, 40 ou 70.
E com o perdão do trocadilho, não tem lugar melhor para o balanço do que a cabine de um avião.
Que de preferência consiga "teletransportar" você para outro planeta dentro do nosso.
O que chamo de outro planeta? Lugares em que você esteja mais próximo de um alien, onde o seu código cultural, as referências do dia-a-dia se percam o máximo possível.
Como um país africano sem safaris, fora do roteiro das operadoras; ou um país asiátco onde os apelos ao turista ocidental ainda não chegaram; ou a uma praia brasileira quase virgem, que ainda não foi descoberta pelos chamados "descolados".
E quando é mais salutar fazer essa viagem?
Dizer que em momentos de transição como fim de relacionamentos, demissão ou troca de emprego, períodos sabáticos ou antes de começar uma faculdade, é chover no molhado - e ir pra Ubatuba não adianta.
Na verdade recomendo viagens como santo remédio mesmo que nenhum "mal" tenha sido diagnosticado.
É que nosso termômetro tem dificuldade em detectar sintomas que não sejam uma evidente febre.
Por exemplo, a bagunça interna crônica.
A rotina em cidade grande vai fazendo pequenos depósitos na nossa já grande poluição mental e quando percebemos, o efeito estufa já se instalou.
É como se internamente já usássemos máscara de oxigênio.
Por isso ninguém acha tão anormal os ataques de pãnico ou depressão.
Está todo mundo respirando a atmosfera insalubre da competitividade, crise, necessidade de pagar as contas e as dívidas.
Mas é mais difícil perceber como tudo isso nos espreme contra a parede, nos fazendo esquecer que não somos feito da mesma matéria dos boletos.
Queremos mais que isso, ainda que não saibamos definir o que seja, porque sonhos são feitos de matéria volátil.
Mas se tem um remédio que costuma funcionar é uma viagem, se preferência para destino mais fora de padrão possível.
Destino imprevisível até soa como uma metáfora da vida.
Para quem está enjoado da rotina, nem o dramin nem o conhecido e esperado fazem efeito.
O melhor remédio é embarcar para um lugar onde o seu GPS interior entre em parafuso, o mais longe possível das suas falsas seguranças.

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