Lembro do cair da tarde de domingo na minha infância, onde a volta à rotina na segunda-feira era anunciada pela sinfonia melancólica do musiquinha do Fantástico.
Para quem ainda era criança e vivia na fantasia do prazer eterno, ser interrompido pelo prenúncio da semana era quase uma tragédia.
Hoje vejo como criança é mimada.
Além de estudar apenas meio período, eu tinha de 3 a 4 meses de férias anuais, o que seria um luxo até para um funcionário público marajá.
Brincar era prioridade do dia - jogava bola todas as tardes - e o resto entrava apenas para preencher agenda.
Mas depois que a gente cresce e vira "trabalhador", tudo se inverte.
Percebemos o quanto éramos felizes na nossa ignorância de criança.
O trabalho passa a absorver quase todo o nosso tempo e as horas vagas quase sempre são preenchidas com obrigacões sociais, principalmente com a família.
O pouco de tempo pra você mesmo, muitas vezes acaba ocupado com investimento na própria carreira, como num esporte para desestressar ou num curso de reciclagem.
Dizem que nossa aversão à segunda-feira é amenizada e até anulada quando encontramos nossa vocação e o trabalho passa a ser confundir com prazer.
Ok, mas voltando aos primórdios da vida, não lembro de ter que confundir nada com nada para ser feliz.
Brincar não era meu trabalho, até porque não tinha horário, chefe nem tarefas com prazo.
O que mais se aproximava disso era a lição de casa.
Brincar, embora pudesse ter hierarquia, pagava a todos com prazer igualmente.
Muitas vezes, quem recebia menos "trabalho" na brincadeira era quem reclamava.
Brincar era tão importante que se sobrepunha a coisas menos importantes, como comer.
Por isso não misturemos as coisas.
A gente pode sim encontrar um trabalho pra fazer com muito prazer.
Mas até aí há uma distância entre trabalhar e brincar, pelo menos o brincar da nosso infância.
Brincar era algo sagrado, que a gente não queria que fosse interrompido por nada, muito menos por uma segunda-feira.
Tão importante que às brincadeiras era destinado pelo menos meio dia, todo dia.
E quando tirávamos férias, era para brincar ainda mais, então não podia ser trabalho, mesmo.
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