quarta-feira, 15 de junho de 2016

Tirar da gaveta

Hoje me entreguei à homérica tarefa de limpar uma gaveta de documentos.
Checar a importância de cada papel e descartar o inútil, lembram o que é isso?
Leva horas, graças àquele medinho de precisar daquele pedaço de papel que tencionamos jogar - isso raramente acontece.
No meio da papelada, encontro toda sorte de inutilidade, que dá até raiva de não ter me livrado logo que veio parar na minha vida: botões de reposição de peças de roupa, moedas nacionais e estrangeiras, chaves que você nem sabe mais o que abrem, celulares velhos, carregadores, fones de ouvido, cartões de todos os tipos, inclusive os de visita, cheques de contas que você nem tem mais, recibos, certificados de garantia, ufa.
Tudo isso faz entender que é a gente que complica o viver, inventando todo tipo de garantias quando na realidade não há nenhuma.
É isso, viver não tem garantias.
Talvez esse hábito de guardar o "importante" acabe incutindo em nós a necessidade de que todos os nossos passos precisam ser medidos, planejados, documentados.
Pode ser que fiquemos inconscientemente menos propensos ao risco, ao novo, aos saltos sem rede.
Quem sabe até a necessidade de limpar a gaveta tenha a ver com isso: a vontade de vencer o marasmo, vasculhando nosso passado e percebendo o quanto as garantias de nada valem.
Afinal, que percentual daquela papelada você precisou de fato consultar depois? 1%, se muito.
Eu sei, o "vai que" e o "seguro morreu de velho" insistem em manter nosso pézinho lá atrás sempre que ousamos querer dar um passo maior que a perna.
Mas não é disso que são feitos os sonhos?
Mais do que de passos, de largos saltos triplos?
Sim, projetos são isso.
Devaneios rascunhados, idealizados, feitos para ser grandiosos.
Nada a ver com a chatice dos contratos, notas, relatórios, etc.
Por isso não basta tirar o projeto da gaveta.
Também é preciso desocupá-la de todas as nossas crenças negativas, que impedem os sonhos de ganhar asas.
Jogar fora tudo de que não precisamos mais.
E assim, acomodar o novo.

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